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Aramis

Deu a louca em Spielberg

A impressão que se tem ao assistir << 1941 >> (Cines Vitória e Bristol, ainda hoje em exibição) é de que após realizar o interessante << Encontros Imediatos do Terceiro Grau >>, em 1977, Steven Spielberg, 34 anos, 11 de cinema, se propôs a um << relax >>. E, assim, partindo de uma boa idéia, sugerida por seu colega de geração cinematográfica, o roteirista-diretor John Milius, pretendeu uma revisão da comédia-pastelão. Em 1963, Stanley Kramer, então com 50 anos, havia realizado uma sátira deliciosa a ganância humana em << Deu a Louca no Mundo >> (It`s A Mat, Mat, Mat World): dezenas de pessoas em busca de uma fortuna escondida, provocando as mais incríveis situações. Praticamente, um esquema semelhante - só que em << 1941 >>, tendo por tema a histeria coletiva, frente a um ataque de um velho submarino japonês a Los Angeles, uma semana após o ataque a Peral Harbor (dezembro de 1941) - faz com que Spielberg tente o gênero do humor. Uma sucessão de equívocos, montados apressadamente, para levar o grande público ao riso fácil - não conseguem dar a este << 1941 >> o destaque que seria de se esperar de um cineasta do vigor criativo de Spielberg. Auto-satirizando-se já na primeira cena - a moça nadando nua na praia deserta, á noite, é surpreendida com a emersão do submarino japonês, que a suspende no periscópio - é clara referência a abertura de << Tubarão >> (Jaws, 73), que lhe abriu as portas do sucesso. A partir deste momento, uma série de quadros se sucedem, com personagens se interligando em situações ridículas, em busca de um humor direto, de efeito - na melhor linha dos clássicos filmes de Mack Sennet (1880-1960), o maior produtor de comédias do cinema mudo e criador do chamado << estilo Keystone >>. Para quem prefere o humor mais cerebral, inteligente - de um Woody Allen, por exemplo - por certo que << 1941 >> decepcionará: a forma que Spielberg preferiu foi a do humor direto, destruidor e demolidor - no amplo sentido da palavra. Spielberg cria a situação, coloca os personagens em ação e parece deixá-los improvisando. Ao final, a sensação é de uma série de quadros soltos - que levam a muito riso mas, como diz o ditado, pouco sico. Utilizando poucos nomes famosos - Toshiro Mifune como o cariato comandante. Mitamura, Christopher Lee como o coronel nazista Von Kleinschmidt, Robert stack como o Genral Maddox - << 1941 >> traz, entretanto, excelentes coadjuvantes, como os veteranos Slin Pickens (impagável como Hollis Wood), um dos atores de mais longa carreira em papéis secundários no cinema americano, raramente valorizado como merece. S salada-russa, intencionalmente preparada por Spielberg, não esquece referências ao clássico << Dr. Fantástico >> (Dr. Stranglove, 1964, de Stanley Kubrick) ou, a personagem Joan Douglas - que se excita sexualmente apenas em aviões, nos remete a << Lingua Ardente >> que Sally Kellermann interpretava em << M. A. S. H. >> (1970, de Robert Altman), também uma sátira antimilitarista. A apreciação de << 1941 >> deve ser feita em conjunto, como um << divertimento >> que Spielberg se propôs a si - e ao público - enquanto fazia cenas adicionais para uma << segunda edição >> de << Clouses Encounters of the Third Kind >>, experiência nova em reciclar um mesmo filme - e que agora está sendo lançado nos Estados Unidos. Afinal, o jovem Spielberg é, antes de tudo, um brincalhão. De grande talento, aliás...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
20/07/1980

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