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Aramis

Deu no "New York Times": visão crítica do Brasil

Desde que se iniciou no jornalismo, quase na equipe de fundadores de O Estado do Paraná, o curitibano José Augusto Ribeiro, 50 anos, sempre revelou um notável equilíbrio entre o fino espírito de humor e a vocação política. Isto o fez, praticamente ainda adolescente, galgar posições na antiga redação deste jornal, no final dos anos 50, como editor de política, editorialista e, posteriormente, ser o principal assessor de Ney Braga em sua campanha que o levaria ao governo do Paraná há 29 anos passados. Jornalista antes de tudo, Zé Augusto - como sempre foi conhecido entre nós, nunca quis cargos públicos e manteve sempre sua independência profissional - mesmo quando assessorou políticos. Em 1962, a convite do então ministro Amaury Silva, do Trabalho, foi para o Rio de Janeiro, ali se fixando. A queda do governo Jango o fez se dedicar ainda mais ao jornalismo, chegando até a chefia-de-redação de O Globo cuja editoria política ocuparia posteriormente. Assessor de Tancredo Neves, foi o único jornalista a acompanhá-lo em sua viagem à Europa, após sua eleição, em 1984, mas nem por isso viria a obter cargos público. Ao contrário, fez - e continua fazendo o que sempre o conduziu: a informação (hoje, Zé está na televisão, na Rede Bandeirantes). Domingo, 19, José Augusto Ribeiro ganhou citação na reportagem nobre de colorida edição da The New York Times Magazine, sofisticada revista de 110 páginas, que acompanha a gordíssima edição dominical do mais famoso jornal nova-iorquino - e um dos mais influentes do mundo. xxx Uma análise de José Augusto Ribeiro sobre o espírito do carioca foi utilizada por seu colega Alex Shoumatoff, do staff do The New Yorker e autor de três livros sobre o Brasil, numa reportagem sobre o Rio de Janeiro ("Rio is the Carnival Over?"). Ilustrada com 4 fotos a cores e ocupando nada menos que 7 páginas, a reportagem de Shoumatoff é demolidora em relação ao Brasil, honesta no enfoque dos problemas mas que, obviamente, vai desagradar aos ufanistas - podendo provocar polêmicas. - "O típico carioca é um improvisador" - disse José Ribeiro ao seu colega Shoumatoff, assumindo a sua posição crítica de que tem, como jornalista, procurado "desmistificar a imagem de cartão postal" que é oferecida em torno do habitante do Rio. Disse mais o curitibano Ribeiro, hoje identificado de corpo e alma àquela cidade: - "O carioca é um ser antissistemático por causa do mar. O samba é a sua religião. Mas cada um tem a sua própria maneira de encarar a música e a vida." Para Ribeiro, "o carioca nada encara seriamente" - referindo-se ao espírito brincalhão em torno de todas as coisas, até mesmo a morte. "Mas ao mesmo tempo que pode ser satírico ao extremo pode também ser profundamente emocional e chorar na rua". xxx A reportagem do "The New York Times Magazine" de certa forma é um complemento na mídia escrita de uma reportagem que transmitida no programa "Sixty Minutes" pela Rede de TV CBS, na noite de domingo, 12, também mostrou imagens pouco turísticas do Brasil. O programa de televisão - das maiores audiências nos EUA - provocou grande repercussão, sendo difícil, nos dias de hoje, encontrar algum americano que, falando aos brasileiros (que não faltam em Nova York) deixasse de comentar as denúncias feitas no programa - problemas ecológicos, o assassinato de Chico Mendes, a dívida externa, violência e prostituição no Rio de Janeiro e, especialmente, a corrupção brasileira. Na reportagem "Rio is the Carnival over?" - irônica desde o título, aberta com uma belíssima foto noturna aérea do Rio de Janeiro, ocupando toda a página 46 do The New York Times Magazine, Alex Shoumatoff começa com uma síntese crítica, embora mostre sua simpatia para a cidade em que vive há muitos anos: "O carioca, como os nativos do Rio de Janeiro são conhecidos, têm maravilhosas qualidades - uma contagiante alegria de viver, um refinado senso de humor, a mais sofisticada e bela música popular do mundo, mas a habilidade para cuidar do dinheiro não está entre estas" (qualidades). Em seguida, o jornalista americano explica a razão do comentário: a falência da Prefeitura do Rio de Janeiro - um dos índices da crise financeira do país. Em seguida, num texto delicioso, repleto de informações, é dada uma visão do Rio de Janeiro - mas com citações que mostram a situação do próprio país, através de seus vários aspectos - cultural, social, econômico e político. Conhecendo a realidade brasileira - (não foi sem razão que já escreveu três livros sobre o nosso país) - Alex Shoumatoff vai fundo, recheando suas observações pessoais com declarações de pessoas de vários setores, o que o levou a colocar, inclusive, alguns pontos de vista de José Augusto Ribeiro. xxx Ao lado dos fatos concretos, Shoumatoff também aborda o pessimismo que caracteriza hoje os brasileiros em relação ao governo, citando, inclusive, trabalhos de um psicanalista (Jurandir Freire Costa), especialmente seu livro "Narcisismo numa Era Negra" - estabelecendo comparações com as idéias do ensaísta inglês Robert Moss, em seu livro "O Colapso da Democracia". Enfim, desde que circulou no domingo a edição do The New York Times, a reportagem de seu magazine ilustrada sobre o Brasil, fez com que brasileiros vissem nas palavras do profissional americano não uma agressão - mas uma contestação de dificuldades, problemas e erros de nosso país. Ao menos, entre aqueles com que conversamos, havia uma quase unanimidade: palavras duras mas sinceras sobre uma cidade (Rio de Janeiro) mostrada aos americanos sem maquilagem turística.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/03/1989

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