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Aramis

Dina, lembranças de toda uma vida

A crítica de Veja em relação ao livro de Dina Sfat foi injusta. Afinal, no salutar boom de textos de gente ligada ao cinema, teatro e televisão que cresce nas livrarias as memórias de Dina, escritas pela jornalista Mara Caballero, do Jornal do Brasil, representam mais uma contribuição para que se conheça melhor os bastidores do show business tupiniquim a partir dos anos 60 - quando a bela adolescente Dina Kutner (São Paulo, 28 de outubro de 1938), filha de uma família judaica, começou a fazer teatro - inicialmente no Teatro Paulista de Estudantes, depois com o Teatro de Arena - então em sua grande fase de atividades. xxx Inteligentemente, o livro foi concebido em forma de flash-back intercalando vários tempos e usando a parte descritiva, com o texto enxuto, gostoso e jornalístico de Mara Caballero, entremeado as anotações que Dina passou a fazer, a partir de certa altura de sua vida, em forma de diário. Graças a isto a leitura torna-se fácil, agradável - embora não haja revelações maiores. Discretamente, Dina evitou dar nomes aos homens com quem se relacionou após sua separação de Paulo José - e mesmo do seu grande amor de adolescente - colocado apenas como "M", a quem, só aos 23 anos, se entregaria. Afinal, mulher elegante e discreta, Dina preferiu evitar que pessoas que lhe foram queridas pudessem vir a ter constrangimento (ou mesmo problemas), se ela as citasse nominalmente. xxx O editor Jaime Bernardes, dono da "Nórdica", diz na nota-de-orelha que o livro de Dina talvez tenha nascido de um ato simples, quando lhe enviou, há 10 anos, "Mutações", de Liv Ullmann. Na época, Dina recusou qualquer idéia de também escrever sua vida e emoções mas, pelo visto acabou mudando de idéia. O resultado é um volume no qual coloca reflexões perante a vida e a morte (ela que sofreu um sério problema de saúde, há algum tempo), sua vivência no teatro, televisão - que a transformou num nome nacional - e cinema. Uma mulher corajosa e honesta, que provocou emoção ao declarar num programa de televisão que tinha medo dos generais e que, há poucas semanas, esbravejou contra os oficiais da Marinha pelo acidente do Bateau Mouche V, no qual morreu uma de suas maiores amigas, Yara Amaral. Na página 29, rememorando sua primeira grande experiência profissional, localiza as origens de sua grande amizade com a atriz - uma das vítimas do naufrágio da embarcação na noite de 31 de dezembro: em 1961, pouco antes do final do ano, uma montagem de um grupo de teatro amador (Escola de Engenharia Mackenzie) de "Os Fuzis da Senhora Carrar", de Brecht, tinha no papel central Yara Amaral - enquanto ela fazia Manuela, a filha da Senhora Carrar. A direção foi de Antônio Ghigonetto e em janeiro de 1962 a peça era levada a Porto Alegre, no Festival Nacional de Estudantes. Definitivo para que se tornasse, logo, uma profissional. xxx Em "Palmas pra que te quero", Dina vai recordando vários fatos que marcaram a vida artística nacional ao longo destas últimas três décadas - nas quais sua participação foi evoluindo - passando pelas montagens amadoras, uma frustrada produção no Teatro Ruth Escobar ("Antígone América"), passagens pelo Teatro de Arena de São Paulo ("O melhor juiz, o rei", de Lope de Vega, 63; "O filho do cão", de Gianfrancesco Guarnieri, 64) e, no Teatro Maria Della Costa, na histórica montagem que Flávio Rangel fez de "Depois da Queda", de Arthur Miller. Treze outras peças depois - Dina se lançaria numa própria produção, que com patrocínio do Bamerindus, teve sua estréia nacional em Curitiba, há 7 anos: "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen. No cinema, entre a modesta estréia em "Três histórias de amor" do falecido (e esquecido) Albert D'Aversa ao (inédito comercialmente) "A Bela Palomera", de Rui Guerra (1987, adaptado de um conto de Gabriel Garcia Marques) foram 16 filmes. E na televisão, a partir de 1966, dezenas de programas, casos especiais e 12 telenovelas só na Globo, a partir de "Verão Vermelho", de Dias Gomes (1970) até "Bebê a Bordo". Enfim, um curriculum intenso, reconhecido em 14 premiações (mais ou menos importantes) e uma disposição de sempre buscar novos espaços - como a viagem que fez à URSS - que após resultar num especial para a Globo está agora em vídeo - à disposição de quem não assistiu a emissão na época. xxx Há carinhosas presenças que acompanham Dina ao longo de todo o livro - como de seu primeiro namorado e seu grande amigo Paulinho de Góes, cuja correspondência no capítulo "Exílio" é uma ponte entre Dina no Exterior e o Brasil que ela deixou - não como exilada política (afinal, nunca chegou a ter maiores problemas de ordem política), mas em suas recentes circuladas internacionais. No final, nada menos que dez páginas foram dedicadas a reunir elogios e depoimentos simpáticos à sua pessoa e ao seu trabalho profissional. Afinal, como diz o título do livro: "Palmas pra que te quero"... xxx Procurando fugir da autobiografia linear - além do mais, aos 41 anos, 27 de vida profissional, é ainda jovem demais para uma obra definitiva - e tentando dar uma dimensão de mulher de seu tempo, com idéias e reflexões, Dina soube transmitir a Mara Caballero o timing para um texto final gostoso e digno - que faz deste um dos bons momentos do crescente [número] de biografias de nossos stars - afinal saindo para revelações daquilo que pode dizer em vida. (texto escrito em fevereiro/89) LEGENDA FOTO - Mara Caballero, jornalista, co-autora de "Palmas pra que te quero", autografa hoje, pela manhã, o livro póstumo de sua amiga Dina Sfat.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/04/1989
ELA E UMA DAS MELHARES ATRIZES QUE O BRASIL JÁ DEVER É O POVO BRASILEIRO SENTE MUITA FALTA DESSA ATRIZ QUE ELA FIQUE COM DEUS
NUM PAÍS TÃO SEM MEMÓRIA, É IMPORTANTE LEMBRAR, 'REMEMORAR' A VIDA E A OBRA DESSA GRANDE ATRIZ, DINA SFAT, Q PARTIU PRA O 'ANDAR DE CIMA' TÃO PRECOCEMENTE....MELHOR AINDA, LEMBRAR TB SUA QUERIDA AMIGA YARA AMARAL, Q TB PARTIRA PRECOCEMENTE, NA TRAGÉDIA DO BATEAU MOUCHE! PARECE MESMO Q DEUS RESOLVEU FAZER UM 'ESPETÁCULO' LÁ EM CIMA, TOMANDO PARA SI PESSOAS TÃO QUERIDAS E TÃO CARAS....Q JAMAIS ESQUECEREMOS! BJO DA ALMA! ;) \0/ ^^

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