Desde que o conjunto Secos & Molhados (1973/74) provou que um grupo andrógino, em poucos meses, podia conquistar um imenso público e vender mais de 200 mil cópias de discos, as gravadoras passaram a ter a máxima boa vontade com os conjuntos de música jovem capazes de proporem algo de novo para o indeciso mundo musical brasileiro, E principalmente a Continental, que teve no extinto grupo S&M a sua galinha-dos-ovos-de-ouro (apesar do 2o lp do grupo não ter o sucesso esperado, mesmo com a promoção de Cr$ 1.000.000,00), está buscando outro conjunto capaz de repetir o sucesso dos S&M. O jornalista Moracy doi Val, ex-Última Hora, responsável pelo lançamento dos S&M - e cujo afastamento do conjunto, devido a incompatibilidade com o líder João Ricardo e seu pai, o crítico de teatro João Apolinário, é tido como uma das causas do esfacelamento do conjunto, parece ter encontrado um novo grupo capaz de suceder aos S&M: o moto Perpétuo, que já estreou em temporada teatral (Teatro 13 de Maio, Novembro/74) e em disco ( lp Continental, 1-001-404-091). Mas ao contrário dos S&M, os músicos do Moto Perpétuo - Guilherme Arantes (teclados), Cláudio Lucci (violão), Gerson tatini (baixo), Egidio Conde (guitarra) e Diógenes Burani (bateria) - se dizem "um grupo sem maquilagem" e fazem questão de frisar que, apesar de trabalhar com Moracy, não tem qualquer relação poética, musical ou de posição diante do público - com os Secos e Molhados. E qual é a proposta musical deste Moto Perpétuo?. - É uma proposta despojada, sem exageros formais e que não pretende superar ou sequer igualar o sucesso de ninguém. Neste seu primeiro lp, o grupo apresenta onze músicas do líder Guilherme Arantes: "Mal o Sol", "Conto Contigo", "Verde Vertente", "Matinal", "Três e Eu", "Não Reclamo da Chuva", "Duas", "Sobe", "Seguir Viagem", "Os Jardins" e "Turba". Fazendo a música e letra, executando teclados e vocal do grupo, Guilherme Arantes apresenta um trabalho menos pretensioso do que o S&M - que recorria, freqüentemente, a "parcerias" com poetas e escritores famosos. Guilherme prefere falar de temas simples, montando alguns jogos de palavras ("granulou-se verde vertente/que o brilho solar atinge") ou mesmo montagens semiconcretiais ("Os Jardins"). Difícil de um julgamento definitivo sobre este Moto Perpetuo. Vamos aguardar para ver o bicho que vai dar. xxx Há cinco meses a Continental lançou um novo conjunto de música brasileira: "Ave Sangria". Fundido elementos de cultura nordestina com instrumental sofisticado (sintetizador, guitarra elétrica), o grupo apresentava 12 musicas do líder Marco Polo, também vocalista. Poucas semanas depois o lp era recolhido, devido à proibição de uma música ("Seu Valdir", faixa 1, lado B). Agora, o lp é relançado, com a exclusão daquela faixa. Na época, aqui registramos com entusiasmo o aparecimento do grupo - justificando agora que se faça novamente um destaque para este conjunto inovador, com uma proposta curiosa para a música popular brasileira. O grupo Ave Sangria é formado por Marco Polo, Ivson Wanderley (arranjos, guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, viola, sintetizador e vocal), Almir (baixo), Israel "Semente Proibida"(bateria) e Juliano (percussão). Em participações especiais aparecem Zé Rodrix (executando sintetizador na faixa "Cidade Grande") e Márcio Vip Augusto (piano). LEGENDA FOTO 1 - Secos & Molhados

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Jornal do Espetáculo

Página: 16

Data: 12/01/1975