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Aramis

Do lazer abandonado ao largo da desordem

A carta-denúncia de Jorge Carlos Sade (Praça Garibaldi, 85), datada de 15 de janeiro último, é a seguinte: "Dizem que a casa é a cara do dono!" A Praça Garibaldi, o dito setor histórico, seria o retrato de Curitiba? Baderneiros, drogados, bêbados, cheiradores, assaltantes, maloqueiros, botecos e bares de lixo e de luxo, putaréu, violência, despoliciamento, gangues varzeanas, ratatuia infecta e contagiosa, dia & noite-noite & dia infestam o eixo Praça da Ordem-Alto do São Francisco. Eis a Curitiba ecológica! Isso é o retrato da Prefeitura, da dita Secretaria do Meio Ambiente? Não tomam conhecimento: já remeti várias cartas ao dito projeto Boa idéia e até agora, nada... Até o malfadado buraco da poluição sonora que é o "Subway" (13 de Maio esquina com Almirante Barroso) é intocável: o dono é primo do deputado Rafael Greca, o avô é o avalista: estão atrasados nos aluguéis, etc., e ninguém mexe uma palha para cassar o alvará da espelunca... Diz o Rafael que o setor histórico deve ser alegre. No zorobó dos outros é refresco. Gostaria que a Jaime Reis fosse transferida para a Rua Bom Jesus (*); aí o Lerner e o Ippuc iriam sentir o que é lazer cultural... Eles não sabem que, a cada dia que passa, estão perdendo votos para a próxima eleição à Prefeitura: eles contam os votos dos botiquineiros contra os dos moradores e comerciantes do setor: vão perder feio... Sou drástico: por que não cassar todos os alvarás desses buracos que nada trazem de bom à cidade, nem contribuem para nada? Só deixaria o restaurante da dona Inge (**), o Brass Reill (***) e o Schwartzwald. No restante daria incentivos para que se instalassem livrarias, sebos, lojas de discos, galeria, antiquários, artesanato, escritórios de arquitetura etc... Um lazer cultural, enfim... De fato, sem mentiras! Postos de atendimento aos turistas (sabem quantos ônibus estacionam diariamente na praça do relógio das flores, aliás sempre parado, vandalizado pela falta absoluta de policiamento?). A maioria dos turistas procurando por uma casa de lanches (um Bob's ou McDonalds, a uma casa de chá, café colonial...) Não demora, e apesar de sediar uma fundação dita Cultural, museus, casa dos 300 anos, sei lá mais, o setor histórico estará de tal forma deteriorado que não haverá retorno, não terá mais recuperação..." Notas da coluna (*) A Rua Bom Jesus é no Alto do Cabral e nela localiza-se o instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba. Também em sua primeira quadra, está a residência do prefeito Jaime Lerner. (**) Ingeborg Rust, uma das mais conhecidas e estimadas pessoas de Curitiba, foi pioneira da área de turismo receptivo (agência Aeromar) nos festejos do centenário de emancipação política do Paraná (1953); professora e poliglota, abriu o seu restaurante típico alemão "Humel-Humel" no Largo da Ordem em 4/2/1981. Líder pela própria formação, tem lutado pela limpeza da área, sem encontrar apoio oficial. Em 27 de agosto de 1972, em entrevista a esta coluna, Mai Nascimento e Dante Mendonça, para o suplemento "Fim de Semana" de O Estado do Paraná, cunhava uma expressão que bem define a situação no local: "Largo da Ordem? Isto aqui é Largo da Desordem". Passaram-se 10 anos e três administrações e meia municipais e a área continua deteriorando-se. Agora, mais do que nunca. (***) Restaurante sofisticadíssimo, para público de alto poder aquisitivo, o Brass Reill tem uma freqüência classe "a", que hoje começa a se afastar, devido aos assaltos e, especialmente, arrombamento dos veículos estacionados em sua frente. É o restaurante que, tem a preferência da presidência da FUCUCU, que ali leva, habitualmente, os "convidados" que recebe todas as semanas de outras cidades.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
21/01/1992

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