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Aramis

Do mercado brega ao som de Collins com boa orquestra

Tendo abrigado amplo elenco rural no passado, a ex-CBS - hoje Sony - descartou a música regional há alguns anos mas agora teve que se curvar a uma realidade: o marketing "country" nacional não se permite mais elitismos ou restrições a música brega. Assim, seu novo presidente, vindo da área de marketing, contratou várias duplas para disputar uma das faixas mais lucrativas do momento. Isto explica que desde duplas infantis como Sandy & Júnior ("Aniversário do Tatu") até jovens garbosos (Denis & Demian), na tentativa de encontrar um novo fenômeno de vendas como são as duplas Leandro & Leonardo e, especialmente, Chitãozinho & Xororó. O esquema dos novos sertanejos - ou "countries" como preferem ser chamados - é repetitivo, dentro de um processo musical bem definido mas que tem resultado em sucessos comerciais surpreendentes. A mesma Sony também faz outro lançamento comercialmente acertado: "Amigos do Peito", para comemorar os 25 anos do grupo Trapalhões. Neste quarto de século, o mais popular conjunto da televisão brasileira (e também do cinema) sofreu modificações. Apenas o líder Didi (Renato Aragão) e Dedé fazem trapalhadas desde o começo de 66. Saíram Ivon Cury, Wanderley Cardoso, Ted Boy Marino e Vanusa, que passaram temporadas como Trapalhões. Entraram Mussum e Zacarias, ambos descobertos por Renato Aragão (Mussum na Mangueira e no grupo Originais do Samba, e Zacarias, que era garçon nos sets de televisão, viria a falecer há dois anos). Com uma popularidade impressionante junto ao público infantil em seu programa dominical na Globo, quase 30 filmes - que lotam os cinemas nas férias escolares (só que devido a crise, neste semestre eles não estão filmando), tem feito incursões pela música destinada a infância, com canções de consumo fácil, linguagem sapeca - dentro dos novos tempos de comportamento da novíssima geração: "A Pulga", "Kibe Cur", "Pula Veadinha" - faixas que ao lado de um antigo sucesso dos anos 60, "Marcianita", está neste elepê condimentado por dois profissionais eficientíssimos da música de consumo: Lincoln Olivetti e Ary Sperling. Há participações especiais, como de Chitãozinho e Xororó em "Amigos do Peito", Jorge Laffond em "A Pulga" (que nada mais é do que a versão de "Pata Pata", sucesso de Mirian Makeba em 1967), Duda Little em "Anjo Trapalhão" e Patrícia em "Filho de Chaplin". Um intervalo para a qualidade! São raros os álbuns com boa música instrumental e por isto merece destaque a edição de The Royal Philharmonic Orchestra, regida por Louis Clark interpretando hits of Phil Collins (Sony Music). Destacando a harpista Skila Kanga, o guitarrista Mitchel Dalton, o pianista Simon Chamberlain e o saxofonista Christian Wilkens, esta moderna orquestra traz em belíssimos arranjos dez dos mais belos temas que o múltiplo Phil Collins produziu nestes últimos anos: "In the Air Tonight"; "Groovy Kind of Love"; "Easy Lover"; "Do You Remember"; "I Wish it Would Rain Down"; "Against All Odds"; "Another Day in Paradise"; "Two Hearts"; "The More Night" e "Take me Home", esta última com os vocais de Lance Ellington Mark Wulliamson. Sugerindo uma suavidade - a partir da própria capa com belíssima fotografia de Andy Farl, eis um dos bons discos instrumentais do ano. Cantor, compositor e guitarrista, Cláudio Zoli chega ao seu terceiro elepê solo e o primeiro pela Polygram ("Feitiche"). Nos bailes de São Gonçalo, Rio de Janeiro, que chamam de a Mineapolis brasileira, Zoli, ainda garoto, começou a se entusiasmar com o funk e o blues. Em 1983, emplacava um sucesso - "Noite de Prazer", como integrante da banda Brylho. Numa linha de comunicabilidade com o público jovem, Zoli abre o disco com uma parceria com Antônio Cícero ("Feitiche"), com quem já havia feito "À Francesa" - hit lançado por Marina - e que Zoli revisita agora com algum charme. Ao todo são 12 faixas, sendo que duas ("Crianças" e "Loucos Profetas") só entraram no CD. Seu parceiro, Antônio Cícero, assim o define: "Na voz e no jeito carioca-new-black-magic capaz de cantar e compor em fascinante feitiço funk fundem-se Zoli, o ritmo alucinante, e Zoli, o gato sensual, displicente, chama a dançar. Naturalmente perverso, um disco assim não pode deixar de virar feitiche". LEGENDA FOTO - Cláudio Zoli: funk feitichista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
01/09/1991

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