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Dona Helena viaja com as belas imagens de Orlando

Há alguns meses, ao gravar seu depoimento para o projeto Memória Paranaense, do Banco Bamerindus, a poeta Helena Kolody emocionou os jornalistas que a entrevistavam ao recordar, com mínimos detalhes, seus anos de adolescente, quando vindo de Cruz Machado, morou com sua família na Rua Ubaldino do Amaral - então distante do centro da cidade. Sem iluminação e calçamento, considerada nos anos 20 como uma zona distante, aquela rua traz, sempre, recordações emotivas à nossa poeta maior. Ali ela cresceu e muito aprendeu. Lembra-se dos vizinhos, das primeiras indústrias ali implantadas e tem uma memória privilegiada inclusive sobre detalhes. xxx Quando Orlando Azevedo ofereceu à dona Helena, pela admiração que a autora de "Trilha Sonora" sempre lhe mereceu, seu belo livro "Fitas e Bandeiras Wenske", não imaginava que as fotos coloridas da antiga fábrica que por tantos anos existiu no Alto da Rua XV de Novembro, próximo à Ubaldino do Amaral, traria tantas emoções à dona Helena. Em sua terna gentileza, numa carta manuscrita, com sua letra tão enternecedora quanto é sua poesia e sua pessoa, ela encaminhou uma mensagem de agradecimento que emocionou a Orlando. Uma carta para ser preservada em quadro - "e que por si só já é o melhor pagamento de todo esforço que foi produzir este livro" diz Orlando, emocionado. xxx Como tudo que se refere à dona Helena Kolody merece nossa maior admiração, nos permitimos transcrevê-la. Assim como as fotos de Orlando - que resultaram no mais belo livro de arte editado no Paraná no ano passado - emocionam pelo que capturam de um momento da cidade, também as palavras de dona Helena ajudam a traduzir esta emoção. Aliás, aqui fica a sugestão de uma parceria: por que Orlando não passa a dona Helena algumas das centenas de milhares de fotos que vem sabendo fazer de pessoas e cenas de Curitiba, para que coloque legendas-poesias? Seria, sem dúvida, um trabalho de grandes resultados - para uma exposição e, por que não? Um futuro livro. A mensagem da poeta "Prezado amigo Orlando. Encantou-me o álbum 'Fitas e Bandeiras Wenske', que você organizou com tanta arte. Seu talento soube captar os ângulos e planos mais interessantes de tudo o que restou da renomada 'Fábrica de Fitas' do Alto da Rua XV, mais precisamente da Rua Ubaldino do Amaral. Cada foto é um quadro poético. Você soube suprimir, de tudo, o ar de abandono e morte. A luz ressuscita as cores. O ângulo de focalização dá, às vezes, uma impressão de coisas vistas em sonho. Ao manusear seu álbum, voltei aos tempos de minha adolescência. Em 1927, meu pai estabeleceu-se, como comerciante, na esquina da Rua Itupava com a 7 de Abril. Umas moças da família Vons, nossas vizinhas, eram operárias da fábrica de fitas, da qual falavam com muito entusiasmo. Quando vi as fitas que eram tecidas lá, constatei que eram idênticas às que eu e muitas meninas e mocinhas usávamos. E não só em Curitiba. Era moda usar fitas. Desde pequeninas, as meninas usavam fitas, laços de fitas, não só nos cabelos, mas também nas roupas. Lindas fitas, as do Venske! Cores harmoniosamente combinadas e bonitos desenhos. Eu preferia as de diversos tons duma só cor, com listas fininhas, longitudinais, nas beiradas. Seu álbum resgata do esquecimento, não só uma fase de nossa indústria, mas um período de nossa História. Para os remanescentes, como eu, de um tempo que passou, ressuscita um trecho da paisagem da vida, guardada em sonhos e lembranças. Muito lhe agradeço o precioso presente. Receba um cordial abraço da Helena." LEGENDA FOTO 1 - Dona Helena Kolody: a poeta revê as imagens da infância nas fotos de Orlando. LEGENDA FOTO 2 - Orlando: fotos emocionantes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/03/1989

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