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Aramis

Dos triângulos nos retângulos da tela

Encontros e desencontros conjugais, vistos com ternura e certa dose de bom humor, em três recentes filmes que chegam às telas da cidade. "Amor à Primeira Vista", na semana passada e, ainda em cartaz; "A Dama de Vermelho", Plaza, 5ª semana; e "Ladrão de Corações", Condor, 4 sessões. Os eternos triângulos que se formam a partir de incidentes triviais - o esbarrão na saída de uma loja de departamentos, às vésperas do Natal novaiorquino, entre um arquiteto (Robert de Niro) e uma prosaica dona de casa (Meryl Streep), em "Amor à Primeira Vista"; a visão, na garagem de um edifício de uma estonteante modelo, Charlotte (Kelly Le Brock), por um acomodado publicitário, Theodore Pierce (Gene Wilder), em "The Woman In Red", quando o vento levanta as saias da mulher, tal como acontecia em outra comédia sobre infidelidades conjugais ("O pecado Mora ao Lado" The Seven Year Itch, 54, de Billy Wilder), e um ladrão romântico, que se apaixona pelas confissões de uma frustrada esposa, com a leitura de seu íntimo diário, em "Ladrões de Corações". A partir desses elementos, constroem-se filmes os mais interessantes, unidos pela discussão de casamentos aparentemente bem sucedidos, do ponto de vista econômico e social, mas com frustrações amorosas de ambas as partes. Gene Wilder, ator que se tornou conhecido nas comédias de seu amigo Mel Brooks, mostra nesse "A Dama de Vermelho" um aprendizado da comédia sofisticada - de um Lubitsche/Wilder ao contemporâneo Black Edwards, conseguindo entremear o filme de situações deliciosamente irônicas, mas sem nunca perder aquele feelin capaz de fazer de Pierce, casado, 2 filhos, aparentemente tranqüilo e feliz, balançar o coração pelo encontro com uma mulher fascinante. De um outro prisma, sem forçar na comédia mas evitando, também, a dramaticidade, Ulu Grosbard, em "Falling In Love", resgata no amor não consumado fisicamente (como em "A Mulher de Vermelho") personagens que lembram aos que, há quase 40 anos, foram criados pelo dramaturgo inglês Noel Coward, em "Desencanto". Uma paixão platônica (em ambos os casos) que, mesmo quando tudo pode favorecer (a partir da intimidade de um apartamento), não chega a se consumar. Com toques de fábula, quase a extrapolação de um tema que poderia merecer análises psicanalíticas, a compulsão de uma mulher sexualmente frustrada, em transferir para as páginas de um íntimo diário suas fantasias eróticas. Douglas Ray Stewart, que havia se revelado ótimo roteirista em "A Força do Destino", consegue ser extremamente bem sucedido em "Ladrão de Corações". Entre a farsa e o sensual, constrói, talvez, uma das seqüências mais eróticas vistas no cinema norte-americano, nos últimos anos, quando o elegante ladrão Scott Muller (Steven Bauer) seduz a frustrada Nickey Davis (Barbara Williams), em seu apartamento. Decoradora talentosa, bonita, mas insegura no relacionamento com o marido, o escritor Ray (John Getz), [Nickey] tem um romance com Scott, em cenas do maior erotismo, mas sem pornografia. Um exemplo de como o cinema pode usar a sensualidade sem apelações grosseiras. Entre "Amor à Primeira Vista", "A Mulher de Vermelho" e "Ladrão de Corações", muitos pontos de identificação: o american way of life numa análise conjugal/erótica, de frustrações de parte a parte - no desejo de maridos e esposas procurando não uma simples aventura sexual, mas um momento de complementação amorosa - e sempre sem posições maniqueístas ou mensagens moralistas. Do plano de vista humano, personagens bem equacionados e estabelecendo uma empatia com o público. Cinematografica-mente, direções seguras, ambientes requintados, boas interpretações e, especialmente, ótimas trilhas sonoras. Em "Falling In Love", jazzísticos temas de Dave Grusin intercalados a canções natalinas. Em "The Woman In Red", a premiada trilha de Stevie Wonder (Oscar de melhor canção a "I Just Call To Say I Love You") e nesse "Ladrão de Corações" (lp editado pela [Polygram]), a revelação de um novo compositor, Harold Faltermeyer. Pena que "Amor à Primeira Vista" não continue em cartaz - pois, assim, nos retângulos das telas, complementaria os triângulos amorosos que esses filmes tão bem enfocam. LEGENDA FOTO - Triângulo de amor: Steven Bauer, Barbara Williams e John Gets, em "Ladrão de Corações".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
19/06/1985

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