Login do usuário

Aramis

Duetos pianísticos ( com o melhor jazz )

Há muito tempo que Chick ( Armando Anthony ) Corea ( Chelsea, Massachussets, 12/6/1941) ultrapassou as limitações do jazz popular. Se iniciou como metade dos anos 60, trabalhando com instrumentistas como Mongo Santamaria, Willie Bobo, Blue Mitchel e Herbie Mann, logo partiria para trabalhos mais avançados - baseados especialmente na experiência adquiridano período em que tocou com Miles Davis ( com quem a gravou os demolidores " In a Silent Way", "Bitche's Brew", Life at the Filmore East " e "Live/ Evil"). Em termos de comunicação, atingiria os pontos mais populares com o Return to Forever, dos quais faziam parte os brasileiros Flora Purim e Airto Moreira. Mas seu vituosismo jazzístico - descrito pelo crítico alemão Joaquim Berendt como " o romantismo do jazz contemporâneo, não somente como pianista mas também como compositor"o levaria a fazer cada vez mais trabalhos solos ou em avançados duos. Com outro criativissimo tecladista, Herbie Hancock ( Chicago, 12/4/1940 ) faria dois esplêndidos álbuns duplos, numa usina de criatividade única. Para quem tem sido comparado, por suas interpretações pianisticas, a Mendelssohn, Schubert, Schumann e até Rubunstein, não faltariam possibilidades de mergulhar em recitais com monstros sagrados do piano. Assim com um virtuose que sempre dividiu-se entre o clássico e o jazz, Friedrich Gulda, faria o notável concerto que o produtor Manfreid Eicher transformaria no elepê " The Duet ", lançado no Brasil, no ano pasado. Agora, abrindo o ano jazzístico - 1985, a Polygram edita um álbum de Deutsche Gramophon, registrado em 24 de junho de 1980, na Sala do Congresso do Museu Alemão, em Munique, com outro histórico dueto : Chick Corea e o pianista rumeno Nicolas Economou.Um trabalho fantástico para atingir tanto o público que precia o jazz mais refinado, como os cultores de clássicos - pois se no lado A temos uma suíte jazzística, a quatro mãos, no lado B, Chick é o solista das seis peças de "Mikrokosmos" de Bela Bartok ( 1881-1945 ). Relacionamento de Chick e Nicolas iniciado em 1981, em informais improvisações na casa de Corea, em, Los Angeles, foi tão ajustado que, como diz o pianista rumeno, " estimulavam-se reciprocamente e misturavam-se para formar algo novo". Assim, há 3 anos, no festival de Piano de Verão de Munique, escreveram algumas composições, incluindo uma série de improvisações livres. Explica Economou: " Nas nove improvisações livres e invenção, o número extra, cada qual tem sua vez de começar. O primeiro executante improvisa em motivo ou tema como uma fuga, sugerindo o caráter do mundo musical em que o outro deverá responder. Através da mudanças de atmosfera entre as seções constroi-se uma seqüência de acorde. A alternância em Dueto para dois pianos " é mais complicada. O grau em que a estrutura músical básica é pré-determinda variada, de modo que não raro e dada liberdade à imaginação". Paralelamente a edição deste "On Two Pianos ", há a oportunidade de se conhecer outro trabalho magnifico em termos do jazz mais cerebral. O já referido Keith Jarrett, acompanhado apenas de baixo ( Gary Peacock ) e do baterista Jack DeJohnette,num dos mais longos temas : "Flying", ocupando todo o lado A e parte do lado B ( o comportamento é um pequeno estudo - "Prism"), Um verso de Rilke - falando em espaço, vôo e a temporalidade da vida, transcrito na contracapa, fica como única dica concreta para o ouvinte poder mergulhar nesta verddeira viagem sonora, registrada em disco em janeiro de 1983. Tanto o encontro de Corea om Rconomou, como " Changes " ( Barclay / 1984 ) são momentos maiores do Jazz contemporâneo ao piano. Discos para serem ouvidos como máximo de atenção. Já um exemplo de um estilo mais facilmente digerível - embora igualmente criativo - e de ( Alfred ) McCoy Tyner ( Philadelphia, 11/12/1938 ), no recém editado " 13th House " ( Fantassy / Barclay, março /85 ). Com uma longa carreira - espraiada em dezenas de gravações e participações profissionais que vão desde a de sideman de artistas como lke e Tina Turner ( quando estavam ) até discos-solos, McCoy Tyner tem aquele balanço que o faz um harmonizador gostoso de se ouvir. Ao contrário de Hancock ou Corea, por exemplo, sua música não necessita de headphone, numa concentração total, para se penetrar em toda a sua luminosidade. E quando se acrescenta a um repertório equilibrado e bons músicos que o acompanham, o resultado não poderia ser mais estimulante. Neste "13th House" há uma grande brasilidade nos temas: não só pela longa " Love Samba ", que abre o lado B ( com 8:25"), como a esplêndida participação dos percussionistas Airto Moreira e dom Um Romão ( este apenas em "Short Suite" e "Search For Peace"), além do baterista Jack DeJhnette ( Chicago, 9/8/1942) - aqui num trabalho bem diverso daquele que se ouve em "Changes" MacCoy Tyner é outor de três temas: abertura " Short Suite ", " Search For Peace ", e do percussivo " Love Samba " - que pela longa intervenção de Airto Moreira, justificaria até seu crédito como co-autor. De Jimmy Heath é a música-titulo e " Leo Rising ", de Frank Foster encerra o álbum. Um trabalho dignamente instrumental, com a participação de 13 músicos do mais alto nível - entre os quais o flautista Hubert Laws, o baixista Ron Cartet, ao lado de outros ainda não conhecidos no Brasil ( os pistonistas Oscar Brasshear; trombonista Slide Hampton; ).Eis o perfeito exemplo de um disco em que a presença do produtor foi fundamental para a qualidade final: Orrin Keep news, responsável por alguns dos melhores discos de jazz dos anos 60, é quem assina a realização. Keepnews - de quem Airto, já por tantas vezes, nos falou com entusiasmo - é daqueles produtores que conhece o equilibrio que um disco deve ter. Assim " 13th House " tem as caracteristicas de um álbum inteligentemente conhecido, dando a cada músico participante - e não apenas a Tyner - a oportunidade de extrair de cada momento, cada intervenção, tudo que é possível de obter musicalmente. Uma original capa - a partir de um quadro de jaime Putnam ( com um certo estilo naif ) complementa o encanto deste álbum gravado em Nova Iorque, em outubro de 1980 - e que chega agora ao Brasil. Um disco para ser anotado entre os melhores lançamentos jazzisticos de 1985.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
07/04/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br