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Aramis

As eleições diretas do magnífico Reitor

Para (com)provar que a iniciativa da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná em promover uma votação direta na indicação dos nomes reitoráveis não tem o sentido de subversão ou questionamento das autoridades, o secretário-geral da entidade, Emmanuel Appel, mergulhou nos arquivos da quase septuagenária instituição e descobriu que seu primeiros estatutos, aprovados em 13 de setembro de 1913 e editados pela tipografia Hoffmann, um artigo que, de certa forma, fortalece a eleição majoritária. Há quase 70 anos, os fundadores da Universidade do Paraná já sugeriam que o chamado "conselho superior" - que hoje corresponderia ao Conselho Universitário, fosse indicados "por sorteio", entre nomes "dignos e conceituados" da comunidade. "Assim, analisa Appel, ao propormos uma votação democrática, estamos apenas mantendo o espírito de Victor do Amaral, Hugo Simas e Nilo Cairo, fundadores da Universidade". Professor da UFP, no setor de Ciências Humanas, ex-dirigente estudantil, Appel assina um grande artigo sobre o tema "A Universidade vai às urnas", que ocupa a primeira página do órgão oficial da Associação. xxx No decorrer desta semana, o presidente Carlos Roberto Antunes dos Santos ("Motorzinho", como é conhecido desde seus tempos de secundarista) deverá marcar a data em que as eleições (simbólicas, "sem fundamento legal, mas legítimas pelo gesto", na expressão de Appel) para indicação dos nomes que poderiam compor a lista de candidatos [à] sucessão de Ocyron Cunha, serão realizadas no plano do corpo discente. Com mais de 13 mil alunos, o [referendum] chegando também aos estudantes - e depois, numa terceira etapa, aos funcionários - sedimentará a idéia de que o reitor da Universidade seja escolhido de forma democrática, em eleições diretas, "e não imposto de cima para baixo". Em algumas universidades tal sistema já vem sendo testado - especialmente na Unicamp, em Campinas, onde o sucessor do reitor Plínio Alves de Moraes, será escolhido numa lista sêxtupla apontada pelos corpos discente e docente, mais os funcionários da instituição. Também nas universidades de São Carlos, Paraíba, Rio Grande do Norte, Goiás e Santa Maria, ensaiam-se movimentos semelhantes. Em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina, a experiência até agora se restringiu [à] escolha dos diretores de departamentos e chefes de setores por indicação direta. xxx Uma prova de que o distanciamento entre os nomes referendados pelo corpo docente e a lista elaborada pelo Conselho Universitário, na surpreendente sessão de 2 de agosto último, não é tão contraditória, é o fato de que com exceção de Alcy Ramalho - primeiro nome da indicação oficial, os outros cinco lembrados naquela sessão, aparecem entre os 12 mais votados pelos professores. De um total de 1.700 professores da UFP, 833 deram seus votos na promoção da Associação, indicando cada um, dois nomes. 134 deixaram de indicar nomes, mas responderam positivamente à pergunta por eleições diretas. Os seis nomes mais indicados foram os seguintes. xxx José Lamartine Correa Lyra, advogado dos mais conhecidos da cidade, professor da Faculdade de Direito há mais de 20 anos e que, em termos executivos, tem como experiência a direção da Biblioteca Pública do Paraná (cargo hoje exclusivo de bibliotecários/as) no início do primeiro governo Ney Braga, conseguiu ser o mais votado, com 209 votos, (22,3%). A sua votação não surpreende, já que há anos que Lamartine integra a ala mais aguerrida da oposição universitária, identificado com grupos jovens e ainda por ocasião das eleições na própria Associação, elaborou uma violenta carta aberta apoiando a chapa de Carlos Roberto e fazendo restrições ao grupo liderado pelo ex-ministro Ivo Arzua Pereira. Assim, há muito que é tido como o nome de trânsito mais fácil junto às áreas opocionistas. Em segundo lugar, com 129 votos (13,8%) ficou Luis Carlos Nascimento Tourinho, professor da área de ciências agrárias, ex-diretor da Escola de Florestas e que há muitos anos também está na lista dos reitoráveis. Descendente de uma família de oficiais-generais (seu tio, Ayrton Tourinho, foi comandante da 5ª Região Militar), discreto em sua vida universitária, também sempre identificou-se com grupos opocionistas aos homens que, na crônica de nossa septuagenária universidade, vem se mantendo no poder. Mas é Newton Freire-Maia, que com 105 votos (11,2%) ficou em terceiro lugar na lista, o que tem maior projeção entre os professores da UFP. Mineiro de Boa Esperança, desde 1951 radicado em Curitiba, onde fundou, a convite do professor Homero Braga, o Laboratório de Genética Humana, Newton é hoje um cientista de renome mundial em sua área. Por amor a Curitiba, descartou há alguns anos tentadores convites para permanecer em Genebra, onde trabalhou por alguns meses junto a Organização Mundial de Saúde. Autor de inúmeros livros e trabalhos científicos, tem comparecido a congressos e seminários em muitos países e ainda agora está retornando de viagem à Europa, junto com sua esposa, e também cientista a professora Eleidi. Sua indicação nesta votação é prova da admiração que a comunidade universitária lhe devota e um tapa-de-luva na intransigência de alguns de seus inimigos que, há pouco mais de um ano, uma manobra que lhe causou repulsa nacional, tentaram lhe impedir de prosseguir como professor da UFP. Na época, O ESTADO e alguns outros jornais denunciaram a manobra que procurava eliminá-lo da Universidade, o que seria um grande prejuízo, considerando que é, dentro do curso de pós-graduação em Genética Humana, o mestre de maior gabarito e know-how. xxx João Atila Rocha, do setor de ciências médicas, que consta da lista sêxtupla oficial, aparece em quarto lugar na indicação democrática de seus colegas, com 82 votos. Nelson Pinto, do setor de Ciências Exatas, considerado um dos maiores especialistas em engenharia hidráulica e que há mais de 20 anos é um dos professores mais respeitados na sua área, com 65 votos, ficou em 5º lugar. Em sexto lugar, empatados com 60 votos, estão Riad Salamuni, geólogo, e Luimar Perly - este um nome pouco conhecido fora da esfera do magistério, mas que constam também na lista sêxtupla. Adir Molinari e Dante Romanó Jr, ambos do setor de Ciências da Saúde, ficaram com 55 e 49 votos, respectivamente. Algedo Leprevost, atual vice-reitor, com 42 votos; Francisco Petrowski, com 41 e José Munhoz Mello, com 40 estão entre os nomes mais votados. Petrowski e Mello estão também na lista oficial, que o reitor Ocyron Cunha se apressou em encaminhar na primeira semana de agosto, quando o prazo legal para a sua formalização só se encerraria em novembro. xxx Como cada um dos 957 professores que votaram poderia indicar dois nomes, houve mais 112 outros mestres lembrados, com votações diferentes. Abaixo de 40 votos, a Associação houve por bem não divulgar os nomes. Significativo, entretanto, que Alcy Ramalho - o favorito da relação oficial, não tenha aparecido entre os professores mais votados. xxx 905 professores (94,5%) disseram SIM às eleições diretas. Apenas 52 professores disseram NÃO às eleições diretas (5,5%).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
06/10/1981

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