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Aramis

Ella & Louis, em dois momentos históricos

Um dos maiores prazeres que o CD/fita cromo dá aos que curtem a melhor música é de ouvir, novamente, gravações antológicas, por iluminados criadores já falecidos - ou então envelhecidos e praticamente aposentados - criaram no auge de suas carreiras. Uma dupla satisfação a quem reconhece em Ella Fitzgerald (às vésperas de seu 73º aniversário a ser completado no dia 25 de abril) - com gravíssimos problemas de saúde, em dois momentos históricos registrados com aquele que foi o popular e conhecido pistonista, cantor e compositor de todos os tempos, Louis Armstrong (1900-1971). A Polygram recoloca no mercado, em CD, dois álbuns antológicos. O primeiro reproduz onze faixas registradas numa única sessão realizada em 16 de agosto de 1956, nos estúdios da Capitol, em Los Angeles, quando o lendário produtor Norman Granz teve a felicidade de reunir os já consagrados artistas para um evento que resultaria em três álbuns - pois dali sairiam também "Ella & Louis Again" e "Porgy and Bess" - este último também agora reeditado no Brasil. Talentos maiores não precisam subterfúgios e enganações e assim bastaram alguns momentos para que estes dois monstros sagrados, secundados por apenas quatro músicos igualmente geniais - Oscar Peterson, Herb Elias na guitarra, Brown no baixo e Buddy Rich na bateria - para que saíssem registros inovadores: "Can't We Be Friends", "Isn't This a Lovely Day" (uma das mais belas músicas de Erving Berlin), "They can't Take that Away from Me" (Gershwin), "Tenderly", "A Foggy Day", "Cheek to Cheek" e "April in Paris" - num registro diverso daqueles que se pode apreciar nas versões unicamente instrumentais de Parker e Basie. A mais conhecida ópera americana - ao menos popularmente aceita e admirada - a obra prima de George Gershwin (1898-1937), com libreto de Du Bose Heyward e Ira Gershwin, desde 1935 está entre as peças mais gravadas. Possivelmente, em termos líricos, houve encenações (e gravações) que podem ser consideradas mais famosas do que a versão que Ella Fitzgerald e Louis Armstrong deram aos seus 15 temas musicais no registro produzido por Granz há 35 anos, mas, jazzisticamente, nada parecido foi feito. Portanto, repetir elogios a leitura que a dupla deu a "Porgy and Bess", e que agora na perfeição do CD, com um encarte que traz o libreto e belíssima capa criada por Sheldon Marks, sobre a produção original lançada pela Verve em 1958 (embora sua gravação tenha sido em 1956), seria repetir o óbvio. Apenas uma palavra: INDISPENSÁVEL. A quem aprecia Ella, outra gravação excelente, de sua fase de ouro, também saiu em janeiro último pela Polygram/Verve: "Ella Fitzgerald at The Opera House", gravado em 1957. Na verdade, esta produção reúne duas diferentes apresentações ao vivo de Ella, a primeira no Chicago Opera House (29/10/1057) e no Shriene Auditorium de Los Angeles (07/10/1957), com os músicos de seu quarteto (e que quarteto!) - Peterson, Ellis, Brown e o baterista Jo Jones. Em duas faixas, participaram alguns cobras do grupo que o produtor Granz chamava de Jazz at the Phillarmonic: Lestes Young, Coleman Hawkins, Stan Getz e Sony Stitt nos saxofones, Roy Eldridge no trompete e J. J. Johnson no trombone. Difícil dizer qual o melhor momento - ou melhores momentos - destas duas históricas apresentações ao vivo - mas em "Stopim at the Savoy" e "Oh, Lady be Good" (dos irmãos Gershwin), o "scat singing" de miss Fitzgerald lhe dava o direito de, com toda razão, ser reconhecida como a maior cantora de jazz no momento. Afinal, a eterna Billie Holiday, que morreria em julho de 1959, vítima das drogas, já estava, então, praticamente em sua fase terminal. E Ella, em compensação, vivia sua melhor fase.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
24/02/1991

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