Login do usuário

Aramis

Em Foz, Lelouch decide fazer filme no Brasil

Antes de viajar ao Rio de Janeiro, Claude Lelouch, 49 anos, um dos mais importantes cineastas da atualidade, fez questão de passar um dia em Foz do Iguaçu. Encontrava-se em Buenos Aires, fazendo o lançamento de seu último filme - "Um homem, uma mulher: 20 anos depois" e antes de enfrentar nova maratona de entrevistas junto à imprensa carioca e paulista, foi conhecer as Cataratas do Iguaçu. Ali chegou no dia 13, sábado, pela manhã e, horas depois, em companhia de sua nova namorada, a belíssima atriz Marie-Sophie Pochat, e de sua assistente, Arlete Gerdon, já tinha retomado um projeto que, há quase 20 anos passados, o fascinara quando de sua primeira visita ao Brasil: rodar um filme em nosso país. - "Foi uma questão de lugar e de momento. No dia 13, que é seu número de sorte" - comentava comigo, na última terça-feira, no Rio Palace Hotel, Arlete Gerdon. Mais tarde, durante uma entrevista com quatro jornalistas ligados à área de cinema, convidados pela Warner para conhecer Lelouch, o cineasta francês repetia a decisão de fazer um filme no Brasil. - "Na primeira vez não deu certo. Agora, no dia 13, ao chegar em Foz do Iguaçu, a idéia me voltou. De momento, não posso adiantar maiores detalhes, mas já há um título de trabalho para o projeto: "O sol se levanta no Oeste". xxx Se Lelouch passou um dia e meio em Foz do Iguaçu, praticamente anônimo, no Rio de Janeiro, desde segunda-feira - e a partir de ontem, em São Paulo, deu notável demonstração de profissionalismo e simpatia. Falou com dezenas de jornalistas, gravou vários programas de televisão, atendeu a todos com a máxima atenção. Elza Veiga - diretora de imprensa da S.D.F. Serviços de Distribuição de Filmes (Warner/Columbia) acostumada a conviver com superstars do cinema, reconhecia a extrema simplicidade de Lelouch, atenciosíssimo em falar de seus filmes e não se recusando a abordar qualquer questão. Particularmente feliz por ter realizado este filme no qual retoma aos personagens Anne (Anouk Aimée) e Jean-Louis (Jean Louis Trintignant), de "Um homem, uma mulher" - Palma de Ouro em Cannes - 66 , Oscar de melhor filme estrangeiro e sobretudo um dos maiores sucessos de público, no Brasil só suplantado por "Retratos da Vida" ( Les uns et les autres, 82). Ainda sem data fixa para estrear no Brasil - (será em outubro, tão logo as cópias estejam legendadas) - "Um homem, uma mulher: 20 anos depois" é um filme pleno de emoção e beleza, características da obra de Lelouch - a propósito de quem, no Almanaque, edição do próximo domingo, estamos dedicando toda uma página. Lelouch comenta: - Quando fizemos o primeiro filme, nós brincamos uns com os outros: "Se tudo der certo, faremos uma seqüência daqui a 20 anos. Bem, tudo deu certo!" E este novo filme, a exemplo do que já havia sido visto em "Toda uma vida" (1976), tem o próprio cinema por fundo: Anne, que em "Um homem, uma mulher", era apenas uma roteirista, agora é produtora. Saindo de um fracasso ("40 anos depois"), ela decide fazer um filme que recapitula uma época vital de sua vida: seu romance com Jean-Louis. Ela entra em contato com ele para tratar de negócios e eles se encontram no mesmo restaurante em que sua história começou 20 anos atrás... E um filme nasce dentro de outro filme que por sua vez resulta em outro no final, dentro de uma trama que inclui até o suspense e a aventura. Um processo de meia-linguagem, desenvolvido com maestria por Lelouch, que além de diretor, é também roteirista, produtor e câmera de suas obras. Para quem, há 30 anos vive o cinema - e neste período realizou 29 longa-metragens - a magia do cinema é imensa. Sua proposta foi de mostrar o processo de criação de um filme. - Ëu quis mostrar ao público a infinita ansiedade que sentimos durante as filmagens, preocupações que são desproporcionais ao prazer que o espectador irá experimentar no final. O personagem de Anouk Aimée reflete uma pessoa que joga com sua própria vida e, em conseqüência, sofre dois fracassos. Pedi a Anouk que se comportasse como eu; eu criei uma produtora que não tem medo de enfrentar riscos enormes, de trocar os filmes no meio das filmagens, como eu fiz uma vez. Vivo como num jogo ou numa corrida. É por isto que comecei e terminei o filme com um rally. De algum modo é um símbolo do filme. Na vida, como numa pista de corrida, você passa pelos mesmos vários lugares e, depois de algumas voltas, não sabe mais quem é o primeiro e quem é o último". 20 anos mais velhos, Anouk Aimée e Jean Louis Trintignant estão perfeitos. O próprio Lelouch reconhece: - "Eles são magníficos. Eles envelheceram bem, como bons vinhos". O compositor Francis Lai, que fez a música de "Um homem, uma mulher" - uma das 10 mais belas trilhas da história do cinema - retomou os mesmos temas ( a Wea deve lançar o elepê, com a trilha ainda este ano). Lelouch, que gosta de entrelaçar os personagens de seus filmes com pessoas reais, pediu a uma personalidade francesa - Patrick Poivre d'Arvor ao cantor e ator Richard Berry para serem eles mesmos. Antoine Sire, que há 20 anos era o garotinho, filho de Trintignant, retorna agora, no mesmo papel, já casado. Um cineasta brilhante, com idéias sempre novas, trabalhando quase sempre com a mesma equipe, tem uma filmografia marcante - ainda agora com dois novos filmes recém lançados no Brasil ("Ir retornar" e "Vive la vie", em exibição em São Paulo), a reprise de "Retratos da vida" e, possivelmente, simultaneamente a estréia de "Um homem, uma mulher: 20 anos depois", o relançamento de "Um homem, uma mulher", cujos direitos pertenciam a United Artits, mas agora estão com a Warner. O Sr. Alberto Salem, presidente da Warner no Brasil, acha que a exibição simultânea dos dois filmes despertará maior interesse do público. E não está fora das cogitações da Warner, o lançamento de "Edith e Marcel", de 1983, filme sobre o caso de amor da cantora Edith Piaf e o boxeur Marcel Cerdan, até hoje inédito no Brasil. Lelouch trabalha rápido - em outubro começa um novo filme e, em seus planos, agora, voltar para cuidar de uma produção no Brasil. A partir de sua visita a Foz do Iguaçu, há uma semana - e que, naturalmente, será um dos cenários. - Eu permaneço fiel a um método de trabalho que foi inspirado na falta de dinheiro e que provou ser o mais apropriado ao meu temperamento. Eu escrevo um roteiro 25 vezes e tento antecipar tudo o que posso. Mas nas filmagens, você às vezes está mais inspirado e sua imaginação segue em outras direções. Eu sou a favor da espontaneidade e estou sempre pronto para captar o inesperado. É por isto que sou o meu próprio câmera. LEGENDA FOTO - Jean Louis Trintignant, 56 anos, em "Um homem, uma mulher: 20 anos depois"- um filme romântico e visualmente encantador. Lelouch, o diretor, veio ao Brasil, para promover a sua estréia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
19/09/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br