Em todas as rotações...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de agosto de 1980
1 - Finalmente nas lojas o lp-documento do show "1o de Maio", que o Centro Brasil Democrático promoveu entre às 21;20 horas do dia 30 de abril às 3;40 horas da manhã de 1o de maio deste ano, no Rio-Centro.
Embora mais de 30 grandes nomes da MPB tenham se unido a este show organizado por um grupo de artistas e intelectuais, com renda em benefício ao Encontro Nacional dos Músicos, apenas duas gravadoras, por sinal ambas multinacionais, permitiram que seus artistas tivessem suas atuações editadas num elepe, com a sigla Cebrade, fabricado pela WEA e divulgado pela Aríola: Milton Nascimento (interpretando "Um Cafuné da cabeça, Malandro. Eu quero até de Macaco", parceria com Leila Diniz), Moraes Moreira ("Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira"), Alceu Valença ("Ele Disse", de Edgard Ferreira e "Assum Preto", Gonzaga/Teixeira), As Frenéticas ("O Preto Que Satisfaz", de Gonzaguinha), da WEA. Os demais estão desligados das gravadoras: o Boca Livre ("Toada/Na Direção do Dia"), João do Vale ("Não Deixe de Pensar" e "Uricuri", e "Pisa na Fulô"), Caymmi ("História de Pescadores") e Sérgio Ricardo ("Vou Renovar"). O disco abre e encerra com o próprio público cantando "Prá Não Dizer Que Não Falei de Flores" 9Vandré). Com capa de Ziraldo, "1o de Maio" vale, no mínimo, como documento de um evento.
2 - Richie Havens é um nome conhecido dos curtidores do pop da camada "geração Woodstock". Afinal, com "Connections" (Elektra/WEA) chega ao 14o elepe em mais de dez anos de estrada. E se diz um cantor do povo: "meu objetivo é mostrar que as pessoas não são na realidade tão distantes umas das outras, quanto elas pensam que são. "Minhas Canções falam sobre relações que todos nós temos, não interessando de que cor ou raça sejamos, de onde tenhamos vindo ou de quão simples o sofisticado nos tornemos". E com o objetivo de mostrar musicalmente esta visão ecumênica, Havens interpreta músicas de Paul McCartney ("Every Night" ), ao lado de composições próprias ("Here's The Song") e de novos autores, inclusive uma apropriadamente intitulada "Roots", que defina como "uma declaraçào, num sentido mais amplo que o africano: a natureza não tem cor, não tem preferência por nenhuma cor".
3 - A K -Tel já tem um elenco nacional próprio que lhe permite montar um lp intitulado "Escolhidas pelo Povo". São artistas populares na mais ampla extensão, que tem uma linguagem direta com as camadas mais humildes. Termos desde a renovada Edith Veiga, agora procurando um tipo sexy, seios quase a mostra, o veteraníssimo Carlos Gonzaga (cantor de rock-versões nos anos 50) e novas interpretes como Lenita, Susamar e Diana, o gauchesco Ramoncito Gomes, ou Romulo de Alencar, Gilberto Montenegro, Miltinho Rodrigues, Carlos Coutinho e João Silva. Ativamente representada por Armando Heyn, a K-Tel está fazendo força para entrar no mercado.
4 - A gorda e loira Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva), paulista de Santos, 70 anos a serem completados no dia 1o de setembro próximo, está hoje merecidamente aposentada. Uma das primeiras cantoras a assumir o colonialismo, tanto é que adotou um pseudônimo americano e cantava em inglês sem saber uma única palavra da matriz, chegou, entretanto a excursionar com algum sucesso nos EUA. Como herança deixou não apenas alguns poucos lps ("Leny Eversong em foco", 1953; "Rítmo Fascinante", 63; "A Internacional Leny", 66) muitos 78 rpm e um filho, Alvinho (Álvaro Augusto), também santista, que começa agora a se destacar em sua carreira. Há alguns anos que Alvinho já vinha acompanhando a mãe, mas só agora, tem chance de fazer seu primeiro lp; com o título de "Momentos" (Quarto de Hotel), composição de Arnaldo Saccomani, com claras referências ao erotismo, presente também em outras faixas de Tony Osanah ("Sou Seu Homem", "Me Faz Sentir"). A produção é de Arnaldo Saccomani, autor ainda de "Se Alguém Errou", e a edição é da Continental. Enfim, se Leny cantava em inglês, Alvinho pretende atingir o público, numa linha mais excitante. E na qual tudo vale...
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