1 - Começamos afinal a ver aquilo que se poderia chamar, auspiciosamente de início do "boom" do chorinho. Clubes de choros são fundados, as mais importantes publicações dedicam reportagens aos nosso chorões e, principalmente, as gravadoras estimulam-se a editar discos de choros. Por exemplo, aproveitando registros antigos, de lps há muito esgotados, a Chantecler vem de lançar o volume 2 de "Chorinhos e Chorões" (Rosicler, 2-12-407-240, fevereiro/77), que mesmo com conjuntos paulistas pouco conhecidos é um belo disco de choros. Com o excelente Domingos Pecci e o conjunto temos "Nenê" e "Mágoas de um Chorão", composições próprias; com Evandro, extraordinário executante de bandolim, já com vários lps gravados (CBS, Marcus Pereira) são as faixas "Bem-Te-Vi Atrevido" (Lima Pesce) e "Meu Bandolim no Choro" (Evandro-Daniel). Mauro Silva e seu conjunto apresentam "Pé de Moleque"; Carlinhos Mafasoli recria um antigo choro de Mário Zan-Piraci ("Puladinho") e o famoso conjunto Atlântico apresenta "Surú na Cidade" de Zequinha de Abreu. Temos ainda Caçulinha e seu conjunto, com um surpreendente choro de Luiz Gonzaga ("Sabido"), Joãozinho do cavaco ("Beija-Flor" e "Suave Murmúrio", criações próprias), Rago e seu conjunto ("Este é o Coro") e David Saidel apresentando "Por que choras Acordeon". 2 - George Melachrino já teve uma época de grande popularidade: sua grande orquestra de cordas, na linha de André Kostelanetz, misturando o popular ao clássico agradava muito. Desaparecido há anos do meio fonográfico, uma visão do estilo adocicado e gosto (pra que negar!) do maestro é oferecida em "The World of Melachrino" (Londres/Coronado, SC 15022, dezembro/76), reedição de registros feitos na Decca inglesa, há 8 anos passados. Os temas são mais do que conhecidos, mas sempre se ouve com prazer: "Warsaw", "Concerto", "Berceuse de Jocelyn", "Deep in My Heart Dear", "September Song", "Three Coins In The Fountain", "Autumn Leaves", "Ah! Sweet Mistery of Life", "La Golondrina", "Serenade" e "The Legend". 3 - Altemar Dutra é um dos cantores de maior vendagem do catálogo da RCA Victor, com seus bolerões, versões de músicas italianas e mesmo espanholas, sem esquecer a dupla Jair Amorim-Evaldo Gouveia, de quem tem sido intérprete de tantos sucessos. "Sempre Romântico" (Victor 103.0193, fevereiro/77), é um disco de Dutra, com um equilibrado esquema comercial, garantido pelos produtores Osmar Zan e Marcelo Duran e entendido nos arranjos de José Paulo Soares, Daniel Salinas, Élcio Alvares e Pepe Avila. Temos versões, é claro - "A mais Linda do Mundo" (La Piu Bella del Mondo) , E Partirás" (Y Te Vas), temas promovidos por telenovelas ("Vá mas Volte" de Vando, da telenovela "Duas Vidas"), bolero de Jair Amorim/Evaldo Gouveia ("Voltei para Ficar"), um popurri de Luís Vieira ("Os Olhinhos do Menino", "Prelúdio para Ninar Gente Grande", "Az de Meu Amor"), uma música póstuma de Milton Carlos (1952-1976) - "Um jeito Estúpido de Te Amar", um antigo sucesso do Trio Nagô ("Cabecinha no Ombro", de Paulo Borges) e até uma nova música de Rildo Hora-Sérgiio Cabral ("A Bela da Tarde"). Que salada! 4 - Alain Debray poderia parecer um pseudônimo se a foto de um cidadão de vastas barbas e bigodes, na capa, acariciando um globo gigante, não garantisse a sua real existência: "Around the World" (RCA, 104.7054, fevereiro/77), produção de Marcelo Duram, traz um grupo instrumental-vocal, dirigido por Debray, com 10 violinos, 2 cellos, bandolim, duas guitarras, quatro trombones, quatro pistons, sax-tenor, sax-alto, teclados etc., e mais seis vozes, numa seleção das mais diversificadas, na linha do "som discotheque", que torna irreconhecível temas como o belo "Adios Nonino" (Piazzolla), a "5ª de Beethoven" e mesmo "Laura", mas por certo garantirá ao disco um boa vendagem comercial.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Jornal da Música

Página: 29

Data: 10/04/1977

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