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Aramis

Empresários da Saúde

O médico-sanitarista Carlos Gentille de Mello acaba de lançar o livro "Saúde e Assistência Médica no Brasil", onde denuncia a crescente mercantilização da medicina, através das formas de pré-pagamento por serviços médicos e pela privatização da assistência médica da previdência. Aliás, denunciar as distorções do atual sistema de saúde é uma constante na atuação do sanitarista Gentille. Segundo ele, o "sistema corrupto da Previdência e o pagamento por unidade de serviço estimulam os médicos à prática de atos antiéticos: desnecessários e até mesmo prejudiciais ao doente. Gentille, em "Saúde e Assistência Médica no Brasil" diz que num pais com as caracteristicas do nosso, a assistência médica não pode ser privatizada, pois "a privatização vem sempre acompanhada do lucro", o que para ele é incompatível com nossa realidade social. Talvez seu argumento mais forte, embora não se trate de uma novidade e sim mais um documento para reafirmar a questão, é o de que não pode haver saúde sem um desenvolvimento econômico paralelo. O médico partiu de uma pesquisa que realizou em diversas cidades do Interior, onde comparou o número de cidade sem médicos com o de munícipios sem agências bancárias, demonstrado que eles praticamente se sobrepõe. Entre os temas abordados no livro, o capítulo destinado a "epidemiologia das cesárias", é muito interessante. No tópico, Gentille demonstra que o número de cesárias em hospitais pagos ou conveniados pela Previdência é muito maior que nos hospitais públicos, "com graves riscos para as parturientes e gordos lucros para os empresários da saúde". TIROU CINTO DE CASTIDADE Na edição de sábado último do "Jornal do Brasil", uma matéria com o seguinte título: "Gaúcha toma coragem e vai à polícia tirar cinto de castidade em uso há três anos". A notícia diz que Lore Metz Buenos, de 25 anos, denunciou estar sendo obrigada por seu marido, professor Adão Geraldo Buenos, também com a mesma idade, a usar um cinto de castidade e a viver em um cárcere privado. Em seu depoimento, Adão disse que desconfiava embora não tivesse provas, da infinidade da mulher e "com medo de passar vexame frente à sociedade" a submeteu a viver num cárcere fechado, lacrando as portas e janelas com tiras de papel, que ele rubricava. Desa maneira, Lore só podia ir ao banheiro à noite, horário em que seu ciumento Adão voltava do trabalho. Adão, em sua defesa apresentou o argumento de que sua mulher tinha aceito como numa bermuda de tergal presa à cintura por uma correia de pneus que, nas costas, era fechada por um cadeado. O delegado de Polícia de Ijuí, Porto Alegre, abriu inquérito policial contra o professor, enquadrando-o nos artigos 129 (lesões corporais) e 148 (cárcere privado) do Código Penal, ficando sujeito a pena de dois a oito anos. Com relação ao fato de ter obrigado sua eva a usar um cinto de castidade, não cabe punição específica, pois depois da Idade Médica, nosso Código evoluiu muito, ou pelo menos um pouco mais que a mentalidade do Adão. Agora, sua mulher, sem cinto, vive com sua família, bastante jovem e livre do marido pelo menos nos próximos dois anos, com uma longa vida pela frente. Enquanto isso, o professor Adão, que recrimina o pecado original, ficará dando aulas, provavelmente de Histórias Medieval, num cárcere, a exemplo de sua esposa, só que sem um cinto de castidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
13/12/1977

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