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Aramis

Enquanto não chega "Sentidos", as paixões

Apesar da presença marcante dos imigrantes japoneses no Paraná, infelizmente o cinema daquele país, continua a ser pouquíssimo conhecido entre nós. Com exceção dos heróicos esforços de José Augusto iwersen, período do Cine Arte Riviera (1966/1970) e de exibições esporádicas na Sociedade Pinheiros, da comunidade nissei, raros foram os filmes japoneses que chegaram a nossas telas. Mesmo clássicos de Akira Kurosawa como "Viver" (Kiru, 1952) ou "O Idiota" (1951) tiveram sessões avulsas, não passando de um dia em cartaz. Se "Os Sete Samurais" (81954) chegou a merecer grande repercussão - e inclusive reprises, os demais filmes de Kurosawa e tantos outros cineastas talentosos do milenar Japão, jamais chegaram às nossas telas, embora até há pouco viessem regularmente a São Paulo e algumas cidades do Norte do Estado, especialmente Uraí e Assaí, onde quase toda a população é oriunda ao descendente do país do Sol nascente. Assim, cada vez que um filme japonês consegue chegar às nossas telas, merece ser verificado, já que só se habituando a ver os filmes japoneses pode-se melhor entender a sua forma de comunicação, sua temática e suas propostas. Nagisa Oshima conseguiu se tornar um nome famoso antes mesmo de seus filmes chegarem ao Brasil: "O Império dos Sentidos", rodado em 1975, foi um escândalo mesmo junto às mais liberadas platéias européias. Concentrando sua ação na relação sexual de um casal de amantes, durante 98% das [seqüências], com cenas totalmente desinibidas, provocou naturais reações. Longe, entretanto, de ser um filme pornográfico, "O Império dos Sentidos" é uma obra-de-arte, premiada internacionalmente e que, após muitos recuos, foi liberada pelo Conselho Superior de Censura, embora só para "salas especiais" - até hoje ainda não regulamentadas no Brasil. Mas políticos hipócritas e puritanos como o senador Dirceu Cardoso (PDS-ES) têm investido contra o filme de Oshima, sem sequer conhecê-lo. A polêmica em torno de "O Império dos Sentidos" fez com que a Artenova Filmes - do mesmo grupo da editora, conseguisse lançar ainda no ano passado "O Império da Paixão" (Cinema 1), que o mesmo diretor, Nagisa Oshima, realizou em 1978. Perto de "O Império dos Sentidos", este "Ai no Borei" é um filme pudico e bem comportado: com exceção de algumas, poucas [seqüências] do relacionamento de Seki (Tatsua Fugi), o filme tem um desenvolvimento bem comportado. A história dos amantes que matam o marido, que volta como fantasma para levá-los a condenação final não é nova. Já houve inúmeras versões em torno do mesmo tema. Entretanto Oshima conseguiu realizar um filme agradavelmente belo, no que colaborou muito a fotografia com suaves nuances e uma trilha sonora bem estruturada, num trabalho de Toru Takemitsu.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
04/10/1978

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