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Aramis

Entendimento para que o nosso cinema deslanche

Ninguém fumou o simbólico cachimbo da paz mas mensagens de fumaça indicam que há clima de entendimento. Após uma reunião de três horas entre uma dezena de jovens cineastas paranaenses, realizada na semana passada, na Secretaria da Cultura, chegou-se à conclusão de que acima de interesses individuais e divergências de grupos, há que se tratar de objetivos maiores - que possam fortalecer a ainda fraca cinematografia paranaense. Em sua objetividade que a faz uma das mais eficientes produtoras, Lu Rufalco lembrou o exemplo dos gaúchos, que, em menos de 6 anos, fortaleceram-se com realizações em 35mm, constituindo hoje um real pólo cinematográfico. Palito (Nivaldo Lopes), que fez das tripas coração para aqui realizar seu interessante "A Guerra do Pente", há dois anos, levantou questões que incomodam a chamada Turma do Balão Mágico - que vem, há pelo menos 3 anos, tentando fazer cinema - inicialmente em super 8, passando para o 16mm e vídeo e agora com projetos de 35mm, como Willi Schumann quer fazer o documentário sobre o pintor Theodoro de Bonna e o próprio Palito pensa em reconstituir a trajetória do compositor Lápis na vida musical curitibana dos anos 60 e 70. Energia e criatividade não faltam aos nosso realizadores - haja visto que quatro curtas aqui produzidos foram inscritos para a comissão de seleção do Festival de Gramado. Faltam recursos técnicos e financeiros e basta dizer que a anunciada compra de uma moviola para o Museu da Imagem e do Som, anunciada com estardalhaço no apagar das luzes do governo João Elísio, não passou de uma grande mentira: o processo não saiu das gavetas da burocracia e o máximo feito foi o pagamento de taxas de importação. A verba aprovada na época não daria hoje nem para pagar 10% do custo de uma moviola - que além do mais nem teria um espaço próprio, na incômoda sede do MIS, um casarão (também adquirido no infeliz governo Richa) que Francisco Bettega Neto, muito bem classifica de "pombal", tal a sua forma incômoda e pouco prática para uma unidade cultural. Está na Secretaria da Cultura uma proposta do produtor e cineasta Jaime Brustolim, que interessado em passar totalmente para o vídeo, se dispõe a vender por US$ 100 mil, todo seu equipamento cinematográfico - câmeras em 35mm e 16mm, moviola jogos de lentes e filtros e vários outros aparelhos que, a preço de mercado, valem hoje mais de US$ 500 mil - e que encontrarão interessados, no eixo Rio-São Paulo, assim que sua proposta for anunciada. Só que, em primeiro lugar, Brustolim gostaria que este equipamento - ao que consta, bem conservado e não obsoleto (à disposição para vistoria a quem se interessar possa) ficasse no Paraná, aqui servindo aos nossos realizadores - que até hoje não dispõe de mínima infra-estrutura fora das empresas (Sir, Brustolim, Audisom) para rodarem seus filmes. US$ 100 mil é uma soma considerável - mas que pode render imensos lucros culturais desde que o equipamento seja bem administrado e sirva a fixação de uma geração criativa em termos de imagens. O cinema paranaense tem gente competente aqui, jovem e bem intencionada. Não pode continuar sendo vista para aproveitadores que vem mamar nas tetas oficiais e auto-promoverem-se nacionalmente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/05/1988

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