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Aramis

Entre as estréias, a emoção de A História Oficial

Emoção. Eis o sentimento primeiro que provoca a visão de "A História Oficial", para nós, até o momento, o melhor lançamento em 1986 - e em exibição desde quinta-feira no Palace-Itália. Na pré-estréia, na noite de segunda-feira, convidados especiais se emocionaram com este filme que recebeu 26 premiações em 13 festivais internacionais realizados em 1985 - e acabou, mais do que merecidamente, obtendo o Oscar-86, como o melhor filme-estrangeiro. Um filme político sem ser panfletário, dramático sem ser dramalhão, atualíssimo, corte visceral da realidade, a História Oficial é daquelas obras que engrandecem a cinematografia de qualquer país e seu lançamento é apenas a ponta-de-lança do novo e vigoroso cinema argentino, da era Alfonsin - que terá, ainda este semestre, outro belíssimo filme - Tangos - Gardel no Exílio, de Fernando Solimas, que encerrou o II FestRio e que a Alvorada (ex-Gaumont) adquiriu para lançar no Brasil. Mas a semana cinematográfica tem mais três estréias. Duas delas, aliás, marcadas e remarcadas várias vezes - dentro da confusão habitual, (e normal) do mapa das programações, onde um filme que apresenta boa bilheteria acaba tendo sua temporada estendida. Assim, O Sol da Meia-Noite (With Nights), de Taylor Hackford ("A Força do Destino") já deveria ter sido lançada no Astor há mais de um mês. Entretanto, foi sendo adiado a até a reprise de Christiane F..., Drogada e Prostituída, surpreendentemente alcançou tão boa renda que acabou ficando duas semanas. Agora, finalmente, O Sol da Meia-Noite estréia - e para compensar a demora e como João Aracheski, com seu faro cinematográfico, sente que esse filme misturando balé e política internacional, pode repetir o êxito de "Momentos de Decisão" (Turning Point, 77 de Herbert Ross), o programou para dois cinemas: Astor e Cinema I. Também Força sinistra (Lifeforce), ficção científica de Tabe Hooper ("Poltergeist"), que já deveria ter estreado em abril, aproveitando ainda a motivação da passagem do Cometa Halley, também acabou tendo sua estréia retardada - e só agora está no cine Vitória. Baseado em romance do bom escritor de SF Colin Wilson, Hooper desenvolveu um filme de tema fantástico: três vampiros espaciais viajam no rabo do Cometa Halley e trazem morte e destruição à Terra ao serem despertados. Na ficha técnica, o destaque maior vai para a trilha sonora de Henry Mancini, colecionador de Oscars e Gramies nos anos 60, responsável por antológicas sound tracks, mas que há anos estava fora do cinema - talvez desiludido pela mediocridade da produção musical. Pena que até agora a música de "Força Sinistra" não tenha saído em lp no Brasil. No elenco, gente nova, e pouco conhecida: Steve Railsback, Peter Firth, Frank Finlay, Mathilda May, Nicholas Ball etc. Balé & Política Duas das canções da trilha sonora de Michel Colombier para "O Sol da Meia-Noite" (edição no Brasil da WEA Records) foram indicados ao Oscar: "Separate Lives" (interpretada por Phil Collins/Marilyn Martin) e "Say You Say Me" (Lionel Ritchie), que acabou sendo a premiada com o troféu. Só que somente no final do filme é que se ouve esta canção - e quem sair do cinema apressadamente nem tomará conhecimento da música de Lionel Ritchie. Com uma das estrelas da dança contemporânea, o dissidente russo Mickahil Baryshnikov - revelado como ator há 9 anos, em "Momento de Decisão" - "White Nights" tem um argumento interessante: um avião em que viaja um famoso bailarino, Nikolai Rodchenko (Baryshnikov) exilado russo, é obrigado a fazer um pouso de emergência em uma base militar russa na Sibéria. Surge daí toda uma situação política, com os russos retendo o bailarino que havia fugido do país - e seu envolvimento com um ex-soldado americano, Raymond Greenwood (Gregory Hines), que havia feito o inverso: desertor da guerra do Vietnã procurou asilo na Rússia. Entre discussões políticas e questões de exílio, o filme tem muitas seqüências de balé, o que deverá fazer a delícia dos admiradores do gênero - que são milhares de pessoas haja vista o crescimento das academias e estúdios entre nós. No elenco de suporte do filme há duas presenças especiais: Jerzy Skolimowski, cineasta polonês (a exemplo de Polanski, também exilado no Ocidente), como o coronel Chaiko e a excelente Geraldine Page, veterana atriz americana, 8 vezes indicada ao Oscar e, finalmente premiada este ano (mas não pelo seu trabalho neste filme). Quem estréia, como Darya Greenwood - esposa do americano Raymond - é Isabella Rosselini, filha de dois monstros sagrados do cinema dos anos 40: o diretor italiano Roberto Rosselini e a atriz sueca Ingmar Bergman. Entre os coreógrafos convocados para as cenas de dança está o francês Roland Petit, que em 1960 esteve em longa temporada em Curitiba, e que para este filme de Taylor Hackford fez uma coreografia de "Le Jeune Hommet et La Mort". Atrações não faltam para fazer de O Sol da Meia-Noite um filme capaz de permanecer muitas semanas em cartaz. A História Oficial A propósito deste filme de Luís Puenzo, 40 anos - completados dia 19 de fevereiro, a crítica internacional tem sido quase unânime: um filme perfeito. Raras vezes na história do cinema um estreante no longa-metragem chegou com tanta segurança e vigor, o que se explica pelo seu passado no cinema publicitário, uma boa escola, sem dúvida. Também a felicidade foi encontrar um elenco esplêndido. A começar por Norma Aleandro, filha, irmã e mãe de atores, começou no teatro ainda criança. Já representou em peças de todos os gêneros e épocas e fez também experiências como diretora. Atuou na televisão argentina, escreve contos e poemas e foi premiada por um roteiro cinematográfico. Como tantos argentinos, sofreu também o exílio e só voltou ao seu país em 1982, quando fez o papel central de "A Senhorita de Tacna", baseado em Mário Vargas Llosa. "A História Oficial" é o seu sétimo filme. Hector Alterio - o "Roberto" do filme - é também outro artista argentino que passou anos no exílio. Voltou há poucos anos e já atuou em dois filmes marcantes: "Camilia" e este "A História Oficial". Em 1974 trabalhou em "La Tregua", produção argentina que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro naquele ano. Na Europa, atuou, entre outros, em dois filmes excelentes: "Cria Cuervos" de Carlos Saura e "O Quarteto Basileu". Mulher por Computador Dentro de um novíssimo gênero - o cinema informático - ou seja, aquele que tem por tema a mais nova das influências na humanidade - o computador, Mulher Nota 1000 (Cine Condor), desde ontem, é uma comédia divertida e interessante. Dirigida por John Hughes, a atração maior está na presença da escultural Kelly Le Brock, realmente uma mulher nota mil, que encantou em "A Dama de Vermelho". Ao seu lado, jovens intérpretes: Anthony Michael Hall, Ilan Mitchel Smith, Bill Paxton e Suzane Snyder. A música é de Ira Newborn. LEGENDA FOTO - Norma Aleandro e Chunchuna Villafane, duas atrizes notáveis, em "A História Oficial", em cartaz no cine Palace-itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
7
04/05/1986

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