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Aramis

Entre muitas estréias, o novo filme de Woody Allen

Se na semana passada houve apenas uma (decepcionante) estréia - a produção gaúcha "Me Beija", de Werner Schunemann - agora temos nada menos que sete lançamentos, três dos quais de primeira linha - candidatos fortes a figurarem entre os melhores do ano. Somando-se as reprises de "A História Sem Fim" (The Neverending Story), de Wolfgang Petersen - o mais belo filme destinado ao público infantil desde "O Mágico de Oz" (1939) - que volta ao CINEMA I, e as continuações de "A Cor Púrpura", de Spielberg (agora no Itália), "Karatê Kid II: A Hora da Verdade Continua" de John G. Avidsen (até o dia 15, no Vitória) e "Ases Indomáveis", de Tony Scott (Condor) temos uma semana de excelentes opções cinematográficas. ALLEN-86 - Oito meses após ter estreado em Nova Iorque, chega o aguardado filme de Woody Allen produzido para este ano: "Hannah e suas irmãs". Recebido com os mais entusiásticos elogios, Allen, 50 anos, 14 filmes, mostra, mais uma vez, toda sua sensibilidade e corrosivo (atualíssimo) humor neste novo retrato do quotidiano americano - que em sua ótica transforma-se em universal. Fazendo as platéias sorrirem, Allen tem tocado em pontos importantes do relacionamento humano, numa empatia que faz cada um de seus filmes transformar-se em uma nova obra-prima. Há 9 anos era "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall), com toques de Fellini, enquanto que já no ano seguinte, apenas como diretor, realizava o profundo "Interiores", ao qual, de certa forma, este "Hannah and her sisters" parece ter alguns pontos em comum. Mais uma vez Allen faz de Nova Iorque o seu micromundo - esta cidade que tão bem soube colocar em "Manhattan" (1979), "Memórias" (1980) e "Broadway Danny Rose" (1985). Trabalhando com um elenco extraordinário - o inglês Michael Caine, sua esposa Mia Farrow, Carrie Fisher, a sensual Barbara Hershey (aquela adolescente que Frank Perry lançou em 1969, em "O Último Verão"), o veterano Lloyd Nolan e Maureen O'Sullivan (a "Jane" dos melhores filmes da série Tarzan, mãe de Mia) - Allen trabalha mais uma vez com uma equipe de primeiro nível. Desta vez o fotógrafo é o italiano Carlo Di Palma (que no Brasil fotografou "Gabriela") e a trilha sonora é montada com o bom gosto musical de Allen, jazzista amador que, às segundas-feiras, dá canja como clarinetista no Michael's Pub, em Nova Iorque. Uma história de envolvimentos familiares, na qual Allen toca em dois dos temas que sempre o preocuparam e que busca explorar, com humor e inteligência, em seus filmes. Um deles é: diante da pouca importância da vida, por que devemos optar por viver? O outro: o que acontece com um indivíduo cujos impulsos adúlteros se voltam para alguém da própria família? Um filme com tudo para atingir um público sensível e inteligente. Espera-se apenas que a imbecilidade que tem feito o Plaza perder público em bons filmes que vem lançando apenas numa semana, ceda lugar ao bom senso e esta fita de Allen permaneça pelo menos 3 semanas em exibição. OUTRAS BOAS ESTRÉIAS - Mostrando agilidade em "Flash Dance", Adrian Lyne revela-se um cineasta de pulso em "9 1/2 Semanas de Amor", que num clima de explendor sexual (há mesmo quem veja insinuações de sexo explícito), reúne dois novos jovens e marcantes "sex symbols" do cinema americano dos anos 80: a bela loira Kim Basinger e Mickey Rourke (o herói de "O Ano do Dragão", de Michael Cimino, exibido até quarta-feira última no Palace-Itália). A incrementada trilha sonora deste "9 1/2 Weeks", com hits do rock, já foi lançada no Brasil pela Odeon. Steno (Stefano Vanzina), 70 anos, 38 de cinema - no início em parceria com Mario Monicelli - sempre marcou seus filmes pelos aspectos sociais e políticos, mas com um humor bem italiano. Reduzindo sua produção nos últimos anos, após fitas vigorosas como "A Polícia Agradece" (1972) o veterano cineasta reaparece com "O Tango da Traição" (Il Tango Della Gelosia), em lançamento no Groff. No elenco, ao menos dois nomes conhecidos - Monica Vitti e Philippe Leroy, mais Diego Abatantuono e Jenny Tamburi. Um filme de verificação obrigatória. Enquanto "Com Licença, Eu Vou à Luta", de Lui Farias, ganha ainda mais uma semana no Ritz, finalmente estreou, no São João (uma sala desaconselhável para este tipo de filme) o leve, gracioso, sapeca e imperdível "A Marvada Carne". Grande premiado no festival de Gramado, há 2 anos, com Fernanda Torres excelente no papel de uma caipira que deseja encontrar seu príncipe encantado, eis um filme de profundas raízes brasileiras, revelando o talento do estreante André Klotzel e que merece ser visto atenciosamente. ROCK, SUSPENSE, ANTICOMUNISMO - As outras estréias trazem também surpresas para diferentes faixas de espectadores. "Fantasia de Rock" (Rock & Rule), de Clive A. Smith, é mais um filme de animação, na linha de super-heróis embalados no mundo do rock. Destinado à platéia jovem, sua maior atração são os grupos que participam da trilha sonora (até agora inédita no Brasil): Cheap Trick, Earth, Wind & Fire, Debbie Harry, Lou Reed e Iggy Pop. No cine Luz 5 sessões. Com o sucessor de Bruce Lee na linha karatê, o insosso Chuck Norris, "Invasão dos Estados Unidos", de Joseph Zito, produção de Menahem Golan/Yoram Globus, apena para a linha do nacionalismo exacerbado e anticomunismo estilo anos da Guerra Fria. Assim como "Amanhecer Sangrento", exibido há alguns meses, trata de uma hipotética invasão soviética nos EUA - e para enfrentar os sanguinários comunistas nada melhor do que Chuck Norris. Violência, anticomunismo barato e muita ação neste filme em lançamento no Palace Itália. A idéia não é nova e Agatha Christie, entre outros escritores policiais, já explorou exaustivamente: a reunião de pessoas desconhecidas num determinado ambiente, um crime e a investigação sobre todos os suspeitos - cada um com sua razão para cometer o crime. Mas a fórmula do suspense sempre funciona e pode até dar interesse a este "Os 7 Suspeitos" (Clue), que Jonathan Lynn desenvolveu com base num daqueles chamados "jogos adultos", em roteiro no qual teve a colaboração de John Landis. No elenco, não há nomes famosos - apesar da competência de Eileen Brenna, Tim Curry e Madeline Kahn (que Mel Brooks lançou em "Frankenstein"). Música de John Morris. Em exibição no cine Lido I, desde ontem. Dirigido por uma mulher - Michelle Manning - e baseado na novela de um dos mais populares autores policiais, Ross MacDonald, "Cidade Corrompida" (Blue City) estréia amanhã no Lido II. Alguns elementos interessantes: a história é sobre um jovem, Billy Turner (Judd Nelson), que ao voltar a sua cidade descobre que seu pai havia sido assassinado. Decide então enfrentar os assassinos. Ou seja: um esquema que lembra westerns dos anos 50. Só que numa ambientação urbana e contemporânea. Nelson, o astro, é um dos novos rostos do cinema americano, visto já em "O Clube dos 5" (onde também apareceu Ally Sheedy, primeiro nome do elenco feminino e "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas"). David Caruso, o amigo de Billy em sua luta contra os corruptos da cidade, apareceu em "Ladrão de Corações" e "Rambo I". Uma atração à parte: a trilha sonora do esplêndido Ry Cooper ("Paris, Texas"). CIRCUITO PARALELO - Nas sessões extras, várias atrações. Amanhã, somente para a imprensa, uma pré-estréia de "Por Incrível que Pareça", comédia de Uberto Molo, que o Condor lança dia 18. No Astor, amanhã, à meia-noite, pré-estréia do violento "Comando Delta", que na próxima semana substitui "Karatê Kid II" no Vitória. No Groff, amanhã à meia-noite e domingo às 10 horas, "Fitzcarraldo" de Werner Herzog. A Cinemateca apresenta dois clássicos de Billy Wilder neste final de semana: hoje ainda, "Sabrina", 54, com Audrey Hepburn e Humphrey Bogart. Amanhã e domingo, "O Pecado Mora ao Lado", 55, com Marilyn Monroe e Tom Ewell. LEGENDA FOTO - Woody Allen e Mia Farrow em "Hannah e suas irmãs": a melhor estréia da semana. No cine Plaza.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
14
10/10/1986

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