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Aramis

Equilibrada premiação no Festival de Gramado

Foi equilibrada, habilidosamente política e até ecumênica a premiação do Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, nesta sua 14ª edição, encerrada na madrugada de domingo. Assim como o Festival foi marcado por filmes interessantes, de bom nível - com a presença de centenas de personalidade do mundo cinematográfico, mas sem qualquer protesto ou pequeno escândalo capaz de justificar fofocas maiores na cobertura que quase 200 jornalistas realizavam, também, no final, a decisão do júri, foi recebida com aplausos. E, a festa continuou depois da entrega dos Kikitos no cine Embaixador, nos salões do Gramado Tênis Clube. O equilíbrio funcionou: Sérgio Rezende, 35 anos - completados em Gramado, na última quarta-feira - viu o seu "O Homem da Capa Preta" receber tanto os Kikitos de melhor filme, do júri oficial - presidido pelo ator Othon Bastos - como do júri popular, com a média de 9,2% - "a maior desde que a democrática instituição dos espectadores opinarem foi introduzida no Festival", como anunciou a sempre elegante Tânia Carvalho - que dividiu com Clóvis Duarte, as funções de mestre-de-cerimônias. Carlos Reichenbach, 40 anos, cujo "Filme Demência" dividia com "O Homem da Capa Preta" as preferências do júri e imprensa, ficou tão emocionado por sua escolha como melhor diretor que perdeu a voz e nem pôde agradecer a esta consagração, particularmente importante a um cineasta estigmatizado por suas origens na chamada "Boca do Lixo", em São Paulo, mas que há dois anos já havia merecido uma menção especial ao concorrer em Gramado com "Extremos do Prazer". "O Homem da Capa Preta" teve ainda três outros Kikitos: o de melhor atriz para Marieta Severo (mas para sua premiação, o júri considerou principalmente sua dramática atuação em "Com Licença, Eu Vou à Luta" de Lui Farias e sua curta, mas marcante, presença em "Sonho Sem Fim", de Lauro Escorel); Melhor ator - José Wilker (prêmio que, no entender de muitos, deveria ter sido dividido com Ênio Gonçalves, por sua atuação em "Filme Demência"), mais do que merecidamente, o de trilha sonora a David Tygel, num páreo duro, em que houve outros excelentes compositores com sound track em disputa (Sérgio Sarraceni por "Fulaninha"; Antônio Adolfo por "Sonho Sem Fim"). Se houvesse premiação para melhor canção original - aliás, uma das reivindicações dos compositores à comissão organizadora para o próximo festival - Paulinho da Viola seria o vitorioso: a canção "Fulaninha", que fez para o filme de David Neves é excelente e será uma das faixas fortes de seu tão aguardado novo lp, finalmente em fase de produção. "Filme Demência", a obra mais criativa apresentada em Gramado, ganhou também dois outros Kikitos: melhor montagem (Eder Mazini) e melhor ator coadjuvante, para Emílio Di Biasi, 40 anos, 20 de teatro, só agora estreando em cinema. Este prêmio foi dividido com Flávio São Thiago, por sua emocionante atuação em "Fulaninha". Lui Faria, 27 anos, saiu satisfeito de Gramado: ganhou o Kikito de melhor roteiro (desenvolvido com ajuda do pai Roberto Farias, mais Alice de Andrade, Marcos Magalhães, Fernanda Torres e Marieta Severo) sobre o livro autobiográfico de Eliane Maciel (best-seller há mais de 3 anos) e Mauro Duque Estrada e Heron Alencar, técnicos de som, também receberam o Kikito nesta categoria. Imara Reis, atriz paulista, que há 2 anos já havia brilhado em Gramado por "A Flor do Desejo", desta vez conseguiu um Kikito: melhor atriz coadjuvante por sua curta atuação em "Sonho Sem Fim", embora esteja também marcante em "Filme Demência". José Tadeu Ribeiro foi o melhor fotógrafo por "Brás Cubas" e "Sonho Sem Fim", mas o prêmio Edgard Brasil, oferecido pela Kodak, também à fotografia para Carlos Egberto Silveira por sua nostálgica fotografia em "As Sete Vampiras", de Ivan Cardoso, que por sua recriação de época (anos 50) valeu a Oscar Ramos o prêmio de cenografia. Rita Murtinho criou figurinos tão perfeitos para "Sonho Sem Fim", filme de época, ambientado no Rio Grande do Sul dos anos 10 a 30, biografando o pioneiro cineasta Eduardo Abelim (1900-1983), que justificou a criação desta nova categoria - que até agora inexistia em Gramado. Rita, aliás, também foi a figurinista de "O Homem da Capa Preta", filme precioso em seu acabamento e cuja ação se passa entre os anos 30 a 60. Com dez longa-metragens no mínimo interessantes em competição, o resultado da premiação foi equilibrado - pode-se até dizer que justo. "Fulaninha", uma comédia de comportamento, extremamente carioca, poderia ter merecido alguma premiação especial, mas isto não tirou o humor de David Neves, uma das pessoas mais simpáticas do cinema nacional. O júri também agiu coerentemente, não premiando "Jogo Duro", de Ugo Giorgetti; "A Céu Aberto", de João Batista de Andrade e "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro, que já estiveram em outros festivais de cinema nacional no ano passado, assim como "Brás Cubas", só reconhecido por sua fotografia. Mas isto é tema para matéria mais longa, que fica para depois. LEGENDA FOTO - O momento final: vencedora da 14ª edição do Festival de Gramado exibem seus Kikitos na madrugada de domingo, no palco do Cine Embaixador. xxx Veja na página 8 os curtas premiados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
15/04/1986

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