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Aramis

Eron faz uma música para saudar Curitiba

"É bela, muito bela Ninguém vai dizer não Curitiba de tão bela Faz sorrir meu coração" Pelo menos cinco emissoras - Atalaia, Colombo, Cidade, 105 e 590 - já estão tocando com bastante regularidade a música que tem a estrofe acima. Se depender da disposição de seu compositor-intérprete, todos os prefixos deverão se integrar para fazer de "Curitiba Sai da Frente" um hino da cidade. Assim como o paulista Tito Madi (Chauki Maddi) em 1957, despretensiosamente, acabou dando ao Rio Grande do Sul a sua música-imagem - "Gauchinha Bem Querer" - Eron Vianna, paranaense de Palmas, desde 1973 fora do Estado e há 10 residindo em Recife, quer ter "a satisfação de dar uma música para a cidade que me deu tanto". "Curitiba Sai da Frente" é uma das 10 faixas de "Sonho Dourado", primeiro LP de Eron Vianna, lançado por uma nova etiqueta - a Acorde, selo pertencente a editora Lua Nova, pela qual também lançará dentro de alguns meses um livro denunciando a questão de direitos autorais e perda da identidade cultural no Brasil ("A Polêmica está Formada - No Direito Autoral, na MPB e na Cultura Regional", 700 páginas). xxx Eron Vianna e Pedro Lima - irmãos apesar dos sobrenomes diferentes ("justamente para evitar confusões"), tem suas raízes paranaenses mas carreiras desenvolvidas em outros estados. Eron residiu em Curitiba entre 1960 a l972, período que teve diferentes ocupações e acabando por ser o principal produtor do programa de televisão de Mário Vendramel, nos tempos pioneiros do canal 12. Recorda: Começou fazendo este elepê que vem promovendo em vários Estados. Ontem sexta-feira, esteve no Baile Municipal (Círculo Militar) para cantar "Curitiba Sai da Frente" e hoje, mais uma vez, estará no programa de seu amigo Mário Vendramel (TV Paraná/Canal 6, às 11 horas). Antes de retornar a Pernambuco, Eron Vianna quer entregar seu disco ao prefeito Jaime Lerner, "com a esperança de que se entusiasme com "Curitiba Sai da Frente". Outro objetivo é sensibilizar algum de nossos deputados federais para que se integre na luta pelo compositor e intérprete brasileiro, somando esforços na aprovação da legislação que fará com que se escute mais a MPB em nossas emissoras. - "Afinal, o compositor está cansado de comer pão com banana enquanto na troca do samba pelo rock, se vai o dinheiro que é do artista brasileiro". xxx - "Mário Vendramel, na época, tinha problemas de dentadura, e não se encorajava a enfrentar o dentista. Tive que levá-lo na marra para adquirir o sorriso Kolynos com que passou a apresentar o seu maxi-Show na TV Paranaense". Estimulado por amigos - que o admiravam como violonista e compositor, Eron acabou se encorajando a ir para São Paulo onde não se deu mal. Paralelamente a um trabalho de professor do Instituto de Leitura Veloz e Memorização, integrou-se ao meio artístico e teve uma composição ("Presente de Amigo", gravação de Alexandre Jardim) escolhida como prefixo do quadro "Boa Noite Cinderela", no Programa Silvio Santos. Encarando a luta dos direitos autorais acabou participando da fundação da Associação Brasileira de Autores e Compositores Musicais, num trabalho tão dinâmico que quando surgiu o ECAD foi convidado para gerenciá-lo na região Nordeste, com sede em Recife. Em Pernambuco deslanchou como compositor ("tenho hoje mais de 100 músicas, suficientes para 5 elepês"), passou a produzir um programa na Rádio Capibaribe e participar de programas na TV Jornal do Comércio. Num lp carnavalesco da extinta Mocambo foi incluída sua marchinha "Carnaval do Sardinha" (1982) satirizando o então ministro Delfim Neto e, logo depois, pela Copacabana, saía em compacto a sua "Pão com Banana", uma sátira ao colonialismo cultural na MPB: "O Brasileiro está entrando pelo cano Está trocando o samba pelo rock americano O americano está levando meu dinheiro E este dinheiro é do artista brasileiro". Bom orador, verbalizando rapidamente suas idéias e composições nacionalistas, Eron acabou liderando uma campanha em favor da reserva de mercado para a MPB nas emissoras brasileiras - tentando reciclar uma legislação de 1961, do tempo do governo Jânio Quadros, que previa 50% de música brasileira nas programações, "mas que nunca foi cumprida". Com um bom trabalho junto ao falecido senador Aderbal Jurema e aos deputados Nelson Gibson, Maurício Ferreira Lima e Cristina Tavares, conseguiu que a questão fosse prevista no artigo 221 da nova Constituição. - "Agora aguardamos a lei que vai "disciplinar", e já estamos colaborando com o deputado Maurício Ferreira de Lima em sua elaboração". Procurador do Sindicato Nacional dos Compositores Musicais, entidade fundada há 37 anos mas só agora de abrangência realmente nacional, Eron Vianna tem argumentos de sobra para criticar o colonialismo cada vez maior na programação das FMs, especialmente, com a marginalização das músicas de autores brasileiros. Que ele critica em seu "Pão com Banana": "Se eu fosse alguém na vida Eu dava logo a solução Eu fazia do meu samba A maior exportação E mostrava ao mundo inteiro Que o meu samba dá dinheiro É uma mina de carvão". A luta pela música brasileira teria irritado as multinacionais do disco, alega Eron, que acabaram pressionando a ECAD para demiti-lo de seu cargo. Fato que promete denunciar num segundo livro que está preparando. Se deixou a gerência do ECAD no Nordeste, nem por isto abandonou Recife: ali continua a viver, embora agora vá se dedicar mais à sua carreira de compositor e intérprete. LEGENDA FOTO - Eron Vianna: cantando Curitiba e defendendo os direitos dos compositores brasileiros.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/01/1989

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