Login do usuário

Aramis

A escalada de Toquinho, cada vez mais harmonioso

Toquinho está novamente na cidade. Após mais de dois anos de ausência este querido, simpático e comunicativo artista chega nesta quinta-feira para duas apresentações (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, sexta-feira e sábado, ingressos a Cz$ 200,00 e Cz$ 150,00), mostrando músicas novas e, naturalmente, aquelas que o Brasil todo já conhece. A promoção é de "O Estado do Paraná". Aos 40 anos, mais de vinte de vida artística, Toquinho está cada vez melhor. Também trabalha para segurar a peteca dentro do competitivo mercado musical. Violonista dos mais seguros, não desperdiça tempo e está sempre procurando novas harmonias, aprimorando a técnica e, humildemente, estudando. - "Por que iria deixar de estudar, se o mestre Segovia nunca deixou de fazer isto?" Da longa e inesquecível caminhada com Vinícius de Moraes - e foram doze anos de amizade e parceria - não ficaram apenas tantas composições que ele jamais deixa de apresentar em seus shows. Moço inteligente, sensível, aprendeu com Vinícius a arte de criar versos, da métrica, da letra bem estruturada - de forma que hoje é auto-suficiente: faz música, escreve os versos, trabalha nos arranjos, toca o violão e canta. Com sua voz personalíssima, agradável, afinada... UM ARTISTA INTERNACIONAL Toquinho é hoje um dos artistas brasileiros de maior prestígio no Exterior. Desde o início dos anos 70, quando iniciava sua parceria com Vinícius - época em que seu outro parceiro e amigo Chico Buarque, vivia auto-exilado na Itália, Toquinho começou a entrar musicalmente naquele país. Filho de pais italianos (seu nome verdadeiro é Antonio Pecci Filho), ele soube abrir seu espaço na Europa, a partir de Roma. Tanto é que hoje tem entre parceiros alguns dos mais ilustres poetas e artistas daquele país como Maurício Fabrizio e G. Morra - ou o francês Pierre Barou (em "Manhã do Rio") - e seus discos estão entre os que vendem bem. Há inclusive elepês que fez na Itália e que nem chegaram a sair no Brasil. Razão pela qual é difícil, sem uma pesquisa maior, enumerar sua fonografia - hoje já passando de trinta elepês, entre os que fez em dupla com Vinícius (e cuja grande maioria continua em catálogo), trabalhos solos e aqueles projetos para os quais convocou amigos, como os dois volumes de "Arca de Noé", voltado para as crianças. A BELA CARREIRA Um dos primeiros parceiros de Chico Buarque de Holanda - há 23 anos faziam junto "Lua Cheia" (música que Chico gravaria em seu segundo elepê, RGE, 1967), ex-aluno de Paulinho Nogueira - mestre querido ao violão, de quem nunca esqueceu - Toquinho mostrava já em sua primeira gravação (um compacto na RGE, 1964), sua admiração por uma das personalidades mais marcantes da Bossa Nova, Carlos Lira - gravando "Primavera" (letra de Vinícius, para o musical "Pobre Menina Rica"), tendo no lado dois outra música de Vinícius, esta com Tom: "Só tinha de ser com você". Em 1964, época dos primeiros shows no Teatro Paramount, a convite de Walter Silva (o Pica pau), Toquinho conheceu Baden Powell, outra influência das mais salutares. Em 1965, no Rio, estudou harmonia com Oscar Castro Neves e, através do amigo Chico, começou a participar de apresentações de cantores como Silvia Teles, Alaíde Costa, Nara Leão e Sérgio Ricardo. Ainda em 1965, dirigiu a parte musical da peça "Liberdade, Liberdade", de Millor Fernandes/Flávio Rangel. Em 1967 já era contratado da TV Excelsior e, em 1968 vencia um festival de MPB com "Na Boca da Noite", parceria com Paulo Vanzolini - e que entraria em seu primeiro LP na Fermata. Em 1969 a barra endureceu e Toquinho foi com Chico para Roma, onde conheceu a cantora Josephina Baker, acompanhando-a em shows por várias cidades italianas. Quando voltou ao Brasil, iniciaria uma parceria com Vinícius de Moraes, que só seria interrompida com a morte do poeta, em julho/80. Foram anos dos mais férteis e felizes, com Vinícius e Toquinho - e mais cantoras maravilhosas (como Maria Creuza, Clara Nunes, Marília Medalha, entre outras), o Quarteto em Cy, músicos como Mutinho (Lupiscínio Rodrigues Sobrinho, baterista, que até hoje está em seu grupo), o baixista Azeitona, entre tantos, acompanhando-os em temporadas marcantes. Em Curitiba, a 27 de dezembro de 1971, Vinícius e Toquinho - mais Marília Medalha e o Trio Mocotó, inaugurariam o Teatro Paiol, casa a qual voltariam no ano seguinte - já então com Clara Nunes. Depois, por várias vezes, eles aqui estiveram, sempre com ótimos espetáculos - com músicas novas e formações vocais diferentes. Vinícius é hoje saudade e lembranças queridas, mas Toquinho está marcadamente perfeito, fazendo músicas magníficas - como o choro "Bento Chaves" - que, com toda tranquilidade, apontamos como a mais bonita composição lançada no ano que passou. E que, esperamos, esteja na programação que Toquinho fará no Guaíra neste fim de semana, para alegria de seus inúmeros admiradores. LEGENDA FOTO - Toquinho, amanhã e depois.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
15
18/03/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br