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Aramis

Esperança para um novo tempo no cinema e vídeo

Uma das mais justas reivindicações que jovens cineastas paranaenses vão levar ao novo governo que inicia dia 15 é no sentido de que as produtoras de filmes e tapes comerciais com verbas oficiais abram maior espaço aos nossos realizadores. Felizmente, o novo secretário da Comunicação Social, ao contrário do atual, é um homem identificado a cultura e a comunicação, jornalista profissional há muitos anos e que se orgulha de sempre ter sido um apaixonado pelo cinema. Assim, o diálogo entre os novos cineastas e Fábio Campana será amplo e positivo, pois o Secretário da Comunicação Social do governo Álvaro Dias é um homem que entende a importância do cinema (e hoje do vídeo) se abrir a novos talentos - e não ficar apenas restritos a (grandes) interesses das (poucas) produtoras locais, cada vez mais ricas através de superfaturamentos. xxx Queixam-se - e com razão - os cineastas jovens, uma garotada de talento e entusiasmo entre 17/27 anos, que raramente tiveram oportunidade de fazer qualquer trabalho para o Estado. Em compensação, dos Cz$ 230 milhões que o governo João Elísio torrou nas últimas semanas para autopromover sua administração e plantar, politicamente, seu retorno ao Palácio Iguaçu, em 1990, muitos (destes milhões) foram para as produtoras de vídeos e filmes locais que, na maioria das vezes, buscam inclusive técnicos de outros Estados. Embora entenda-se que uma produtora tenha a responsabilidade de apresentar um trabalho tecnicamente perfeito - e que para tanto tem que utilizar profissionais competentes - poderia existir um aproveitamento mais racional de talentos locais, que não são, obrigatoriamente, funcionários das privilegiadas fornecedoras. Nisto cabe grande responsabilidade as agências de propaganda que repartindo os milhões de publicidade oficial raras vezes lembram-se de aplicá-los com o prestigiameno a realizadores que poderiam resultar em documentários de fôlego mais amplo do que a simples e imediata promoção oficial do governo que se encerra. xxx Os vários programas administrativos que tiveram "bons resultados" nos últimos quatro anos - e que, ao menos nas (caras) mensagens de televisão são assim apresentados - poderiam motivar curta-metragens, em vídeo ou cinema, que teriam uma vida mais ampla do que a simples utilização dos horários nobres. Por exemplo, porque o governo João Elísio, tão generoso na distribuição de verbas, não deu condições para que se fizessem documentários sobre as transformações sociais no Paraná, o comportamento que se modifica em comunidades que passam a ser beneficiadas com uma rodovia pavimentada, a extensão da rede de energia elétrica ou mesmo saneamento básico? Com talento, pode-se fazer qualquer assunto - mesmo com o enfoque publicitário - resultar numa obra de qualidade, capaz de ser levada até os festivais, obter prêmios e merecer exibições fora do circuito exclusivamente de interesse eleitoral. xxx É clássico o exemplo do holandês Joris Ivens, hoje com 83 anos, que, há mais de 50 anos, a convite do governo Roosevelt, realizou um documentário sobre o programa de eletrificação rural nos Estados Unidos ("Fazendas Iluminadas"), que se tornaria um clássico em sua filmografia. Ivens, como outros grandes cineastas, transformaram temas aparentemente áridos e teoricamente sem "motivação" artística em grandes momentos cinematográficos. Hoje, quando o merchandising é recorrido a exaustão (como em "Quero Ser Feliz", do gaúcho Sérgio Lerre, em exibição no Cine Luz) como fórmula para viabilizar projetos cinematográficos, porque não transformar a publicidade oficial em forma de filmes capazes de preservar imagens do Estado, com um pouco mais de criatividade do que em comerciais e clips de 30 a 60', somente autolouvando os atuais (e passageiros) donos do poder? O Bamerindus, por exemplo, tem agido com inteligência. Eloi Zanetti, quando diretor da Umuarama, contratou um dos mais talentosos diretores de comerciais do Brasil, André Bukowinski, para fazer documentários de média-metragem sobre os vários Estados onde o banco atua. São filmes tecnicamente perfeitos, belíssimos em suas concepções e que tem tido suas cópias, em versões em várias línguas, levadas a muitos países. E deste amplo material, a Umuarama, sempre que necessita, retira os fotogramas para comerciais de 30 a 60'. Assim, o custo dos filmes se dilui e o acervo preservado adquire uma importância histórica muito grande. xxx E no Paraná, o que fica em termos de documentação? Milhões de cruzeiros tem sido queimados nas últimas administrações, e se donos de agências de propaganda e produtoras enriquecem, o Estado pouquíssimo ganha em termos de preservação de imagens. O Museu da Imagem e do Som conta com um acervo miserável, mal conservado e que há muito necessita de restauração. Felizmente (e finalmente), uma pessoa de alta competência, profundamente identificada a cultura cinematográfica, Francisco Bettega Neto, ex-crítico da "Última Hora" (1962/63), fotógrafo, programador visual, foi escolhido pelo professor René Dotti, para a sua direção. Bettega sabe dos desafios que o esperam no MIS - muito apropriadamente chamado, com ironia, de "Museu da Imaginação". Hoje com sede própria - a que chegou após quase 20 anos de peregrinação em improvisados endereços - o MIS pode vir a se tornar um forte organismo na futura administração. E se a Secretaria da Comunicação Social, usar saudavelmente o seu poder financeiro em favor do prestigiamento a nova geração de realizadores do Paraná - e deixando de beneficiar pequenos grupos ou indivíduos, que se acostumaram a mamar nas tetas do Estado - talvez um novo tempo surja no cinema e vídeo no Paraná. Afinal, a 15 de março começa uma nova administração, após três anos de obscurantismo, perseguições e ódios que marcaram a infeliz administração de José Richa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
24/02/1987

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