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Aramis

Está na hora de salvar a nossa Biblioteca Pública

Em 1953, quando a Biblioteca Pública do Paraná foi inaugurada a 19 de dezembro, dentro das comemorações do centenário de emancipação política do Estado, a população de Curitiba era de pouco mais de 230 mil habitantes. Hoje, com uma população de 1.400.000 a Biblioteca continua idêntica aquela que foi inaugurada há 34 anos passados. Só este dado explica a situação caótica que esta unidade cultural enfrenta há anos: falta de espaço, falta pessoal, faltam recursos. A única coisa que não falta é dedicação e entusiasmo de suas funcionárias, que embora mal remuneradas, desdobram-se para que a BPP atenda milhares de leitores por dia. Não é de hoje que a situação da Biblioteca está a exigir investimentos imediatos e atenção de quem de direito. Só que isto não acontece. Homem com visão de intelectual e estadista, Bento Munhoz da Rocha Neto quando governador do Paraná viabilizou a construção da Biblioteca pensando no futuro. Assim foi feito um edifício com quase 7 mil metros quadrados - área considerada exagerada na época. Bento Munhoz da Rocha Neto, que era também engenheiro, fez mais: determinou que as fundações fossem executadas de forma que, no futuro, pudessem ser erguidos mais dois andares, acreditando no crescimento do Paraná. Quando de sua inauguração, a Biblioteca era tão ampla que várias entidades culturais ali encontraram abrigo: fotoclube, centro juvenil de letras, associações literárias, etc. As salas amplas, novas, reluzentes, recebiam um público interessado em participar de várias atividades paralelas. Ali funcionou um dos primeiros cine-clubes de Curitiba, criado como conseqüência de um curso de introdução ao cinema que Hélio Furtado do Amaral (crítico e professor, há anos radicado em Goiânia) ministrou no primeiro semestre de 1958. (E cujos certificados nunca foram entregues). O cine-clube foi desativado após um debate tão acalorado que as discussões estéticas passaram para o lado político e dois radicais oponentes - Agliberto Azevedo, do Partido Comunista, e o advogado Edgar Távora, integralista, engalfinharam-se em violenta luta corporal. Lembranças de uma época em que a Biblioteca era o núcleo da inteligência e da cultura de Curitiba. O tempo passou, a cidade cresceu, e os leitores multiplicaram-se. Muitas entidades que funcionavam na BPP tiveram que deixar suas salas, mas outros espaços foram comprometidos: o Conselho Estadual de Educação ali funcionou por muitos anos. Na administração do secretário Luis Roberto Soares, primeiro titular da pasta da Cultura, a diretora da Biblioteca, Regina Pegoraro, concordou - para irritação de muitas colegas - que uma sala de leitura fosse desativada e implantada a Sala Miguel Bakum, espaço para exposições que deveria ter outro domicílio. Hoje, apesar da crítica situação que a Biblioteca enfrenta, a Sala Miguel Bakum continua a ocupar em espaço que faz falta para as atividades normais da instituição. O Centro Juvenil de Artes Plásticas, criado e dirigido pelo professor e pintor Guido Viaro, em que pese sua importância como núcleo de atividades pedagógicas, há muito também já deveria ter deixado o subsolo do prédio - necessário para o depósito de livros e periódicos. A impressão de quem chega à Biblioteca - especialmente nas horas de maior movimento - é a de que está numa estação rodoviária tal o movimento de pessoas. São milhares de leitores em busca de diferentes salas ou então visitando as exposições que ali acontecem. O auditório Paulo Garfunkel, no segundo andar, com um calendário intenso de atividades - (e que poderá crescer ainda mais se for instalada a cabine de projeção em 35 mm) - colabora para que o movimento aumente. É salutar ver uma unidade cultural freqüentada por tanta gente interessada, especialmente jovens. Triste é ver que as condições físicas do prédio são as mesmas de três décadas passadas. A Biblioteca Pública do Paraná necessita de muitas coisas. De princípio, mais espaço físico, - capaz de poder abrigar suas diferentes secções. Um departamento básico - a Documentação Paranaense, reunindo livros, jornais e periódicos que guardam a história do Paraná, tem necessidade de cuidados especiais e milhares de pessoas que a procuram sentem dificuldades ali existentes. Três máquinas xerox são insuficientes para atender a demanda de interessados na reprodução de páginas de livros e outras publicações. Filas se formam em várias partes. Os banheiros há muito necessitam de reforma. Na Sala Miguel Bakum, só agora estão sendo feitas algumas obras de emergência para consertar goteiras que ali existem. E isto porque a diretora do Goethe Institut, bateu os pés, firme, no gabinete do secretário Renê Dotti e ameaçou suspender a exposição "Ler Faz a Cabeça", que trouxe a Curitiba milhares de livros. Só assim, sob pressão, foram liberados recursos para que se fizessem, de afogadilho, algumas obras há muito reclamadas em relatórios oficiais que nunca sensibilizaram os danos do poder cultural no Paraná. Há muito que chove em várias partes da Biblioteca. Para consertos imediatos - inclusive a reforma de um banheiro - são necessários Cz$ 5 milhões. Para a realização de ao menos 70% do que seria de fato necessário, dez vezes esta importância. O tempo passou, a cidade cresceu e o número de leitores da Biblioteca cresceu. Tal como a Januária, da canção de Chico Buarque, só o governo do Estado - depois de Bento Munhoz da Rocha Neto - jamais se preocupou, de fato, com esta unidade que continua tal como quando naquele dezembro de 1953, foi entregue à comunidade. Só que em 34 anos, ao menos alguns exames médicos são necessários na vida de uma pessoa e uma instituição cultural - tal como um ser humano - também precisa de atendimento e atenção. O que a Biblioteca nunca teve.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
26/06/1987

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