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Aramis

Eterno Duke Ellington

Nem tudo começou com Satchmo e Duke, mas, sem dúvida, que eles foram os maiores e são, com razão, anos depois de já terem desaparecido, os que ainda mais identificam o jazz. Ambos viveram bastante, deixaram centenas de gravações e fizeram excursões por todo o mundo levando o jazz - incluindo o Brasil - em suas tournées. Duke, Count Basie e Louis Armstrong, estão entre os líderes das chamadas big bands, as harmonias mais saudáveis deixadas pela era mais generosa do jazz - e que das gravações históricas ressurgem reprocessadas eletronicamente, em edições notáveis na perfeição do compact disc laser - que aos poucos chegam também ao Brasil. Uma amostragem da grandiosidade do som de Duke Ellington (Edward Kennedy Ellington, 1899-1974) é oferecida em três volumes da Columbia Jazz Masterpieces, em registros com formações brilhantes. Em "Jazz Party", feito em apenas duas sessões no estúdio da Colúmbia, em Nova Iorque, nos dias 19 e 25 de fevereiro de 1959, quando retornava de uma longa temporada na Flórida, Duke e sua orquestra desenvolveu sessões das mais espontâneas com participação de amigos queridos como Dizzy Gillespie, Johnny Hodges, Paul Gonsales, Jimmy Woode resultando um dos mais quentes álbuns de sua discografia. Outro álbum histórico ("Ellington at Newport") documentou sua presença no festival de jazz na Rhode Island, em 07/07/1956, quando já com a participação de Hodges e Gonsales no sax alto, Woods no baixo, ali apresentava a antológica "Newport Jazz Festival Suite", em três movimentos, o "Jeep's Blues" e o "Diminuendo and Crescendo in Blue", que ocupa quase todo o lado B. Volta-se na máquina do tempo e "Bigbands" traz o jovem Ellington dos anos 30, com preciosidades como "Lazy Rhapsody" (num registro feito em fevereiro/32) - neste álbum em que as faixas são divididas com outras big bands da época, como as de Claude Hopkins ("Mush Mouth"), Cab Calloway ("The Ma from Harlen), Fletcher Henderson ("Can You Take it?"), Chick Webb & His Savoy Orchestra ("Let's Get Together"), Jimmie Iancford ("Upon blues"), Count Basie ("Riff Interlude") e Benny Goodman ("Stealin'Apples), Ben Pollack ("Jimtown Blues"), Red Nuovo ("Remember"). São nomes indispensáveis em qualquer antologia da era das big bands, que ouvidas hoje mostram quanta musicalidade marcava aquela época. A máquina do tempo, transpõe a mesma magia ellingtoniana para os nossos dias com uma produção coordenada por seu filho Mercer Ellington, 70 anos. Numa produção de Dave Grusin e Larry Rosen, "Digital Duke" reuniu o espírito da The Duke Ellington Orchestra, um repertório original de 32 faixas (na gravação em laser), que para o disco convencional foi reduzido para 8 faixas. Mas o aperitivo vale! Acrescentando-se antigos músicos da orquestra de Duke, o sopro revitalizador do genial Branford Marsalis, que divide o sax tenor com Eddie Daniels, o pistão de Clark Terry, a bateria de Louis Belson, o sax alto de Norris Turney, o trombone de Brit Woodman e os teclados de Ronald Hanna, temos oito momentos para todo o sempre da magia de Ellington, a começar pelo seu antológico "Satin Doll" e os solos de Hanna no piano e Herman Roley no sax tenor e encerrando com "Take the Train" (que muitos atribuem como música de Duke, mas que era uma composição de seu pianista e arranjador Billy Strayhorn). Entre estes dois marcos do jazz, deslizam "Cottontall", "22 Cent Stomp", "Do Nothing'Till You Hear Irom Me", "In a Mellotone" e, especialmente, "Perdido" e "Prelude to a Kiss" - que por si só já marcaram Duke como um dos maiores, senão o maior, nome do jazz universal. Mais Ellington - A sua obra é tão grande que nem mesmo os ellingtonianos mais abonados - como o milionário Carlos Conde e o radialista Zuza Homem de Mello, buscando na Europa e EUA, há muitos anos, tudo o que Duke gravou, ainda tem claros em suas fabulosas edições. Portanto, há muito material para ser editado no Brasil. No ano passado, apenas em CD, a CBS editou cinco volumes com "The Complete Duke Ellington", referindo-se a um período de cinco anos (1947/52). Na mesma época, a WEA iniciou a edição da "The Private Collection", com gravações feitas por Ellington entre 1956/62, organizada por seu filho Mercer. Uma série que, em absoluto, está longe de se encerrar. Haja visto que o público de Ellington cresce cada vez mais. Para isto, muito colaborou o belíssimo espetáculo "Emoções Baratas", um dos maiores sucessos em São Paulo em 1989, revelando uma extraordinária cantora - Misty (que já está fazendo seu primeiro elepê pelo Estúdio Eldorado). Devido ao seu alto custo de produção - envolvendo dançarinos e um cenário muito especial - "Emoções Baratas" dificilmente pode ser levado a outras cidades, mas a Heartbreakers já tem data marcada no Paiol - quando, então, justificará que voltemos a falar a seu respeito - e a imortal música de Duke.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
04/03/1990

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