Um dos aspectos mais importantes do vídeo - e, infelizmente, até agora pouquíssimo explorado - está em seu aproveitamento, pela praticabilidade e baixo custo, da utilização maciça na documentação visual do Paraná. Se houvesse o mínimo apoio oficial - seja por parte do Estado, seja por parte do município (*), seria possível, em pouco tempo desenvolver aqui um Centro de Documentaristas que, unindo a teoria a prática, possibilitaria paralelamente ao registro de tudo que se relaciona a nossa história, cultura, economia, tradições etc., também o fortalecimento de um mercado com mão-de-obra especializada. Afinal, só com um projeto amplo é que se poderá retirar o Paraná da estagnação que se encontra na área da produção visual, com raros projetos sendo viabilizados. Nunca é demais denunciar que três documentários de curta-metragens (**), resultados de um demagógico convênio firmado pela Secretaria da Cultura e a finada Embrafilme, foram iniciados há quase três anos e estão sem possibilidades imediatas de terem suas finalizações. Por isto, deve-se louvar a iniciativa de quem, as próprias custas, tenta registrar um pouco de nossa memória. Seja um projeto amplo, abrangente na entrevista-depoimento com personalidades de todas as áreas, como o Memória Paranaense, que já preservou vozes e imagens de mais de 100 homens e mulheres que ajudaram a fazer o nosso Estado em seus diferentes setores, ou então em iniciativas isoladas, que, muitas vezes ficam anônimas. Dois jovens videomakers - os primos Faissal Iskandar, 27 anos e Naif Salah Neto, 29, extrapolando um trabalho profissional na produção de vídeos familiares e sociais, desenvolveram uma produtora - a Joint Venture (Rua Domingos do Nascimento, 749, fone 224-4318), como uma consultoria de alto nível na área do vídeo e, paralelamente, vem se preocupando em documentar exaustivamente tudo que possa futuramente, servir para a produção de projetos específicos. Por exemplo, apaixonado pela obra da poeta, Helena Kolody, Faissal vem fazendo um amplo documentário sobre o dia-a-dia de nossa maior poeta, registrando-a na intimidade de seu apartamento na Rua Voluntários da Pátria, nas homenagens que tem merecidamente recebido nos (cada vez mais raros) passeios que Helena faz, hoje, dizendo-se confinada em sua casa, devido a poluição humana e de lixo na praça rui Barbosa e imediações - da qual se recorda, com saudade em seus tempos de professora no Instituto de Educação (estabelecimento ao qual se dedicou por mais de 30 anos). Atualmente, Faissal e Naif trabalham num belo projeto - uma transposição de imagens do mais famoso poema do publicitário e bardo Reinoldo Atem - "Urbe Urge", na voz de seu melhor intérprete, o morretense Alberto Cardoso, Menção-honrosa no Salão Curitiba Arte-5, com "Loucura", bastaria um vídeo realizado por Faissal e Naif para lhes credenciar culturalmente: "Frederico Kirschgassner". Faissal, que fez o curso de ate cênica no Teatro Guaíra (1974/75) e chegou a atuar em algumas peças ("A Árvore dos Mamulengos" e A Noite das Mal Dormidas"), viveu por 4 anos em Manaus (1979/82), de onde voltou quando seu primo, Naif, lhe propôs o ingresso no setor de fotografia e vídeo. Naif, uma das primeiras crianças-propaganda a aparecer em comerciais ao vivo nos pioneiros tempos da TV-Paranaense - quando a mesma funcionava numa kitinete do Edifíco Tijucas (***) - sempre foi um apaixonado pelo mundo das imagens. Herdou de seu avô uma Bell&Howell com a qual fez inúmeros filmes em super-8 e, mais tarde, trabalhou na parte técnica em telenovelas e programas na TV-Paraná. Hoje, com a tecnologia e praticabilidade do vídeo, juntando seu entusiasmo as idéias de Faissal, está inovando na produção de vídeos festivos - produzindo verdadeiros documentários para um futuro "memorial da família paranaense", com roteiros bem desenvolvidos, pesquisas e imagens e excelente utilização de efeitos especiais. Muitas produções, realizadas por encomenda, reúnem méritos que os credenciaram inclusive a mostrá-los em festivais competitivos. Em seus arquivos, a Joint Venture Produções dispõe de algumas horas de imagens preciosas, inclusive do poeta Paulo Leminski (1945-1989), sobre quem, Faissal, pensa em editar em documentário. Notas (*) Como denunciamos várias vezes, o excelente equipamento em vídeo adquirido na administração Roberto Requião permaneceu ocioso durante mais de um ano em que esteve na Fucucu. Só quando o prefeito Jaime Lerner o trouxe novamente para seu gabinete, é que passou a ter utilização, embora apenas para documentar suas obras. Com este equipamento, seria possível realizar importantes projetos de vídeos da cidade, seus habitantes e sua história. (**) Os curtas "Sombras no Fim da Escada, de Fernando Severo, "A Flor", das irmãs Wagner e "A Loira Fantasma", de Fernanda Montini, embora rodadas há mais de um ano e em fase de pré-produção não puderam ainda serem concluídos por falta de recursos. Com isto, o Paraná está deixando de participar dos próximos festivais de cinema em Brasília (julho) e Gramado (agosto), que apesar da crise da produção cinematográfica serão realizados. (***) A TV-Paranaense funcionou inicialmente no último andar do edifício Tijucas,. Num kitinete de menos de 20 metros quadrados existia um estúdio no qual [eram] produzidos programas ao vivo, num trabalho notável dos pioneiros de nossa televisão - a espera ainda de quem registre aqueles tempos heróicos. LEGENDA FOTO - Faisal Iskandar e Naif Saleh Neto, videomakers, documentando às próprias custas aspectos de nossa cultura e história.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 02/06/1991

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