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Aramis

A fala dos reitoráveis

Enquanto a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná promovia quinta-feira à noite, 22, uma assembléia para ouvir os professores mais votados ao cargo de Reitor - na consulta preliminar promovida dia 1o de outubro último -, de outro lado nascia um movimento destinado a esvaziar a entidade dos mestres universitários, que atualmente tem uma ativíssima diretoria eleita pela oposição ao grupo que durante anos ali se manteve. Desde o dia 20 de outubro, um manifesto assinado pelo sr. Manoel Neiva de Macedo vem conclamando os funcionários e professores da quase septuagenária Universidade a comparecerem à assembléia geral de fundação da Associação dos Servidores da Universidade Federal do Paraná, programada para o próximo dia 28, quarta-feira, no auditório da Reitoria. Embora reconheça como louvável o movimento para a criação desta associação de funcionários - que já existem em quase todas as Universidades - a diretoria da Associação dos Professores estranhou, entretanto, a abertura da futura entidade ao corpo docente, "visto que já há mais de 20 anos existe uma associação de professores, legal e legitimamente constituída e, hoje, inclusive, com vínculos nacionais, na medida em que faz parte da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior". No entender dos aguerridos dirigentes da APUFP - inclusive do presidente Carlos Roberto Antunes ("Motorzinho"), que juntamente com o secretário-geral José Emannuel Appel, participa, em Brasília, do 3o Encontro do Conselho Nacional de Associação de Docentes, a iniciativa de fundar agora a associação dos servidores nasceu nos gabinetes oficiais, como uma manobra para esvaziar a APUFP, que pela independência de seus diretores, começa a irritar os donos do poder universitário. Assim, embora ninguém conteste a fundação da entidade dos servidores universitários, a mesma já nascera sob o signo da polêmica e do divisionismo, numa classe que por representar, teoricamente, a elite intelectual da comunidade, deveria mostrar união, coerência e preocupação pelo debate, em termos dos mais elevados, dos problemas atuais e fortalecimento democrático. xxx A assembléia geral em que compareceram 4 dos 12 professores mais votados para o cargo de reitor, realizada na última quinta-feira, houve exposições de alto nível da parte dos professores que, na consulta realizada, se levantaram nomes que, no entender da comunidade, merecem serem os condutos dos destinos da mais antiga universidade brasileira a partir do próximo ano. José Lamartine de Oliveira Lyra (209 votos), Luis Carlos Tourinho (129), Newton Freire-Maia (105), João Átila Rocha (82), Nelson Luis de Souza Pinto (65), Luimar Perly (60), Riad Salamuni (60), Adir Soares Mulinari (55), Dante Romanó Jr. (49), Alsedo Leprevost (42), Arthur Francisco Mello (40 votos), encabeçam a lista - que inclui mais 112 nomes. O professor Alcy Ramalho, diretor do Setor de Ciências Tecnológicas, e que lidera a lista sêxtupla oficial, ficou em 15o lugar. Lamartine, Riad Salamuni, Freire-Maia e Dante Romanó Jr. compareceram à assembléia de quinta-feira, todos - no entender dos 150 professores ali presentes - fazendo pronunciamentos honestos e coerentes. Luis Carlos Nascimento Tourinho, do Departamento de Fitotécnica, da área de Ciências Agrárias, desculpou-se alegando doença - e os demais convidados não explicaram a ausência. xxx Newton Freire-Maia, um dos cientistas mais respeitados internacionalmente - e vítima da intolerância de setores radicais da Universidade, que há pouco mais de uma ano tomaram atitudes mesquinhas contra a sua permanência na instituição (o que provocou revolta e indignação em nível nacional), em seu pronunciamento fez ponderadas colocações sobre poder, cristianismo (que ele reassumiu uma posição de cristão, consciente e tolerante), lembrando, com lucidez que a "instituição chamada universidade é, obviamente, conservadora. "Ela é conservadora aqui, é conservadora nos Estados Unidos, é conservadora em Cuba, é conservadora na União Soviética, é conservadora no Paraguai. Nos Estados Unidos, ela chega a ser racista porque a sociedade americana é racista. O princípio é o mesmo em que todos os sistemas: "antes que nos jantem, almocemo-los". Lembrando de sua recente viagem à Europa - especialmente no que observou em alguns países -, Newton Freire-Maia, a propósito das eleições realizadas, especialmente na Grécia - após longa e terrível ditadura de direita - disse que depois de uma ditadura, o povo ainda mantém o medo de votar contra grupos que antes estavam próximos do poder ou no poder. Assim, lembrou Freire que "vivemos no Brasil, um feliz e eufórico período de abertura, depois de uma ditadura de cerca de 16 anos. Eu me lembro da outra ditadura que também vivi, de 1937 a 1945, e que, uma vez terminada, legou-nos um belo presente: os homens da ditadura foram livremente eleitos pelo povo e tomaram conta do governo de novo! Em suma: as ditaduras têm até mesmo, às vezes, uma força que vai além de seu termo. Sem votar durante anos, o povo, convidado a votar, não sabe votar mais e escolhe, muitas vezes, os politiqueiros e mentirosos, os trapaceiros, etc. Esses políticos mudam de opinião sem mudar de cara. E o povo, iludido, vota livremente nos que melhor sabem enganá-lo". LEGENDA FOTO: Newton, universidade & eleições.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
7
25/10/1981

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