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Aramis

Fantasmas radiofônicos que assustavam o Brasil

A bibliografia do rádio brasileiro, ainda reduzida e insuficiente, ganhou com a edição de "No Tempo de Almirante" de Sérgio Cabral, uma importantíssima contribuição. Afinal, a presença de Henrique Foreis Domingues ao rádio brasileiro, desde as primeiras emissoras, até o início dos anos 60 - a maior parte na Rádio Nacional, mas passando também pela Rádio Clube (no período em que Samuel Wainer, então poderoso dono da "Última Hora" a adquiriu, numa experiência frustrante), na Record, em São Paulo e, especialmente, na Tupi, da qual foi diretor artístico por um longo período - o faz realmente uma personalidade ímpar. O seu lado de compositor e cantor, como o principal nome do Bando dos Tangarás, no qual estava João de Barros (Braguinha) - que viria a ser o seu cunhado e, mais tarde, Noel Rosa (1910-1937), já tinha merecido algumas biografias. Reedições de gravações pioneiras que fez - com o Bando dos Tangarás ou mesmo em solo - tem acontecido, como a Collector's faz agora, no 20º volume da série "Ídolos do Rádio" e, em Curitiba, Leon Barg desenvolve em volumes da "Revivendo". Faltava, entretanto, uma obra que mostrasse, cronologicamente, a importância do homem que produziu programas que alcançaram as maiores audiências em todo o País como "Caixa de Perguntas" (1938); "Orquestra de Gaitas" (1940); "A Canção Antiga" (1941); "Tribunal de Melodias" (1941); "História do Rio pela Música" (1942): "História de Orquestras e Músicos" (todos de 1944); "Aquarela do Brasil" (1945); "O Pessoal da Velha Guarda" (1948); "No Tempo de Noel Rosa" (1951, que em 1963 se transformaria no belo livro lançado pela mesma Francisco Alves); "Corrija Nosso Erro" (1953); "Recolhendo Folclore" (1955). Mas, mais do que todos os programas, um se destacou: "Incrível! Fantástico! Extraordinário!", que indo ao ar pela primeira vez em 1947 (embora tivesse sido idealizado anos antes), teve várias fases e, pela abordagem que fazia de casos sobrenaturais, montados em forma de radioteatro, fazia radiouvintes de todo o Brasil, acompanhá-los. Como na maioria de seus programas, Almirante sempre buscou - graças as potências das rádios em que atuou - a participação dos ouvintes, que, de todos os Estados, lhe enviavam relatos para serem apresentados em seu programas. Inúmeras estórias radiofonizadas no "Incrível! Fantástico! Extraordinário!" - nas diferentes emissoras (Nacional, Tupi, Record) em que foi apresentado, foram de ouvintes do Paraná. Difícil encontrar alguém com mais de 40 anos, que tenha vivido a chamada Era do Rádio, que não se lembre de Almirante ou, ao menos, deste seu programa de histórias do além. No ano passado, a mesma editora Francisco Alves já havia reeditado um livro com algumas das histórias mais impressionantes. Em janeiro de 1958, Almirante escrevia e apresentava três programas na Rádio Tupi: "Incrível! Fantástico! Extraordinário!", "No Tempo de Noel Rosa" e "Recolhendo o Folclore". Preocupava-se, porém, com o destino do rádio, vendo as verbas de publicidade passando para a televisão (que havia chegado ao Brasil no início dos anos 50) e observando que o veículo precisava de modificações. Em 11 de janeiro, dirigindo seu carro pela Avenida Rio Branco, sentiu-se mal e teve um pequeno acidente. Levou o carro na oficina de um cunhado e foi, de táxi, para sua casa. Correu para o quarto e teve um derrame, do qual nunca se restabeleceria totalmente - embora, a custo de muita força de vontade, retornasse a escrever programas, uma coluna no jornal "O Dia" (que manteve até a sua morte) e, principalmente, cuidar de seu precioso arquivo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/07/1990

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