Login do usuário

Aramis

Faria, dirigindo com eficiência até os filmes com Roberto Carlos

Com mais de 40 anos de cinema, Roberto (Figueira) de Faria, fluminense de Nova Friburgo, 60 anos serem completados nos próximos dias, é aquilo que se pode chamar de um homem completo de cinema. Começou no início dos anos 50, em funções humildes na Atlântica, chegando a assistente de direção de José Carlos Burle ("Maior que o Ódio"), Watson Macedo ("Aviso aos Navegantes", "Aí vem o Barão") e J. B. Tanko ("Areias Ardentes"), entre outros. Ainda como assistente de direção, participou de dois marcantes filmes que o argentino Carlos Hugo Christensen realizou em seus primeiros anos de Brasil - "Mãos Sangrentas" (1954) e "Leonora dos Sete Mares" (1955). Quando Watson Macedo (1918-1981) desligou-se da Atlântida e passou a co-produzir suas comédias - "É Fogo na Roupa" e "A Grande Vedete", Roberto também se manteve fiel ao mestre das chanchadas. Este aprendizado no cinema honesto, artesanal, com mil dificuldades que se fazia no Brasil nos anos 50 seria fundamental para a sua formação de roteirista e diretor. Tanto que, a exemplo de seus irmãos - o produtor Riva e o ator-diretor Reginaldo, bem como seus três filhos - Mauro, Lui e Roberto Jr., - toda a família está até hoje envolvida em cinema. Embora seus três primeiros filmes, como diretor, sejam ainda do chamado ciclo da chanchada - "Rico Ri à Toa" (Brasil Vita Filmes, 1957), "No Mundo da Lua" (1959) e "Um Candango na Belacap" (Herbert Richers, 1960), já se notava uma preocupação de evoluir os roteiros simplistas e ingênuos da fase em que Burle e Macedo dominavam o setor. Em "Um Candango na Belacap", por exemplo, em plena época em que Juscelino Kubitschek implantava Brasília, o filme de Roberto Farias oferecia uma sátira bem intencionada sobre a resistência de muitos cariocas em se transferirem para o então inóspito planalto central onde nascia a Capital da Esperança. Na trilha sonora, Farias valorizava novos valores, como o compositor-cantor Carlos Lira, que ali aparecia cantando uma de suas melhores composições - "Mister Golden", uma sátira antiamericanista criada, originalmente, para um musical desenvolvido com Chico de Assis ("Um Americano em Brasília", 1958/59) que nunca chegou a ser produzido. Com uma filmografia de 13 longa-metragens - nos quais alternaria filmes policiais, sociais e políticos, sem porém nunca abandonar o lado do humor, Roberto Faria se consolidaria como um dos mais admiráveis batalhadores pelo cinema brasileiro. Tanto é que a partir da posse de Ney Braga, quando ministro da Educação e Cultura no governo Geisel - que o levaria a presidente da Embrafilme, Faria realizaria uma administração corajosa, enfrentando cartéis e desafiando inclusive a poderosa Motion Pictures of America, que nem com a vinda ao Brasil do todo poderoso Jack Valenti, fez com que a lei de obrigatoriedade de reserva do mercado para o cinema nacional - que chegou a 140 dias/ano - fosse revogada. Mesmo após ter deixado a Embrafilme, Faria continuou na batalha pela defesa de nosso cinema, já então no Concine, órgão fiscalizador e regularizador do mercado cinematográfico que teve como um de seus mais eficientes dirigentes até onde pode - ou seja, quando o presidente Fernando Collor, em 16 de março de 1990, extinguiu tanto a Embrafilme como desativou o Concine, Farias foi um homem que acreditou (e continua a acreditar) em nosso cinema. Se hoje a produção cinematográfico caiu a níveis mínimos (não chega a meia dúzia os filmes novos, em fase de conclusão ou concluídos nos últimos 10 meses), inexistem a Embrafilme e o Concine e a lei que reservava datas para a produção nacional no circuito exibidor deixou de ser cumprida - principalmente pela falta de filmes novos, Roberto Faria pode sentir-se de consciência tranqüila: como realizador fez seus filmes, como integrante da comunidade cinematográfica ofereceu alguns dos melhores anos de sua vida - sofrendo, inclusive, com isto, perseguições e prejuízos - apesar de tudo não parou de acreditar no sonho do cinema brasileiro. Vê hoje, seus três filhos ainda lutam pelo cinema nacional: Lui (Luís Mário Chicaro de Faria), 34 anos, estreou no longa-metragem premiado em "Com Licença, eu vou à luta" (1985) e realizou em seguida (1987/88) a divertida comédia policial "Lili, a estrela do crime". No último (XIX) Festival de Gramado do Cinema Brasileiro, grande premiado foi "Não quero falar disto agora", comédia de estréia de outro de seus filhos, Mauro. Ainda inédito comercialmente, esta comédia urbana, tipicamente carioca, traduz muitos aspectos do cinema leve, competente e agradável que Roberto sempre soube fazer e que traduziu para os seus filhos e herdeiros cinematográficos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo/Som
21
16/02/1992

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br