A farmácia sem portas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de maio de 1987
No início dos anos 60, na Praça Osório, esquina com a Rua Voluntários da Pátria, havia uma mercearia pertencente a um simpático libanês que funcionava 24 horas por dia. Ambiente simples, acolhedor, compensava com a freguesia alegre e boêmia - entre jornalistas e artistas que ali chegavam nas horas mais tardes, para a "penúltima" ou um reconfortante lanche - a falta de maior higiene. Um dia, o então secretário da Sáude, Dalton Paranaguá, na demagógica campanha que fez pelos bares e similares do centro da cidade, cerrando as portas daqueles que não atendiam aos princípios de higiene, chegou na mercearia do libanês, constatou inúmeras infrações e decidiu:
- Fecha a porta de aço. O estabelecimento está interditado.
O libanês ficou parado, olhando desafiadoramente para Paranaguá e seus assessores. O secretário insistiu:
- Feche a porta! É uma intimação. Sou autoridade!
Em seu sotaque árabe, o comerciante explicou:
- Mas que porta? Minha casa funciona há 10 anos, dia e noite e nem tem porta.
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A Farmácia Colombo, na Rua XV de Novembro esquina a Dr. Muricy, tem portas de aço. Mas elas só descem uma vez por ano, no dia do balanço geral. Para que a ferrugem não tome conta das engrenagens elas são lubrificadas mensalmente.
Em Caldas Novas, município goiano, a 140 km de Goiânia - e a 7 km do complexo turístico das Pousadas do Rio Quente, existe uma drogaria única no mundo, com diz seu orgulhoso proprietário: é a Pousada Sem Portas. Na praça central da pequena cidade, num edifício branco, a Drogaria Sem Portas, exibe nada menos que sete portas, que simplesmente só possuem abertura: afinal, ela nunca fechou desde que foi inaugurada há mais de 20 anos. A população da cidade é pequena, mas o estabelecimento já é atração turística - incluída inclusive nos roteiros da Valetur, a organizada empresa que administra a Pousada do Rio Quente, a 6 km - e que conduz os visitantes até este original estabelecimento.
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