Login do usuário

Aramis

Fernando vai tentar fazer com que mecenas apareçam

Globetrotter que só reduziu as suas viagens internacionais nos últimos meses devido a ter assumido a Secretaria da Indústria e Comércio, o advogado Fernando Miranda é um homem de sensibilidade cultural. Ao longo de viagens pelos quatro cantos do mundo - quase sempre em decorrência de suas atividades como especialista paranaense em comércio exterior - Fernando sempre procurou usar suas horas de folga para assistir bons espetáculos, visitar museus e conhecer melhor o que cada cidade oferece ao visitante inteligente. Por tal formação, Fernando é um dos poucos homens do poder peemedebista que vem se preocupando em fazer com que a fria classe empresarial paranaense saia de seu pão-durismo tradicional em termos de investimentos culturais e, agora, usando os benefícios da Lei Sarney, venha a ajudar projetos realmente importantes. A professora Suzana Munhoz da Rocha Guimarães, secretaria da Cultura e Esportes, já procurou Fernando para que em sua próxima reunião, nesta quarta-feira, o conselho maior do Coind (Conselho Consultivo da política Industrial e Comercial do Paraná), conheça o teor da Lei Sarney e os projetos que a Sece deseja desenvolver com recursos privados. xxx Se de um lado é louvável que a Secretaria da Cultura e Esportes encampe alguns projetos importantes - como a restauração da Ilha do Mel, a edição de um catálogo do Museu de Arte Contemporânea (contendo um levantamento complexo do desenvolvimento das artes plásticas) e até realizações de custo mais reduzido (a gravação do Hino do Paraná pela Orquestra Sinfônica, a edição de uma antologia de autores paranaenses e a montagem pelo Balé Guaíra do "Romance das Quatro Luas", com música de Chico Buarque/Edu Lobo, com texto de Ferreira Gullar), também é importante que o manto protetor do Estado não beneficie apenas projetos particulares, dos tradicionais produtores culturais que buscam mamar nas tetas do Estado (e agora na iniciativa privada) para realizarem obras de autopromoção. A Secretaria da Cultura deve se ater a realidade de que nos últimos anos surgiram novos talentos, em várias áreas - especialmente na música, cinema e teatro - que, mesmo não bajulando o poder (e tendo suas benesses), devem, em igualdade de condições, merecerem os benefícios da Lei Sarney. Aliás, uma das críticas mais contundentes que se faz ao projeto que José Sarney apresentou quando senador, justamente é o risco de que os recursos advindos desta lei destinada a estimular a cultura venham a serem burocratizados em órgãos oficiais, caindo nas tradicionais "panelinhas" que beneficiam alguns e excluem, preconceituosamente, os que não aceitam fazer a bajulação aos eventuais donos do poder. No Paraná, recém saído de uma verdadeira catástrofe cultural, que, em três anos agrediu e prejudicou os mais representativos produtores culturais, a secretária Suzana Guimarães tem que ficar atenta para não servir a interesses de grupos. E mais ainda atento o secretário Fernando Miranda que com seu prestígio junto ao empresariado, não pode servir a interesses pessoais - mas, isto sim, a uma política cultural ampla e bem desenvolvida que beneficie democraticamente a quem se propõe a desenvolver projetos realmente importantes para que o nosso Estado deixe de ser tão inexpressivo na área cultural. xxx Há anos, quando nem se pensava na Lei Sarney - que foi enviada ao Congresso no dia 4 de junho deste ano - o engenheiro Karlos Rischbietter, ex-ministro da Fazenda, já usava sua influência para convencer empresários a subsidiarem ao menos a Camerata Antiqua de Curitiba, uma das poucas entidades artísticas do Paraná que vem sobrevivendo com recursos (embora modestos) da iniciativa privada. Violinista amador, homem de cultura, Rischbietter, tanto nas gestões na Caixa Econômica Federal como no Banco do Brasil, ali estimulou bons projetos, especialmente na área musical, sendo um dos responsáveis pela decisão da Federação das Associações Atléticas do Banco do Brasil editar, anualmente, um álbum de música popular. Graças a isso - e a inteligência do pesquisador José Silas Xavier, em Brasília, que coordena o projeto a FABB vem lançando verdadeiros documentos que resgatam a nossa memória musical. Pena que na presidência do conselho executivo da Volvo do Brasil S/A, Rischbietter não tenha ainda conseguido sensibilizar seus colegas de diretoria - e a alta direção na Suécia - da importância da multinacional em aplicar recursos em projetos culturais. Por exemplo, uma idéia interessantíssima desenvolvida pelo produtor João Carlos Botezelli (Pelão), foi torpedeada dentro da Volvo, quando poderia ter dado excelente retorno: em troca do chassi de um microônibus, o Quinteto Violado, o mais brasileiro dos grupos instrumentais-vocais, se propunha a desenvolver nacionalmente um merchandising da Volvo em suas excursões por todo o país. A empresa não soube avaliar a importância do projeto e perdeu excelente oportunidade de, com um investimento relativamente pequeno, não só ter participado de um projeto cultural, como atingir um público imenso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
30/09/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br