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Aramis

Festival investirá um milhão de dólares pela nossa música

A proposta é irrecusável para os compositores que nesses tempos coloridos sentem cada vez mais bloqueados os caminhos musicais: receber um cheque de Cr$ 2.500.00,00 e ganhar um elepê inteirinho para mostrar de dez a doze músicas. Se ficar em segundo lugar, ganha Cr$ 1.500.000,00 e se a classificação for a terceira, o cheque será de Cr$ 1.000.000,00 - igualmente com direito a ter as músicas premiadas gravadas num caprichado elepê com tiragem inicial de 10 mil cópias e distribuição nacional assegurada. Para os intérpretes, um prêmio também considerável: Cr$ 700 mil. Desde terça-feira, 26, em 22 pontos do país - em sete estados - estão abertas as inscrições para o Festival Carrefour de Música Popular Brasileira. Há cinco anos que não acontece um festival nacional - o último foi o frustrante Festival dos Festivais, promovido pela Rede Globo (a tentativa da Manchete, no Som das Águas, em Lambari, Minas Gerais, morreu na casca) e, digam o que disserem, os festivais ainda representam uma porta para que compositores (inéditos ou não) tenham alguma chance de disputar um espaço num mercado sonoramente tão comercializado. xxx Numa proposta inédita, desta vez foi o patrocinador - no caso a multinacional Carrefour - que tomou a iniciativa. Preocupado em dar à sua imagem um brilho cultural, de raízes populares e atingindo os vários segmentos e faixas etárias, o superintendente no Brasil do grupo francês, Jean Marie Choppin, 50 anos, exultou quando o jornalista Edson Di Fonzo, responsável pela comunicação social do Carrefour, entre várias sugestões, lembrou-o de que havia uma brecha para um novo festival nacional de MPB. Justificando seu sobrenome, o francês Choppin - que gosta tanto de música que se confessa fã até de nossos compositores rurbanos - deu sinal verde, e Di Fonzo procurou um velho amigo que era "the right man for the right mission": Zuza Homem de Mello, 54 anos, jornalista, animador cultural e que desde os anos 50 - quando retornou dos Estados Unidos (onde estudou contrabaixo com Ray Brown), esteve ligado a todos os festivais de MPB, jazz e assemelhados que têm acontecido no Brasil. Zuza, por sua vez, buscou um dos mais competentes organizadores de festivais do Brasil, o advogado, compositor e animador cultural Juca Novaes, 35 anos, que há nove anos faz da Feira Musical de Avaré, São Paulo, um exemplo nacional - e que inclusive vem lutando para melhor coordenar o calendário nacional dos festivais regionais. Assim, com a experiência de Zuza, a organização de Juca, e principalmente, o dinheiro do Carrefour - associado ao Banco Nacional (que tem uma tradição de prestigiar eventos culturais) e as Indústrias Alimentícias Carlos de Brittom ("Peixe") - ao redor de US$ 1 milhão - o festival que inicia dia 3 de junho, com a primeira eliminatória (Porto Alegre), tem tudo para dar certo. De princípio - e isto deverá lhe conferir uma grande credibilidade - é a sua total independência: nenhuma rede de rádio e televisão ou gravadora irá interferir em sua organização (é possível que haja transmissão das finalíssimas por televisão, mas sem injunção das "networks", como aconteceu sempre, desde que em 1962 a extinta TV Excelsior promoveu no Guarujá o primeiro festival de MPB). Na noite de segunda-feira, 25, no Crowne Plaza, em São Paulo, o Festival Carrefour foi lançado oficialmente. Dezenas de jornalistas e muita gente da MPB - nomes que iam desde o veterano maestro Silvio Mazzuca, a cantoras como Vânia Bastos, passando por Rolando Boldrin e Alaíde Costa - estiveram no coquetel, durante o qual o Sr. Choppin, Zuza e o diretor do Carrefour, Péricles Simões, expuseram os detalhes do festival, que sem pretender inovações maiores, vai procurar motivar "compositores novos, outros não tão novos, que há muito tempo não mostram seu trabalho". Centenas de talentos, inéditos ou já com alguma experiência, não pararam de compor nestes últimos anos, mas o bloqueio imposto pelo comercialismo fonográfico e dos meios eletrônicos de comunicação têm sido tão grande, que mais do que nunca o panorama é desolador. Injetando recursos, organização "e sobretudo um clima de total liberdade e respeito aos concorrentes", garante Zuza Homem de Mello, acrescentando: - "Nenhuma restrição a ritmos, influências, tendências ou estilos". Todos os tipos de som têm os mesmos direitos no Festival Carrefour de MPB. Com uma única restrição: só podem concorrer músicas inéditas ou originais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
28/03/1991

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