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Aramis

Filme póstumo de Visconti

Quando começou a rodar "O Inocente", numa adaptação livre do romance de Gabriele D'Annunzio, Luchino Visconti (1906-1976) estava gravemente doente. Desde 1972 que problemas de saúde vinham dificultando sua extraordinária capacidade de realização, mas mesmo assim prosseguia com projetos difíceis, sempre amparados em textos vigorosos, como romances de Albert Camus ("O Estrangeiro") ou Thomas Mann ("Morte Em Veneza"). Seu penúltimo filme, "Violência e Paixão" (Gruppo di Famiglia in un Interno) já representou um imenso sacrifício: praticamente sem poder locomover-se, limitado a uma cadeira de rodas, conseguiu ainda marcar aquele filme, no original "Grupo di Famiglia um um Interno" com o requinte, o esmero visual-cenografico que sempre caracterizou suas obras, mas sem jamais esquecer o vigor do tema, a vida dos personagens. O resultado foi marcante, que se enriquece em cada (re)visão. Entretanto, o seu grande sonho, a transposição cinematográfica do clássico romance "Em Busca do Tempo Perdido" de Marcel Proust nunca pode ser realizado. Nos últimos meses de sua vida, final de 1975, iniciou uma adaptação livre de "L'Innocente", de D'Annunzio, cujas filmagens seriam interrompidas com sua morte, a 17 de março de 1976. Como ocorreu com muitos outros filmes, deixando inacabados por seus autores, "O Inocente" teve a conclusão a cargo dos assistentes. Que procuraram se manter fiéis ao espirito e visão com que o grande mestre, sem duvida um dos maiores cineastas contemporâneos, procurou dar a trágica historia do aristocrata Túlio (Giancarlo Gianini), dividido entre o amor por sua esposa, Giuliana (Laura Antonelli) e sua amante, a condessa Teresa (Jennifer O'Neill). Um triângulo amoroso, ambientado em cenários aristocráticos, no final do século passado, correria, facilmente, o risco da monotonia, do enfado - aliás, como os próprios personagens sugerem em seus dias de champanha, óperas e traições conjugais. Entretanto, o requinte plástico unido à visão social com que Visconti sempre marcou suas obras, dão ao romance de D'Annunzio uma extraordinária atualidade, transmitem uma emoção que, cremos, maior e mais intensa, do que a contida no texto original. Sem ser, obviamente, um filme da mesma dimensão de "Violência e Paixão", para não citar obras anteriores de Visconti, este "O Inocente"( cine Astor, até amanhã, 5 sessões diarias0 é, entretanto, mais uma prova de que, até os seus últimos dias, Visconti manteve a lucidez e a garra dos grandes criadores e artistas. Um filme que se assiste com emoção e dor, por imaginar que com Visconti morreu muito do que havia de melhor no cinema de nossos dias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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18/04/1978

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