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Filó, um talento que merece ser aplaudido

Filó (José Sérgio Machado), paulista de Ribeirão Preto, 39 anos completados no último dia 3 de fevereiro, é o exemplo daqueles talentos marginalizados pela (injusta) máquina do show buzines. Dono de uma voz personalíssima, compositor dos mais inspirados, apesar de já ter gravado dois elepês, é ainda pouco conhecido fora da noite paulista. Miudinho, lembrando até o Grande Otelo, este artista simpático e comunicativo, transforma-se quando, violão na mão, se põe a cantar. Sua voz é afinada e seu repertório lindíssimo. Neste final de semana, uma oportunidade única de se ouvir Filó, embora em local um pouco barulhento: o bar Lancelot (Largo da Ordem). Ali, a partir das 22:30 horas de sexta-feira e sábado, Filó estará fazendo um show, que Olenka Braga, editora da revista "Coro de Cordas", está carinhosamente promovendo. Antes de Filó, a chance de conhecer uma revelação vocal, Naire Martins, 17 anos, vencedora do concurso de novos intérpretes que Olenka promoveu há alguns meses. Falando em cantoras, enquanto o aguardado elepê de Adriana Calcanhoto ("Enguiço", CBS) dividiu a crítica - após o trabalho super profissional no lançamento de mais esta gaúcha constante, outra vocalista saída de Porto Alegre escala espaços maiores: Ana Isaura Gazola, 30 anos, nascida em Caxias do Sul e que como conta um de seus maiores fãs, Danilo Uchoa, editor do "Jornal da Noite", desde criança com o violão em punho, cresceu num ambiente musical, participando de importantes festivais como o Natura Som. Em 1982, trocou um curso de arquitetura por uma carreira que a levou a temporadas no Rio, São Paulo e outras cidades. Amiga da cineasta Eunice Gutman, criou a trilha sonora para o documentário "A Rocinha tem Histórias". Hoje, seu curriculum mostra passagem por muitos e importantes espaços musicais, inclusive na Itália (Sardenha, Porto Cervo e Roma). Ainda não gravou, mas deve acontecer em breve como a nova revelação sulina em escala nacional. Apesar dos novos tempos econômicos, em que as subvenções oficiais estão congeladas, os gaúchos dão mostra de organização e continuam realizando seus festivais. Aliás, mesmo quando patrocinados por prefeituras, os festivais nativistas do Rio Grande do Sul - que já chegaram a 60 anualmente - sempre tiveram uma autonomia financeira, em alguns casos - como o Musicanto, de Santa Rosa, e o Califórnia da Canção, em Uruguaiana - o mais antigo de todos - com sólidas estruturas. Até agora, os gaúchos já confirmaram nada menos que 28 eventos nativistas, iniciados com o 7ª Aparte Sinuelo da Canção Nativa, em São Sepé, realizado nos dias 17 e 19 e que prosseguirá com a Tertúlia Nativista, em Santa Maria, neste final de semana. Nos dias 25 e 27 haverá o Carijó da Canção Crioula, em Palmeira das Missões. Para junho, até agora, apenas um evento - o Bandoneio do Canto Ibiá, em Montenegro. Julho, em compensação, terá três festivais importantes: a Vindima da Canção Popular, em Flores de Cunha; o Ronco do Bugio, em São Francisco de Paula, e a 10ª Coxilha Nativista, em Cruz Alta. Cruz Alta, cujo prefeito por muitos anos foi o médico José Westphalen, terá este ano algumas inovações. Uma delas é o I Gaitaço da Coxilha, criado para valorizar a música instrumental. Participarão executantes de gaita piano ou ponto, com acompanhamento de, no máximo, dois violões, bombo e pandeiro. Cada candidato poderá apresentar duas composições inéditas e o grande homenageado do evento será Tio Bilia, figura histórica do acordeon, presidente do júri, no qual estarão outros bambas do instrumento: Renatinho Borgheti, Gaúcho da Fronteira e Gilberto Monteiro. Mara Fontoura, ex-Nimphas, está tão próspera como empresária do setor de gravações - é uma das sócias do estúdio Gramophone - que decidiu aplicar parte de seus recursos que não foram congelados pelo Plano Collor num restaurante de muitas bossas. Entretanto, Mara não abandonou a música: como compositora e intérprete continua fazendo belas canções e nos últimos três anos participou de produções independentes do Estúdio Verbo, de São Paulo - infelizmente sem distribuição comercial. Incansável garimpeiro de preciosidades musicais e produtor de belos projetos, Jairo Severiano desenvolveu o álbum-disco "Canto Carioca", patrocinado pela empresa Carioca de Engenharia S/A, Christian Nielsen - Engenheiros e Construtores e Sanenge - que, anteriormente já haviam bancado um belíssimo álbum-livro sobre Vinícius de Moraes. O "Canto Carioca" reúne 12 músicas que enaltecem o Rio de Janeiro em interpretações originais de Zé Renato, Clara Sandroni, Eduardo Dusek e Quarteto Bessler-Reis. Um projeto que por sua importância merecerá posterior registro com maiores detalhes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/05/1990

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