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FM-Estadual foi salva mas TV-E fica apenas no sonho

Mesmo deixando, frustrado, a direção da Rádio Estadual do Paraná, por não ter conseguido ver criada a prometida fundação que poderia permitir maior dinamização do prefixo oficial, o empresário Faruk El khatib sai satisfeito pelo que ali pôde desenvolver. Dinamizou o setor de jornalismo (acusado, entretanto de favorecer a divulgação dos candidatos peemedebistas), fez com que a emissora passasse a transmitir 24 horas e, através de uma discutível "conquista de audiência", eliminou da programação diurna a transmissão de música clássica - concentrada apenas no período noturno, entre 19/24 horas. xxx Como se considera um executivo especialista em marketing e, especialmente conhecedor do mercado editorial, Faruk El Khatib confiou a política de popularização da estadual ao conhecido Palito (Lourival Pedrossian) radialista veterano, passagem em vários prefixos e que durante o longo período que dirigiu a Atalaia, em Curitiba, a manteve em primeiro lugar em audiência entre as AMs - posição que só perdeu com sua saída, e ocupada desde então, pela Independência. Indicado para o cargo de assessor artístico da Estadual por seu amigo Álvaro Dias, é possível que Palito não só permaneça fortalecido na Estadual como amplie a programação popular, já que 6ª classificação em audiência, por certo, não o satisfaz plenamente - acostumado que sempre esteve em brigar pelo primeiro lugar nas pesquisas do Ibope. O que se pergunta, é se há justificativa para que numa cidade com duas dezenas de emissoras privadas, que já buscam ouvintes com programações extremamente populares - seja na faixa jovem, seja na rurbana - não caberia a um prefixo oficial, com meia centena de funcionários pagos pelo Estado (ou seja, pelos contribuintes), se preocupar em oferecer programas realmente culturais, divulgando justamente a música de qualidade que, normalmente, não se ouve em outros prefixos. Igualando-se às emissoras particulares, cujas programações (especialmente nas FMs), repetem-se monotonamente, com exaustiva promoção do que de pior há no som descartável nacional e internacional, a Estadual pôde conquistar uma boa posição - mas isto nada significa em termos culturais. Em sua longa história, desde que começou como modesto serviço interno de radiodifusão no Colégio Estadual do Paraná, em 1952, através do idealismo de Aluízio Finzetto - (cujo décimo aniversário de morte, no próximo dia 6 de dezembro - deveria merecer homenagens especiais), a Rádio Estadual nunca teve a atenção merecida. Funcionou sempre como filha enjeitada, em improvisadas instalações (no porão das arquibancadas do antigo Hipódromo de Guabirotuba; em salas cedidas pelo Café do Paraná, na travessa da Lapa, ao lado da Delegacia de Plantão), até que passou a ocupar três andares do edifício Caetano Munhoz da Rocha, na Rua Cruz Machado. Embora tenha hoje um bom espaço - e dispondo inclusive de um amplo estúdio de gravação (mas sem equipamento apropriado), a Estadual sofreu durante anos os problemas técnicos de transmissão, só aos poucos solucionados. xxx Muita coisa foi feita, em termos físicos, para que a Estadual pudesse chegar melhor aos ouvintes. Entretanto, muito falta - e, inclusive, há dois anos, o canal de FM, reservado para emissora educativa - e que, naturalmente, caberia à Estadual -acabou sendo concedido pelo ministério das telecomunicações à Fundação São Sebastião, do Rio de Janeiro. Misteriosa instituição - da qual não se consegue maiores informações (quem a dirige, quais seus propósitos), a FSS conquistou concessões para FMs educativas em várias cidades, mas no caso de Curitiba não se interessou a, no prazo devido, colocá-la no ar. Desta forma, a concessão caducou e, habilidosamente, Faruk El Khatib reconquistou a possibilidade da FM-Estadual poder ser implantada. xxx Desconhece-se o que o governador João Elísio Ferraz de Campos pensa em relação ao futuro da Rádio Estadual. Informações não lhe devem faltar pois um de seus maiores amigos, colega desde os tempos em que dirigiam o Grêmio Flamingo, no Country Clube, o cartorário Roberto Guimarães, já a dirigiu por quase 8 anos, durante os governos Jayme Canet Jr., e Ney Braga - só deixando o cargo quando ganhou, no final da administração de Ney (tio de sua esposa), a hoje secretária da Cultura e Esporte, Suzana Munhoz da Rocha), o cargo de procurador do Tribunal de Contas, Roberto Guimarães, o "Beco", advogado e também cartorário, conhece, por certo, os problemas da Estadual, pois participou de inúmeras reuniões de grupos de trabalhos que analisaram seus problemas e propuseram soluções - infelizmente nunca efetivamente executadas. xxx A idéia de uma TV Educativa para o Paraná - um dos sonhos que Faruk acalentou em seus primeiros dias de poder - também hoje está inviabilizada. Apesar de quase todos os Estados possuirem TVs educacionais, as mesmas apresentam custos altos de manutenção - sem falar na dificuldade de implantação. E quando poderia ter recebido, gratuitamente, todo o equipamento, o governo perdeu esta oportunidade. A história merece ser lembrada: o professor Mousinho Coutinho, da Universidade Católica do Paraná, dirigiu por algum tempo a Prontel, organismo que coordenando a política de tecnologia educacional recebeu consulta da Fundação Korand Adenauer, da República Federal da Alemanha para qual o Estado deveria ser oferecido um moderno conjunto de aparelhagem destinada a uma televisão educativa. Paranisticamente, Mousinho indicou o seu Estado, mas o secretário de Educação e Cultura na época (Francisco Borsati Neto, engenheiro civil), não se motivou pelo projeto. Alegou dificuldades, levantou tantos obstáculos que os alemães acabaram se cansando e a aparelhagem acabou indo para Manaus, onde já está no ar há vários anos uma televisão educativa. Hoje, se o Paraná quiser ter sua TV E, terá que comprar, com suados dólares, o equipamento. Quando poderia ter tido de graça o básico para esta instituição cultural.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
06/09/1986

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