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Aramis

A força no ar em tempos radicais

O mais político (e corajoso) dos cineastas contemporâneos, o grego Constantin Costa-Gravas, 55 anos, realizou no ano passado um filme para mostrar que o rádio é ainda uma força notável em termos de comunicação e que sua ação pode ter uma presença tão grande (ou mesmo maior) que a sua irmã mais nova, a televisão. Em "Atraiçoados" (já lançado no Rio/São Paulo, ainda inédito no Brasil), o roteiro de Joe Eszterhas parte de um crime que abalou a opinião pública há 5 anos - mas que no Brasil teve pouca repercussão: o assassinato de Alan Berg, controvertido apresentador de um programa político numa rádio de Denver, assassinado defronte a emissora em que trabalhava por integrantes de uma organização nazista. Berg foi morto na tarde do dia 18 de junho de 1984, tendo seus assassinos usado metralhadoras (de uso privativo das Forças Armadas), mostrando muita organização. xxx A morte de Alan Berg foi investigada a fundo pelo jornalista Stephen Singular, do que resultou "Talked to Death: The Murder of Alan Berg and the Rise of the Neonazis" (Berkeley Book, New York, 1987, 309 páginas), no qual o fato é relatado em detalhes - e na relação mais profunda que teve: a emergência de organizações direitistas/nazi-fascistas que Berg fazia em seu chamado "talk-show" radiofônico, cuja audiência transpunha os limites de Denver e já lhe davam uma projeção nacional. No ano passado, o cineasta Oliver Stone, 43 anos, que a exemplo de Costa-Gravas, também se preocupa em fazer um cinema político ("Salvador - O Martírio de um Povo", "Platoon", "Well Street"), focou em "Radio Talk" o assassinato de Alan Berg, num filme com o mesmo vigor de suas obras anteriores e que foi levado, hors concours, no Festival de Cannes. Só lançado em março último nos Estados Unidos, "Radio Talk" traz mais lenha para a discussão de um personagem controvertido, vítima da violência nos Estados Unidos - e que, indiretamente, mostra a importância do rádio como veículo político. No Brasil é cada vez maior o número de radialistas que têm chegado ao poder - seja no Legislativo, seja no Executivo (é sempre bom lembrar que Álvaro Dias começou a se tornar conhecido em Londrina ao apresentar, há 23 anos passados, um programa jovem-guarda chamado "É uma Brasa, Mora!", na Atalaia, já então dirigida por seu amigo Palito). A popularidade que a radiofonia traz - numa abertura para o voto popular - e as diferentes formas de utilização dos espaços de que dispõe, utilizando desde formas espiritualistas, filantrópicas, popularescas ou mesmo do mundo-cão (que dá, infelizmente, o maior Ibope) - se refletiram nas últimas eleições. xxx Até agora poucos conhecem a história de Alan Berg, a vítima da extrema direita nos Estados Unidos - e a forma com que usava o seu "talk-show". O livro de Stephen Singular praticamente nem chegou ao Brasil e a referência à sua morte, em "Atraiçoados" (Betrayed), o filme de Costa-Gravas, estrelado por Debra Winger e Tom Berenger, não chegou a ser destacado pelas primeiras críticas. "Radio Talk", o filme de Oliver Stone - e que leva a questão mais a fundo - ainda não tem data de lançamento no Brasil, mas aqui fica já o registro, para mostrar que longe de estar superado por outros meios de comunicação, o rádio - e principalmente os que o utilizam - continua a ter uma imensa força. A questão é saber de que forma este poder é exercido - e com que objetivos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/05/1989

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