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Aramis

Fuja do Leão e seja um mecenas

Entre entregar o ouro para o leão e acabar contribuindo para o pagamento de marajás e "financiamento" de obras faraônicas (e muito discutíveis) por que não fazer um projeto cultural? Assim, mesmo antes da Lei Sarney, grandes empresas descobriram as vantagens de substituirem a cesta de Natal (bons tempos!), o Scotch ou a caixa de vinho francês - quando tais mimos eram possíveis - por livros e discos, em tiragens especiais, para "amigos, clientes e fornecedores". O publicitário Marcos Pereira (1930-1980) foi o primeiro a perceber o filão. Começou com um disco hoje histórico ("Onze Sambas e uma Capoeira", de Paulo Vanzolini, produção de seu amigo Toquinho) e a repercussão foi tamanha que cinco anos depois, Marcos fechava sua agência e passava a se dedicar a uma gravadora tão nacionalista que o levou a ter, na época, uma dívida de um milhão de dólares, da qual se orgulhava. Apesar dos aplausos nacionais pelos seus belos discos, acabou sozinho e suicidou-se num momento de desespero. Paralelamente aos discos-brindes - e há muitos a serem registrados parcimoniosamente - os livros-de-arte crescem em quantidade e qualidade. Geralmente são muito elogiados e pouco vistos, já que apesar de edições caras, poucos tem os privilégios de recebê-los. Quando muitos elogiam as edições, aparece um jornalista, Daniel Nobre, da "Folha de São Paulo" que decidiu dizer que o rei está nu: aponta falhas em muitas das obras que estão saindo neste final de ano. Como não conhecemos a maioria destes livros, é difícil saber se Nobre tem ou não razão - mas o fato é que em alguns casos, há realmente falhas. Mas na maioria, reconheça-se, os méritos são maiores. Assim, o grupo MWM-IFK, chega ao oitavo volume da série editada por Emanuel Araújo, desta vez sobre a obra da pintora Wega Nery ("Reflexos do Real Invisível", 348 páginas, textos de Leo Gilson Ribeiro, Ivo Mesquita e Tão Gomes Pinto). Araújo é, ao lado do crítico Jacob Klintowitz, o mais ativo produtor de livros-de-arte. Tanto é que fez uma obra admirável, "A Construção do Livro" (editora Nova Fronteira/Fundação Pró-memória), no qual fala sobre a forma de se produzir um bom livro de arte. Klintowitz, crítico do "Jornal da Tarde ", é um mestre: já editou mais de 20 obras, fascinantes especialmente para grandes empresas como a Volkswagen, que banca projetos milionários, textos em português, inglês e alemão para distribuição em todo mundo. Este ano, entre outros livros, Klintowitz fez o projeto gráfico e a diagramação de Mitos Brasileiros" (220 páginas, patrocínio da Rhodia com fotos de Rômulo Fialdini, pesquisa e interpretação mitológica de Raissa Cavalcanti. Aos 85 anos, Pietro Maria Bardi, diretor do MASP, é outro mestre em fazer livros de arte e, anualmente, produz dois ou três trabalhos marcantes. Este ano fez o prefácio para "Gravura: Arte e Técnica", de Itajay Martins (248 páginas). Quem gosta de futebol e admirava o estilo de dois dos maiores cronistas, Mário Filho e Nelson Xavier, tem que incomodar a Xerox e tentar conseguir o "Fla-Flu... E as multidões despertaram" (no qual Oscar Maron Filho e Renato Ferreira reunira textos dos dois veteranos comentaristas, ambos já falecidos. A Secretaria da Cultura de Minas e o Banco de Desenvolvimento de MG editaram "Carlos Drummond de Andrade: Crônicas 1930/34", enquanto que as fotos de Carlos Secchin sobre o Arquipélago de Fernando de Noronha ganharam um livro de 160 páginas, patrocínio do grupo Montreal. Vários livros sobre artes plásticas: "Inimá de Paula (Crefisul, texto de Frederico de Morais); "Krajberg Natura" (patrocínio do Chase Manhattan Bank), "Os 14 do Vale", de Aldemir Morato de Lima e Luis Ernesto, patrocínio Monsanto; "Sorensen", patrocínio da Saldvik do Brasil. Outras obras: "Bahia: Odara ou Desce/ Nildão" (patrocínio Polipropileno S/A), "Arte & Artesanato: talentos regionais" (patrocínio Listel) e "Universo Abrangente", de Alvaro Derani (patrocínio grupo Oswaldo Derani). Enfim, projetos que merecem estímulo. Preferível que se gaste com obras-de-arte (por mais deficiências que apresentem) do que desperdiçar o dinheiro no orçamento da União - que faz usinas nucleares e elefantes brancos a custa de milhões.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
31/12/1987

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