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Aramis

Geléia Geral

Jane Duboc é o exemplo da cantora afinada, suave, que infelizmente não teve ainda o reconhecimento popular. Com mais de 15 anos de estrada, vivência nos Estados Unidos, sensível compositora, já dividiu shows com Toquinho, fez gravações marcantes mas ainda é uma vocalista pouco conhecida fora dos meios mais bem informados. Tudo isto contribuiu para que seu último álbum - "Ponto de Partida", feito numa pequena etiqueta paulista, sem qualquer esquema de divulgação (Antena Discos e Vídeo, Avenida Europa, 571, São Paulo) passasse desapercebido. O que é uma pena, pois se trata de um disco com músicas das mais interessantes, oito das quais da própria Jane (com diferentes parceiros): "Nove e Meia", "Um Pouco Mais", "Pé na Estrada", "Cantor", "Al Jarreau" (homenagem ao extraordinário vocalista americano), "Ponto de Partida" e "Vire a Página". Do amigo Toquinho, Jane ganhou "Mentiras" e duas outras faixas inéditas são "Aqui e Além" (Thomas Roth/Luiz Guedes) e "Namoro" (Carlinhos Menezes/A.C. De Mello). Um disco clandestino em termos de promoção, mas que merece ser procurado por quem gosta da boa MPB. Em Curitiba, o Virgílio Savarim tem algumas cópias em sua loja. xxx Com a remontagem de "Evita", da dupla Webber/Rice - há meses no Palace, em São Paulo, a cantora Cláudia, intérprete da personagem-título (tanto na produção carioca, como agora em São Paulo) volta a merecida evidência, já que é uma das bonitas vozes do Brasil. Uma nova etiqueta, a LupSom, lança seu novo lp, "Sentimentos", com dez faixas. Apesar de uma já dispensável regravação de "Não Chores Por Mim Argentina" (mas que sempre tem seu público), Cláudia regravou também "Quero que Vá Tudo Pro Inferno" (Roberto-Erasmo Carlos) - que Vinícius Cantuária também regravou em seu Lp "Nu Brasil" (Odeon) e "Muito Romântico" (Caetano Veloso). Em compensação, há faixas inéditas: "Crin Hirsuta" (um bolero de Pablo Milanez), "Terra Batida" (Dominguinhos/Clodô), "Lençóis de Linho" (Billy Blanco Jr./Paulinho Mendonça), "Escola de Frevo" (Klecius Caldas/Fred Falcão) e "Golfinhos de Ipanema" (Cláudia/Chico Medori). A vocação de Cláudia para crooner - profissão que exerceu em sua juventude - a leva a incluir também versões, quando, sinceramente, poderia aproveitar melhor o espaço para outras músicas inéditas. De qualquer foram, é sempre um disco válido por dar a Cláudia a oportunidade de mostrar sua bela voz. Que outras (ótimas) cantoras que estão há anos sem gravar - como Claudete Soares, Márcia e Doris Monteiro - também sejam lembradas pela LupSom, pelo visto interessada m formar um bom elenco. xxx Como Paulinho Nogueira, o violonista Antônio Rago estava há tempos sem gravar. Instrumentista competente, muitos anos de carreira, dominando seu instrumento, Rago tem um estilo seguro, pertencente à velha tradição do violão brasileiro. Moacyr Machado, diretor artístico da 3M, conhecendo os artistas, soube lembrar-se de Rago e assim temos um disco deste violonista experiente. Não se trata, obviamente, de um experimentador de técnicas ou cultor de modismos, mas um violonista sessentão, que prefere um repertório seguro, com temas conhecidos como "Modinha" (Sérgio Bittencourt), "Sons de Carrilhoões" (João Pernambuco), "Abismo de Rosas" (Américo Jacobino, o "Canhoto") e "A Noite de Meu Bem" (Dolores Duran). Compositor com obra extensa, Rago também incluiu várias composições próprias: "Três Amigos no Choro, "Ranchinho da Saudade", "Solitário D'Oeste", "Mentiroso", "Jamais Te Esquecerei" e "Há Quanto Tempo". Do filho Roberto, gravou "Duas Palavras" e, mostrando um arranjo interessante, incluiu a recente "De Volta Pro Aconchego" (Dominguinhos/Nando Cordel). Para quem gosta de violão tradicional, uma opção recomendável. xxx A Polygram lançou há algum tempo um disco da dupla Run-DMC, rappers novaiorquinos que surgiram com músicas bastante promovidas e que com seu lp "Raising Hell" venderam dois milhões de cópias. Contratados da prestigiosa (mas independente) Profile, o Run-DMC pertence a um linha de música negra, com origens no Caribe e que tem uma já longa história, com conjuntos como o Kool Herc, Grandmaster Flash, Áfrika Bambataa. Uma saga de influências negras - das Antilhas e da mãe-África - como modismos de rebeldia e comportamento na Big Apple. Nada de excepcional, apenas em termos de informação uma tendência que tem crescido urbanamente. Antecipadamente ao lp do Run-DMC, foi promovido um mix com "Walk This Way" e "My Adidas", duas faixas bem incrementadas. xxx Importante não confundir a música do Run-DMC, com a nova tendência consumista que a RCA e a WEA preparam-se para impor neste ano: a música africana reciclada em decibéis de rock. No final de novembro, já se anunciaram as primeiras providências por parte da RCA, a propósito do lançamento do lp do grupo Obina Shok sediado em Brasília, mas formado por jovens do Gabão (Roger Kedyh), Senegal (Jean Pierre Sengor) e do Suriname (Luís Winston), filhos de diplomatas, e mais cinco brasileiros. Agora, enquanto o Obina Shok começa a ganhar espaço, um movimento mais amplo se inicia. Dia 7 de fevereiro, o grupo Kassav, que nasceu na Martinica, vive na França e tem raízes musicais na África, abre sua excursão brasileira com um show no Recife - estendido depois a Salvador e Rio de Janeiro (Curitiba, nem foi considerada para o roteiro). A WEA vem aí com um chamado "pacote negro", com quatro Lps de grupos africanos - "Aura" (1984), de King Sunny Ade, "Chimurenga for Justice" (1985), de Thomas Mapfumo & The Blacks Unlimited; "Pirate", de Ini Kamoze e "Nelson Mandela" (1986), de Youssou N'Dour and Super Etoile Dkar. A RCA firma um acordo com a Celluloid, um selo baseado em Nova Iorque com um elenco de artistas negros, incluindo Manu Dibango, saxofonista brilhante que fez um dos melhores discos de 1986, "Electric Africa". Ator e jurado do programa Silvio Santos, da SBT/TV Iguaçu, Sérgio Malandro também une o humor à canção e após uma primeira experiência na RCA, e dois discos de ouro com "Vem fazer glu-glu" e "Piu-Piu, au au" (People, People), está agora na 3M. Seu elepê é na linha do esquema apelativo para o público que atinge. Assim vai na sátira com "Stalando Cobra", "My Bus", "Love In Brasil", "O Som dos Bichos", recria seu sucessor "Glu-glu-glu" acoplados a um potpourri dos mais ingênuos e até desencava um antigo sucesso dos anos 60, "Escândalo" (Shame And Scandal In The Family). Encerrando, ainda mostra seu lado romântico ao regravar "Sentado à Beira do Caminho" (Roberto-Erasmo Carlos). Produção de marketing certo, para servir como espécie de portfólio sonoro de seus shows em clubes, tanto é que na contracapa está até o telefone para contatos de interessados: (011) 220-2399/220-5735, São Paulo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
25/01/1987

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