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Aramis

Geléia Geral

Um golpe na especulação das lojas que trabalham com as ditas raridades fonográficas: reedição dos álbuns mais procurados pelos jovens. A (ótima) idéia é de Aloysio Motta, gerente comercial da WEA, que lançando o projeto Rock Pesquisa vai de encontro ao óbvio: para o que existir público, a gravadora reeditará os discos de seu catálogo - rigorosamente iguais as edições originais (capas duplas, encartes, etc.) E tem mais: as sugestões serão bem-vindas e podem ser encaminhadas a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 660, Jardim América, CEP 01442, SP. Os primeiros seis discos reeditados dentro deste projeto são importantes dentro da história do rock dos anos 60/70. "The Best of The Doors", mostra que, 15 anos após a morte do líder do grupo, cantor e poeta Jim Morrison, os seus elepês tiveram um significado especial - e nesta montagem estão faixas dos 7 discos gravados entre 1967/71, incluindo naturalmente, "Light Me Fire", "L.A. Woman" e "The End", do álbum de estréia. Formado há 19 anos pelos ingleses Steve Winwood, Chris Wood, Jim Capaldi e Dave Mason, o Traffic teve um papel vital na fusão do rock com o orhythm & blues e a tradição folk, No final de 71, já sem Mason, mas com formação reforçada por Rock Grech, Jim Gordon e Reebopo Jwaku Bah, o Traffic gravou "The Low Spark of High Heeled Boys", reeditado no Brasil. Aos 55 anos, Chuck Berry (St. Louis, Missouri, 18/10/1931), é um dos pioneiros do rock e seu álbum "Roc-Kit", agora reeditado (foi lançado originalmente em 1979) é uma prova desta vitalidade. Outro veterano, Neil Young (Toronto, 1945), formação folk, ex-Buffalo Springfield, ao lado de Crosby, Stills e Nash, formaria um dos mais importantes quartetos dos anos 70. Agora, podemos conhecer melhor sua fase de 1978, com a reedição de "Comes A Time". Morto aos 36 anos, em maio de 1981, Bob Marley foi a grande figura do reggae, a frente dos Waillers (no qual também estiveram Peter Tosh e Bunny Livingston), Marley divulgou o ritmo jamaicano. Um de seus momentos mais entusiásticos, Live (At The Lyceun), gravado em Londres, em julho de 1975, reeditado agora, traz canções que marcaram o movimento, incluindo "No Woman No Cry" - que Gilberto Gil popularizou no Brasil em sua versão ("Não Choreis Mais"). O rock tem uma crônica de tragédias e mortes precoces. E um exemplo é o grupo Lynyrd Skynyrd, praticamente destruído em outubro de 1977, logo após o lançamento "Street Survivors" (agora reeditado), quando o avião fretado pelo grupo espatifou-se perto de Gillsbur, Mississipi, matando o cantor Ronnie Van Zant e o guitarrista Steve Gaines, Foi o fim do grupo que soube captar o chamado "southern rock" - o rock do sul dos EUA. Nesta gravação, há muito solicitada pelos interessados no som de rock, uma versão country-rock de "Honky Tonk Night-Time Man". xxx Nordestino, mas fazendo uma música de sabor carioca - sem chegar entretanto ainda ao estilo dos pagodeiros - Jorge de Altinho oferece uma boa seleção de músicas alegres e comunicativas em "Clima de Festa" (RCA), na qual ao lado de suas próprias composições soube escolher também inspiradas músicas de Cecéu, Jandhuy Finizola ("Meu Sertão", com a participação especial de Paulo Diniz) e Nando Cordel ("Com Você Eu Vou"). Duas participações especiais, mostrando suas ligações nordestinas: Luiz Gonzaga em "Não Lhe Solto Mais" e Dominguinhos em "Bom Demais", uma das faixas de maior comunicação deste disco valorizado pelos arranjos e regências de Chiquinho do Acordeon. xxx Dois Leonardos na praça. Um é o gaúcho Leonardo (Jader Moracy Teixeira, Bagé, 46 anos), nativista, compositor e intérprete defendendo o tradicionalismo a partir da própria faixa-manifesto de seu último lp ("Carta à Uruguaiana", Continental), no qual reúne dois xotis, vaneirões e até declarações. O outro Leonardo é pernambucano de Usina Barra, município de Vicência, a 80 km de Recife. Com 20 anos de carreira - começou cantando já em programas de televisão - este nordestino é autor de músicas românticas, puxadas para o brega, emplacadas nas paradas por intérpretes como Gilliard ("Não Diga Nada". 82) e José Augusto ("Meu Dilema", 78), mas ele próprio vem fazendo sua carreira de cantor (3 compactos e 4 lps), atraindo multidões em suas apresentações. Em seu novo lp ("Coisas da Vida", Odeon), mostra um refinamento no repertório, desde suas próprias composições ("Coisas da Vida", "Junto com o sol") até versões ("Que passara mañana"), mas sem abandonar o breguismo - e para tanto desenterrando até um antiguíssimo sucesso de Anísio Silva (quem se lembra?) chamado "Tudo foi Ilusão". xxx Se Costinha e Dercy Gonçalves têm seu apelativo humor transformado em discos de ótima vendagem pela CID, nada mais natural que Chico Anísio, um dos humoristas mais populares do Brasil não abandone também o disco como uma das (muitas) formas de chegar ao seu (imenso) público: "Chico é do Cassete", produção de Durval Ferreira, no qual o autor de "É mentira, Terta" (um dos seus livros de maior sucesso, por sinal sendo reeditado agora pelo Círculo do Livro, 144 páginas, Cz$ 37,90) conta aquelas piadas e estórias que a Censura não permite que se ouça na televisão. Para quem não quer gastar Cz$ 200,00 para vê-lo no teatro, o disco vale como uma amostragem. De quebra, tem ainda a parte musical com o ufanista "Hino ao Músico", de Dorival Silva e Nancy Wanderley, sua ex-esposa, aliás. xxx À primeira audição até parece que estamos ouvindo Jorge Ben. Não é de hoje que o paulista Bebeto vai nas mesmas águas de Ben e graças a isto tem permanecido em alguns círculos que aceitam seus sambinhas descompromissados, ingênuos - com um balanço até agradável. Jorge Ben, é claro, tem raízes afro e seu estilo é próprio, mas Bebeto funciona dentro de suas limitações, como mostra em "Vem me Amar" (Polygram), exemplo de disco sem piques maiores - daqueles que não cheiram nem fedem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
21/09/1986

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