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Aramis

Gente como a gente nesta Lua toda Azul

São muitos os aspectos que fazem de "Feitiço da Lua" (cine Condor, 5 sessões) não só um dos favoritos do Oscar-88, mas, principalmente, um dos mais agradáveis filmes do ano. Embora com requintes de produção luxuosa "Moonstruck" tem a sinceridade, espontaneidade e comunicação que lembra um de um curto, mas pródigo, período em que o cinema americano voltou-se para temas urbanos, focando suas lentes sobre pessoas simples - especialmente a partir dos Oscars que o surpreendente "Marty" levou na noite de 27 de março de 1955 (ver box a respeito nesta página). Se Marty Pilletti era um feio, desajeitado e solitário açougueiro no Bronx na telepeça de Paddy Chayfsky, neste "Feitiço da Lua", Ronny Cammareri (Nicolas Cage) é um desajeitado padeiro, sem a mão direita, por cuja perda culpa seu irmão mais velho, Johnny (Danny Ayello), com quem rompeu desde o acidente. Como Marty, ele também é oriundi e a atmosfera italica-novairoquina caracteriza toda a ação que ao contrário do filme que Delbert Mann realizou há 34 anos (e que já teve várias reprises na televisão, sendo assim também conhecido dos mais jovens), não tem origens teatrais. Trata-se de um argumento original, desenvolvido por John Patrick Shanley. O filme abre e encerra ao som da dolente "That's Amore", balada que Dean Martin, outro oriundi, colocou nas paradas de sucesso do mundo nos anos 60. A little Itália com seus tipos meridionais, o comportamento característico de pessoas assumidamente exageradas em suas reações afetivas, os encontros e desencontros do amor estão presentes em todas as seqüências desta comédia construída com total competência pelo canadense Norman Jewison, 62 anos, 26 de cinema e que, sempre de forma correta, tem sabido frequentar os mais diferentes gêneros ao longo de uma ampla filmografia. "Feitiço da Lua" é daqueles filmes-empatia que dispensa maiores divagações. Na sinplicidade de sua história, no entanto dos personagens e no encadear das situações se tem uma história que embora se passe no Brooklym (como "Marty" era ambientada no Bronx), poderia acontecer em qualquer parte do mundo. Loretta Castorini (Cher, excelente e uma das favoritas ao Oscar de melhor atriz), é a viúva que procura, um reencontro de amor, "em que tudo seja certo, para não dar azar" - referindo-se a prematura morte de seu primeiro marido. Para tanto, faz com que o pedido de casamento de seu apaixonado, Johnny, aconteça, de joelhos, num típico restaurante italiano. Só que o casamento tem que ser adiado devido a grave doença da mãe do noivo, na Sicília, e Johhny antes de embarcar pede que a noiva vá procurar seu irmão, Ronny, com ele rompido há anos, para convidá-lo para a festa. Loretta atende o pedido e exagera: no primeiro encontro vai para a cama com o impulsivo Ronny, iniciando então um triângulo que poderia acabar em tragédia - mas, claro, tem uma solução pacífica ao redor da mesa de jantar. Antes do final há situações deliciosas especialmente no universo familiar de Loretta - com o seu velho pai, Cosmo (Vincent Gardenia, candidato ao Oscar de melhor ator coadjuvante), buscando um sopro de juventude nos braços da amante Mona (Antia Gilette) e a mãe, Rose (Olympia Dukakis, excelente - também candidata ao Oscar, maior coadjuvante), procurando enfrentar a solidão da velhice. Jewison conseguiu dar a "Feitiço da Lua" um tom poético e bem humorado, emoldurado numa fotografia em que David Watkin procurou capturar especialmente os tons azulados. É um filme blue não no sentido de tristeza, como esta múltipla palavra pode ser vista, mas de suavidade e ternura, de um romantismo marcante - e cuja trilha sonora, montada por Dick Hyman com diferentes temas dá sua contribuição. Requisitado sempre por seu amigo Woody Allen para criar as trilhas de seus filmes, Dick aqui também fez um trabalho primoroso: a banda sonora é tão envolvente quanto o filme - um reencontro poético com aqueles personagens que aparecem realmente gente como a gente o que, ao final da sessão, dão a sensação de que estão ao nosso lado, deliciando-se com as imagens que acabamos de assistir. LEGENDA FOTO 1 - Cher, sensualista, por sua interpretação como a viúva Loretta Castoreri em "Feitiço da Lua", é candidata ao Oscar de melhor atriz. Já ganhou o Globo de Ouro da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. LEGENDA FOTO 2 - Loretta e Ronny Cammareti (Nicolas Cage) em "Feitiço da Lua". LEGENDA FOTO 3 - Emocionante como Rose Castorini, a atriz Olympia Dukakis é também candidata ao Oscar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
05/04/1988

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