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Aramis

Gonzagão, este monumento vivo de nossa melhor MPB

Há seis anos ("Jornal do Brasil", 20/04/1981), a propósito do 38º elepê de Luiz Gonzaga ("A Festa") dentro de uma carreira devotada, quase exclusivamente a uma única gravadora, a RCA (em 1973, brigou, fez dois elepês na Odeon e voltou como filho pródigo), Tárik de Souza o definia como "Gonzagão, o monumento nordestino". Realmente, o amigo, poeta e sobretudo grande jornalista voltado ao registro de nossa MPB, não poderia ser mais feliz em sua definição. Pois o pernambucano (de Exú, 13/12/1912) Luiz Gonzaga do Nascimento, O Rei do Baião, está ao lado do orquestrador, instrumentista e chorão Pixinguinha, do praieiro Dorival Caymmi e do urbano Noel Rosa, como um dos pilares que "fincou os limites da canção nacional expandindo-a ao Norte com a incorporação de alguns de seus principais ritmos regionais". Aos 74 anos, rijo e forte como nordestino de fibra, Gonzagão tem um novo e habitual disco na praça ("De Fiá Pavi", RCA), enquanto é reeditado um afetuoso livro sobre a sua vida e obra ("O Sanfoneiro Do Riacho Da Brígida", de Sinval Silva - ver nota na coluna "Geléia Geral"). Dedicado a Humberto Teixeira, grande amigo e parceiro (nascido em Iguatu, Ceará, 05/01/1916), este disco tem aquela espontaneidade, sinceridade e beleza que caracteriza o Gonzagão como o intérprete de raízes mais profundas com o povo. Ao longo de uma carreira de mais de cinqüenta anos - em 1930, já tocava acordeon, que aprendeu com Dominguinhos Ambrósio, em Fortaleza, e, dez anos depois, acompanhando Genésio Arruda num 78rpm (com o forró "Véspera De São João"), Gonzaga nunca se afastou de uma linguagem extremamente popular, brasileiríssima - e que por isto mesmo o universalizou como músico, compositor e mesmo cantor em seu estilo único, falando das coisas do povo, do Nordeste, do Brasil. Ex-candidato a deputado federal pelo MDB (73), ex-candidato pelo PDS (em 80, desaconselhado pelos amigos), eternamente envolvido com as artimanhas do poder angariado através da cultura popular, Gonzaga fez mais pelo nordeste do que a maioria de seus políticos reunidos. Por várias vezes o Gonzagão já ameaçou largar tudo e voltar para Exú, onde tem fazenda, indústria, fundou escolas, mas não conseguiu apartar a ancestral batalha entre as famílias Alencar e Sampaio. O filho do Sanfoneiro Januário - que nunca esquece de homenagear, e do qual fala ainda em "Doutor do Baião", é, há 50 anos, uma presença da maior força e vigor em nossa música brasileira. Em 1983, após desfiar a imortal "Asa Branca" (um dos hinos populares brasileiros, ao lado de "Chão De Estrelas", "Aquarela Do Brasil", "Carinhoso" e "Feitio De Oração"), enfiou o característico chapéu de cangaceiro, marca visual registrada, na reverendíssima cabeça de Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Em impecável português polaco, agradeceu Wojtila: - "Obrigado, cantador". A homenagem ressoou na região secularmente flagelada. Lá, mesmo um filho abençoado como o Rei do Baião, não pode perder de vista sua condição de sobrevivente, sublinhada por Gonzaga em memorável parceria com Severino Ramos: Se não fosse este meu fole / que me deu o nome há muito tempo eu já tinha morrido de fome Embora compositor múltiplo, Gonzagão não fica apenas em suas músicas. E neste seu novo elepê, apenas cinco faixas são de sua autoria: "Nem Se Despediu De Mim", "Doutor Do Baião", "Toca Pai" e "Pobre Do Sanfoneiro", em parcerias com João Silva e o delicioso "Mariana", parceria e participação do filho Gonzaguinha. As outras faixas são de João Silva ("De Fiá Pavi", parceria com Oncinha; "Forró No Interior", parceria com Oncinha; "Eu Me Enrabicho", parceria com Pollyana; "De Olho No Candeeiro", parceria com Zé Mocó); Cecéu ("Zé Budega"), Zé Dantas ("Forró Do Zé Antão"). Todas, entretanto, têm aquela identificação, aquele espírito tão genuíno e característicos de Luiz Gonzaga - legítimo intérprete da alegria do povo brasileiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
12/04/1987
Vivemos hoje uma aridez de talentos que me faz refletir sobre a aspereza e as redundantes profecias do antigos profetas jordestino.No sentido catastrofico parece-me que estava certo Antonio Conselheiro. O extafe musical nordestino tornouse híbrido depois da morte de Luiz Gonzaga numa desolaçao de sertanejo que antever uma grande seca. Fica porem o seu legado como um adubo no cenario arido da musica popular nordestina. ESTA VIVO BEM VIVO O SEU LEGADO.

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