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Aramis

Governo Requião, ano 0: mudança de guarda

Governo Roberto Requião, hora zero. O velho adágio de que "vassoura nova varre bem" confirmou-se pelos ponteiros do relógios: às 7 horas da manhã de ontem, em algumas repartições - e mesmo no Palácio Iguaçu - já havia gente nos corredores. Janelas abertas, salas limpas, mesas em ordem - um clima de assepsia burocrática nesta mudança da guarda (civil) das coisas do Estado. Mesmo em clima de branca paz - na sucessão tranqüila da administração Álvaro Dias - obviamente que começam nesta semana as primeiras substituições. Mais do que substituições - a palavra "demissão" é, prudentemente, evitada - o que se classifica de "período de ajustamento", com "intercâmbio de ocupantes" de funções - das mais significativas, a partir do segundo escalão até modestos cargos de funções gratificadas que pouco significam aparentemente em cruzeiros mas que, para seus ocupantes, tem sempre um sabor de prestígio. O "Diário Oficial do Estado", edição de sexta-feira que circulou somente ontem à tarde - e hoje chega à maioria dos assinantes - traz os primeiros atos com mudanças dos milhares de cargos que, sendo de confiança, podem ser tranqüilamente substituídos. O Sr. Luís Carlos Barbosa, simpático diretor do Departamento de Imprensa Oficial - cargo por sua vez subordinado a Secretaria da Administração, ocupado pelo advogado e jurista Luiz Gastão Vieira de Alencar Franco de Carvalho, ex-presidente do Tribunal de Alçada - montou um esquema para que os atos oficiais de formação do novo governo ganhem natural prioridade na publicação. Portanto, nos setores públicos, o "Diário Oficial" será, pelos próximos dias, o jornal de leitura mais disputada. xxx Enquanto alguns dos novos secretários ungidos pelo governador Roberto Requião já assumiram na sexta-feira com os seus quadros de assessoramento direto preenchidos ao menos numa primeira etapa, em outros, ainda há claros. Mais prudentes, sentindo que o serviço público exige cautela, experiência e, sobretudo, diplomacia, para bem funcionar, vão primeiro sentir o terreno, fazer sondagens, procurar conhecer os homens e mulheres que, em centenas de casos, há anos estão na área, sobrevivendo a mudanças quadrienais (ou menos) de guarda do poder. xxx O raposismo administrativo - em seu bom sentido - é válido em termos de eficiência, quando bem conduzido. Naturalmente, um novo secretário de Estado - especialmente se vindo da iniciativa privada, sem maior experiência anterior - pode-se chocar com os vícios tradicionais da burocracia, da máquina emperrada - em que pese as tentativas de desburocratização - e da lentidão natural exigida pelo trato com os recursos públicos. A negativa que a legislação impõe em centenas de casos que, aparentemente, deveriam ser encaminhados rapidamente, chega a irritar a quem assume com ânsia de mostrar serviço, de realizar objetivos - impregnado de boas intenções e muitas idéias na cabeça. Nestas ocasiões é que as rotas de colisão intensificam a estatística dos acidentes de cargos e cabeças rolam - muitas vezes de forma sangrenta. Já os que trazem uma vivência política e, especialmente, visão mais ampla da administração - somada a boa educação, ao relacionamento inteligente - o bom senso recomenda que antes de simplesmente demitir e fazer substituições apressadas em funções técnicas ou mesmo cargos (aparentemente) políticos, haja uma fase de saber ver / ouvir, separar informações falsas - geralmente "plantadas" por pessoas invejosas e frustradas - em relação aos que, realmente, desejam colaborar. Afinal, nada mais desgastante a uma nova administração, que começar a trabalhar em clima de terror, medo, ódio e suspense. Tensões afloram, a produtividade cai e a oposição cresce. xxx O próprio governador Roberto Requião, pessoa inteligente e que, ao contrário do que dizem seus inimigos, tem muita diplomacia quando necessário, teve o bom senso de, poucas horas após ser declarado vencedor das eleições, numa de suas primeiras entrevistas, ter tranqüilizado o funcionalismo ao garantir que não estava preocupado, demagogicamente, em fazer demissões inúteis.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
19/03/1991

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