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Aramis

Graças a Patrícia, um espaço para a boa MPB

Há muito tempo que Curitiba está fora do circuito de uma importante faixa de criadores da música popular brasileira. São compositores, instrumentistas e intérpretes que não atingindo o patamar de superstars não têm cacife, naturalmente, para pretender os auditórios da Fundação Teatro Guaíra e, muito menos, shows em ginásios e estádios como descartáveis produtos de consumo pop conseguem. O Paiol foi, durante muitos anos, um espaço para gente de talento da MPB que aqui encontrava de parte da Fundação Cultural apoio para suas temporadas. Foi uma época em que semanalmente se revezavam naquele teatro artistas, com propostas musicais definidas e que se integravam a um público específico. Por outro lado, o Projeto Pixinguinha, em seus três primeiros anos de existência (1976/78), também incluía Curitiba e trazia, em espetáculos com ingressos e preços populares (Cz$ 10,00), shows marcantes e inesquecíveis. xxx Infelizmente esta época passou! O Projeto Pixinguinha foi redimensionado para atingir outras cidades e Curitiba, por falta de interesse dos donos do poder cultural, acabou riscada do mapa da programação deste programa idealizado por Herminio Bello de Carvalho e que há 12 anos cumpre uma grande função nacional. O Paiol é uma crônica de lamentações e tristezas. Há muitos anos - especialmente desde que o poder peemedebista se instalou na Fundação começou a sua decadência. Em nome de uma "deselitização" (sic), a programação do paiol foi sendo esvaziada e cada vez mais se afastaram possibilidades de ali se apresentarem nomes de prestígio da MPB - não pela condição de stars, mas pelo nível cultural. E por mais méritos que os artistas paranaenses que ali têm utilizado o espaço possam apresentar, o amadorismo ainda é gritante. E quando acontecem temporadas de músicos ou cantores vindos de outros estados - com raríssimas exceções (o Pau Brasil, por exemplo), têm ocorrido fatos lamentáveis. Como a temporada de Geraldo Flach, pianista e compositor gaúcho de maior competência, obrigado a cancelar duas de suas três apresentações pela absoluta falta de público. Luisinho Eça, 53 anos, criador do Tamba Trio, nome maior da Bossa Nova, em sua última temporada no Paiol, amargou a maior decepção saindo daqui com a firme disposição de nunca mais retornar, ao menos no Paiol - local em que, anteriormente, por três vezes havia feito temporadas de sucesso. Mas a época era outra... xxx Assim, frente ao deserto musical que se abriu em Curitiba em termos de estímulo e espaço para tanta gente de valor, especialmente do eixo Rio-São Paulo, interessada em aqui permutar o seu talento, é de seu louvar a possibilidade que a garra e entusiasmo de uma jovem executiva da área cultural tenta abrir nesta faixa. Patrícia Deffes, braço-direito de Domicio Pedroso no escritório local da Funarte, está empenhadíssima em fazer do teatro Sesc da Esquina um local para que pelo menos alguns dos muitos nomes da MPB que, nestes últimos anos têm se mantido longe de Curitiba, aqui retornem. Começou nesta semana, com as duas apresentações do show "Ninguém é Um" (hoje, 20 horas, segunda e última apresentação), com os irmãos Jean e Paulo Garfunkel, mais o instrumentista Prata. Se os dias encontrados para este show - início de semana - não foram os ideais, Patrícia compensou com uma explêndida organização: providenciou filipetas para atrair a faixa estudantil, empenhou-se na divulgação junto aos veículos de comunicação e, desde domingo à noite, quando os irmãos Garfunkel e Prata chegaram, um exaustivo - mas eficiente - esquema de entrevistas está sendo cumprido. Visitas aos jornais e rádios, gravações de programas de televisão, enfim, cobrindo todos os meios possíveis para divulgar não só o show "Ninguém é Um", mas o trabalho musical dos irmãos Garfunkel, que, no ano passado, tiveram editado o primeiro elepê ("Trocando Figuras", Copacabana, projeto "Bom Tempo"). Patrícia, com o vigor e idealismo de quem deseja realizar um bom trabalho, quer fazer com que o Sesc da Esquina, em colaboração com a Funarte, torne-se um endereço importante para a MPB. Há muita gente de talento para aqui se apresentar e a próxima atração já está acertada: o Quinteto Violado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
24/06/1987

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