Login do usuário

Aramis

Graceland, um mergulho africano de Paul Simon

Premiado com vários troféus, destaque em categorias do "Grammy", campeão em vendas, "Graceland" de Paul Simon finalmente sai no Brasil em lançamento WEA. Mais uma demosntração da nova preocupação dos superstars da música jovem - o africanismo - "graceland" tem suas raízes na África do Sul, através do som & dos músicos que influenciaram, nestes últimos meses, a Simon, conhecido como parceiro de Art Garfunkel (juntos fizeram êxitos como "Mrs. Robinson" e "The Sounds of Silence" Nichols), mas hoje em carreira solo. A preocupação de Simon é universalista, através da música. Como ele mesmo diz: - O mundo é pequeno. Não se questiona mais se outras culturas influenciam este país. O que nos perguntamos agora é como isso acontece. Uma das coisas mais importantes e interessantes que um artista pode fazer é tentar estabelecer uma ponte entre estas diferentes culturas. A música faz isso melhor do que as demais formas de comunicação e é sobre este pilar que 'Graceland' foi concebido". O trabalho de "Graceland" durou aproximadamente três anos. Embora não pretenda ser um estudo sonoro sobre a cultura de um povo, a autenticidade está presente em cada uma das faixas. "Nele - diz Simon - a música é tão africana quanto americana. E, mais importante que tudo, este disco é uma celebração da irmandade entre os homens". Simon tem um interesse especial não apenas na música de diferentes culturas, mas também na forma como estas músicas podem entrar dentro dos padrões pop. Os ecos andinos de "El Condor Passa", o júbilo "gospel" de "Love Me Like A Rock" e o traço reggae de "Mother and Child Reunion" são alguns exemplos de como ele tem utilizado as diversas correntes musicais de várias partes do mundo para alargar seus horizontes, criando, durante o processo, sucessos consagrados. Tudo começou - diz Paul - quando, no verão de 1984, um amigo seu deu de presente uma fita cassete intitulada "Accodion Jive Hits, Volume II". A música era fascinante: acordeon, bateria, baixo e guitarra, criando sonoridades primitivas mas com um traço bastante moderno e, de certa forma, familiares. Encantado com o que ouvia ("era algo diferente, feliz e mágico mas ao mesmo tempo melódica e estruturalmente diferente de qualquer coisa que já tivesse estudado antes"), Simon se uniu a um produtor fonográfico da África do Sul, Hilton Rosenthal, conhecido por seu trabalho com "Juluka", um dos grupos mais populares daquele país e um dos primeiros a se integrar no cenário internacional. Simon conheceu outros artistas africanos e, em Joannesburgo, no final de 1984 e princípios de 1985, começou a gravar com alguns dos artistas cuja música o havia impressionado. Entre os artistas que participaram das primeiras gravações estavam os Boyoyo Boys, cuja música gumboots havia atraído inicialmente sua atenção: Tao E a Matesha, General M. D. Sherinda e The Gaza Sister, além de uma banda de Soweto chamada Stimella. Dois artistas sul-africanos fizeram a base instrumental - o guitarrista Ray Phiri e o baixista Baghiti Khumalo, que em princípios de 1986, junto com o baterista Isaac Mtshali vieram a Nova Iorque para completar as gravações. Paul criou letras em cima das bases existentes, desenvolvendo assim um estruturado processo de composição ("Embora a música possuísse um ritmo e eu tivesse em mente um disco dançante, não queria fazer letras desprovidas de sentido"). Embora negue ser um compositor político, Simon admite que "implicitamente há política em tudo aquilo que compõe". E explica: - É claro que este não é um disco sul-africano. Minha casa não é lá. Mas minhas experiências no País refletiram-se nele naturalmente. A África do Sul é um lugar que tanto pode nos conduzir ao apocalipse como ao século 21. Um instrumento de forte presença na música Sul-Africana - e que Simon conservou em "Graceland" é o acordeon. Tanto é que para a gravação da faixa "That Was Your Mother" recorreu a um legendário acordeonista da Louisiana, Good Rock'N Dopsie. Já em outra faixa, "All Around The World Of The Myth of the Fingeprints" houve a participação do grupo Los Angeles. A faixa-título, "Graceland", com a participação dos Everly Brhthers, significa "uma ligação definida com meu passado" diz Simon. Outra participação especial: Linda Ronsdadt, que faz dueto em "Under African Skies". Parte da música fala sobre a infância de Linda em Tucson ("Queria que ela fosse capaz de falar sobre sua própria vida ao cantar, ao invés de apenas fazer uma sessão de estúdio"). O mais notável sobre "Under African Skies" é o fato de que a outra metade da letra é dedicada a Joseph Sabalala, líder do mais conhecido conjunto sul-africano - o Ladysmith, que forneceu inspiração para outra forte faixa do LP ("Homeless"). Um disco extremamente pessoal, que mesmo não tendo a conotação de denúcncia do appartheid, impressiona pela qualidade com que foi concebido. Um disco que, como diz Simon, é repleto de novas dimensões, intrincado, convidativo e cheio de prazeres que se revelam passo a passo - e que pode mesmo ser considerado uma celebração.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
08/02/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br