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As gravuras de Tomie, a grande dama da arte

Waldir Simões de Assis com o seu mais dentifrício sorriso, por dupla razão: Flavia, sua bela esposa, deu a luz um casal de gêmeos, e, ao mesmo tempo, a próxima individual de sua galeria será com obras de uma das mais valorizadas artistas brasileiras - a nipo-brasileira Tomie Ohtake. Dezesseis gravuras em metal com dimensões de 7 x 100, no valor de Cz$ 19 mil cada, estarão em sua galeria (Rua Duque de Caxias, 511), para um público especial. Afinal, Tomie é hoje a grande Dama da Pintura no Brasil e seus óleos são praticamente inacessíveis as pessoas físicas a não ser um seleto grupo de bilionários), valendo de 7 a 16 mil dólares cada. - Assim - diz Waldir - as gravuras representam uma opção de se ter uma Tomie Ohtake em sua coleção. Como conta Humberto Werneck, em belo texto no "Guia das Artes Plásticas" (número 8, Cz$ 120,00), Tomie, aos 74 anos, não pára: depois da grande retrospectiva de sua obra no Museu de Arte de São Paulo, voltou a expor no Rio (desde o dia 15 de outubro, galeria Thomas Cohn), cidade na qual não fazia individuais há 11 anos. As gravuras são recentes em suas obras. Segundo Werneck, começou a fazer gravuras em metal há pouco e, na diversificação de sua arte, em agosto passado, pela primeira vez criou e expôs um tapete, ao lado de outros estreantes, como Cláudio Tozzi e Guto Lacaz. Há 3 anos, assinou um painel de 1.400 metros no dorso de um edifício no centro de São Paulo. Pela mesma época, entre um sushi e outro, surpreendeu e encantou o marchand Paulo Figueiredo com a idéia de criar uma enorme escultura de concreto, "uma tampa de lata de sardinha meio levantada", para adornar a piscina de sua galeria. Depois, pôs para boiar uma estrela metálica de 20 metros de diâmetro na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, debaixo de alguns narizes torcidos. "Um dos lados mais fascinantes do talento de Tomie Ohtake é a coragem - chama atenção Paulo Figueiredo, acrescentando: - Ela adora experimentar. xxx Japonesa de Kyoto, Tomie veio para o Brasil há 51 anos para visitar um irmão instalado em São Paulo. Tinha então 23 anos. Veio com outro irmão para passar seis meses, mas o clima de instabilidade que antecedeu a II Guerra Mundial acabou subvertendo seus planos. Foi ficando, casou-se com o engenheiro agrônomo Ushio Ohtake (com quem viveria até 1961), teve dois filhos - os arquitetos Rui e Ricardo. A pintura só entrou em sua vida quando tinha 38 anos e esteve em São Paulo um celebrado pintor japonês, Keisuke Sugano. Resolveu procurá-lo, animada com o fato de que não precisaria falar português - (língua que, décadas depois, brasileira naturalizada, ainda fala com dificuldade). Bem recebida, tomou cinco ou seis aulas com Sugano. - Meu primeiro quadro, lembra, foi um ramo de flores. Numa evolução rapidíssima, o figurativo já se havia apagado das suas telas em 1975, ano de sua primeira individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Nunca houve recaída: - O abstrato é mais adequado para expressar o interno - explica. Com o tempo, as forma geométricas se tornariam cada vez mais definidas, num processo onde a palavra-chave é simplicidade. Para o crítico Olivio Tavares de Araujo - que assina o texto do catálogo da mostra de suas gravuras - o que mais impressiona na obra de Tomie é "a inteligência com que ela resolve um determinado espaço". Olivio detecta aí um provável atavismo japonês: "Lembrei-me muito da Tomie vendo a perfeita arrumação geométrica das caixinhas de doce de Kyoto". Como conta Humberto Werneck, Tomie não consegue atender o apetite de mercado, onde seus quadros alcançam preços entre 7 e 16 mil dólares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/11/1987

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