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Guaíra discrimina público do teatro

A diretoria da Fundação Teatro Guaíra desperdiçou uma excelente oportunidade de cumprir um dos itens mais alardeados na demagógica campanha do PMDB para conquistar o poder - e, curiosamente, oficializou a mais antipática medida tomada pelo ex-diretor administrativo daquela Fundação. A idéia de separar a entrada dos espectadores que adquirem ingressos para o 2' balcão, fazendo uma portaria lateral, pode ter seus defensores - ao que consta, até no projeto original do grande auditório, feito pelo arquiteto Rubens Meister há mais de 30 anos, estaria previsto. Entretanto, não deixa de ser antipático, antidemocrático, quase um fascismo econômico, tal discriminação. O advogado Mário José Otto, bom administrador, funcionário do Tribunal de Contas do Estado, e que foi diretor administrativo da PTO durante quase três anos, viu apenas os aspectos práticos, já que não sendo um homem da área artística, jamais se sensibilizou pelos aspectos humanos de discriminar os que não podem pagar os altos preços cobrados para a platéia e primeiro balcão. Entretanto, embora tenha sido instalado na administração anterior a antipática porta de ferro no lado direito do hall -vedando o acesso aos que ocupam o 2' balcão a entrada do teatro - a medida de discriminar os espectadores foi adiada o máximo possível - só sendo utilizada na temporada de estréia de "O Grande Circo Místico", em março último - já na administração José Richa, mas quando os novos diretores da FTO ainda não haviam tomado posse. e.. Seria de se esperar de urna diretoria "integrada" a um governo que se diz democrático, "preocupado" cm popularizar a cultura e que vive acusando administrações anteriores de "elitistas", que a primeira providência fosse mandar arrancar a porta de ferro, já que desde janeiro de 1975 - quando o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto começou a funcionar - o ingresso para a platéia e os dois balcões era feito pela porta principal A alegação (discutível) para discriminar os espectadores do 2' balcão, fazendo-os entrar por uma porta lateral, com lances de escadas bem mais íngremes do que a do hall central, é(ra) de que se registraram casos em que espectadores menos educados, após o início de certos espetáculos, tentaram entrar na platéia. Acontece que a Fundação Teatro Guaíra tem dezenas de indicadoras de lugares, que permanecem nas portas de cada acesso, conferindo os ingressos e indicando, gentilmente, os lugares. Ora, se um espectador com bilhete para o 2' balcão tentar entrar no 1' balcão ou na platéia, deve ser, educadamente, encaminhado ao seu lugar correto. Se insistir - e fala-se que houve um caso de violência nos últimos anos, quando uma indicadora (Srta. Marli) chegou a ser agredida fisicamente por um jovem barbudo (possivelmente drogado) - então cabe a segurança do Teatro providenciar a expulsão do espectador mal educado -conduzindo-o, se for o caso, à polícia. Afinal, a folh;1 de pagamento incluí milhões pagos mensalmente aos homens da segurança - além do Teatro poder solicitar, quando necessário, reforços da Polícia Militar. e.. Soluções existem e não há necessidade de medidas discriminatórias como a que foi implantada pela atual diretoria - oficializando a péssima idéia que os antecessores tiveram. Se os homens da "democracia participativa" falam tanto em povo e criticam o passado "elitista", é estranho - muito estranho - que desprezem (e temam) as pessoas de menor poder aquisitivo e que, nestes tempos bicudos, procuram adquirir os ingressos mais baratos, do 2' balcão. e.. Um outro - e gravíssimo - problema da Fundação Teatro Guaíra é a inexistência de elevadores. No projeto origina' se previam três elevadores, mas na construção os fossos foram fechados com lajes de concreto, tornando impossível hoje tal instalação. A culpa, portanto, não é dos atuais diretores, mas cabe a eles encontrar urna solução. Da forma como está, até mesmo a platéia torna-se' proibida a pessoas idosas, cardíacos e com outros problemas que proíbem o esforço de subir escadas. Até mesmo para os deficientes físicos, cm cadeiras de rodas, o acesso é difícil (obriga a abertura das portas laterais, que possuem rampas). Conforto aos espectadores é também um ato democrático - pena que os senhores que dirigem a Fundação Teatro Guaíra não tenham tido, até agora, esta preocupação. Prosseguindo numa falha que se arrasta há muitos anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
12
24/09/1983

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