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Aramis

A Guerra do Pente em exibição no Cine Groff

A partir de amanhã, em 5 sessões, o cine Groff estará exibindo uma produção curitibana: "A Guerra do Pente - O Dia em que Curitiba Explodiu", semi-documentário de Nivaldo Lopes (Palito). Partindo de fatos reais - o quebra-quebra ocorrido em dezembro de 1959, no centro da cidade - Palito construiu um filme interessante, com linguagem não convencional e que ao lado do idealismo de sua realização serve também para denunciar um fato que inúmeras vezes aqui levantamos: a falta de documentação de nossa história contemporânea. Apesar da repercussão dos fatos de 27 anos passados - inclusive com cobertura de veículos internacionais - Palito não localizou um único fonograma do quebra-quebra. Claro que na época ainda inexistia a televisão em Curitiba (só em 1960, o sr. Nagib Chede inauguraria a TV Paranaense), mas, em compensação, havia atuantes cine-jornais, como a Flamma Filmes, além de cinegrafistas atentos, como o pioneiro Eugênio Felix ou o jovem Bob (ainda hoje em ação, na equipe do Palácio Iguaçu). Será que ninguém teve a idéia de documentar os protestos populares, os quebra-quebras das lojas de propriedades dos árabes - tudo provocado por uma prosaica briga entre um militar e um comerciante, que se recusou a fornecer uma nota fiscal? Mesmo em cobertura fotográfica, Nivaldo Lopes só encontrou bom material nas páginas de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, além de algumas manchetes da edição regional da "Última Hora". Dentro da liberdade de criação, Palito montou outras cenas - inclusive feitas em redação - mas rodadas em jornal que na época não existia. Não se pode, em absoluto, pretender de "A Guerra do Pente" um filme documental, preciso. Se assim quisesse, poderia ter realizado um curta de 10 ou 12 minutos, didático e explicativo - e que teria condições de comercialização bem mais facilitadas do que um filme de 70 minutos, como o seu (e que será apresentado tendo como complemento o curta "Janelas", já elogiado num dos festivais de Brasília). Irreverente, partidário de uma linguagem fragmentada - o que demonstrou já em seus 7 curtas e médias metragens rodados em super-8 (dois dos quais baseado em contos do mineiro Roberto Drummond), Palito intercalou a sua própria participação na realização do filme - bate-papo com a equipe, conversas informais em bares da cidade e um longo depoimento auto-explicativo final - com a encenação de alguns episódios, inclusive da briga-pivô do conflito. De outro lado, há os depoimentos dos comerciantes libaneses que provocaram a confusão - Ahmad Nazar e Fuad Youssef Omairy - do general Iberê de Mattos, que era prefeito na época, do jornalista Walmor Mercelino, repórter policial do "Diário do Paraná" em 1959, e especialmente, do cineasta e pesquisador Valêncio Xavier, autor da reportagem "O Dia em que Curitiba Explodiu", publicada na revista "Panorama" há 2 anos, e que motivou Palito a realizar o filme. Em sua linguagem descontraída, sem meias-verdades, Valêncio abre e encerra o filme - dando um toque de humor ao depoimento. Atores e atrizes como Emílio Pita (gritando muito, no papel de delegado), Luís Mello, Rosa Maria Caviassin, Paulo Friebe, Ana Denruczuk, Marcelo Diepce e José Dyabat, entre outros, participaram das filmagens, todos trabalhando de graça, já que a produção foi das mais pobres - tendo um amigo de Palito, o empresário Dirceu Mendes de Brito, investido cerca de Cz$ 60 mil para custear as despesas de filme virgem e laboratório. A montagem de Pedro Merege Filho é interessante, aproveitando bem o material reunido. Pode parecer estranho que, entre os depoimentos, apareça o do advogado Luís Felipe Mussi, secretário da Segurança Pública na época (1985) da rodagem do filme, mas que, por sua pouca idade, não teve qualquer relação com os fatos ocorridos em 1959. Acontece que Mussi foi uma das poucas autoridades a dar mão forte a Palito, enfrentando inclusive a irritação de alguns oficiais da Polícia Militar que, contrários à realização do filme - e tentando exercer uma censura indireta - tudo fizeram para prejudicar as filmagens. Mussi, ao contrário, deu apoio logístico e cedeu, inclusive, uma sucata (um veículo da Polícia Civil), para ser incendiada e destruída numa das seqüências. Uma atitude simpática e bonita, que ajudou a realização de um semi-documentário que, realizado com toda dificuldade, se propõe a rediscutir a explosão da fúria popular, a mostrar o comportamento e a situação que, a qualquer momento pode se repetir. Haja vista a (justa) ira de quem flagra comerciantes adulterando preços após o congelamento. Se Curitiba explodiu nas vésperas do Natal de 1959, nada impede que possa explodir novamente. Só que se isto acontecesse, seria ao menos mais documentada do que no quebra-quebra do final dos anos 50.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
5
20/04/1986

saudações aos idealizadores deste filme. na época do lançamento (1986) eu passei em fte. ao cinema e vi, para minha surpresa, no cartaz, meu pai ainda bem jovem, sendo carregado por dois policiais, e, chegando em casa descobri que ele fora protagonista deste episódio da história curitibana, sendo assim gostaria, na medida do possível que vcs. dispusessem de um cartaz para que eu e meus familiares (netos e bisnetos) tivessemos esta lembrança de enorme valor valor afetivo para nós familiares. desde já agradeço a sua atenção.

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