A harmonia na música dos anos 90
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de maio de 1986
No pacote da música dos anos 90, que a WEA vem descarregando no Brasil há surpresas agradáveis. Entre tanto rock pauleira e sons estridentes, quando ouve-se trabalhos harmônicos e vocais a satisfação é grande. Três exemplos.
STRAWBERRY SWITCHBLADE ("Canivete de Morango"), duo formado pelas cantoras/guitarristas de Glasgow, Escócia, Jill Bryson e Rose McDowall. Até 1981 somente compunham, mas influenciadas pelo Velvet Underground desenvolveram alguma técnica na guitarra e aí estão com um trabalho interessante, no mínimo.
Pequenas, frágeis, mas de visual marcante, compõem músicas que chocam a suavidade melódica com uma absoluta dureza das letras. Da mesma forma que as estranhas irmãs de tragédia shakespeareana "MacBeth" (cuja ação se passa na Escócia), Jill e Rose parecem emergir diretamente das lendas célticas. Suas baladas são cantadas com vozes tão harmônicas que lembram as do Mamas and Papas dos anos 60. O primeiro êxito do Strawberry Switchblade foi "Trees and Flowers" nos quais falavam sobre agrofobia. Agora, num lp de dez faixas - editado na Inglaterra no ano passado - trazem ao menos três músicas que merecem que se preste atenção: "Let Her Go", "Who Knows What Love Is?" e "Since Yesterday".
BILLY MACKENZIE, vocalista e líder do Associates, faz com que também se preste atenção no lp "Perhaps", novo disco deste conjunto. A música "Breakfast" no qual se destaca o vocal de Mackenzie mostra um novo estilo e substância e mostra intenções deste grupo que estava afastado do público há algum tempo. Numa primeira fase, os Associates fizeram quatro Lps ("The Affectionate Punch", "Fourth Drawer Down", "Sulk" e uma reedição do primeiro), antes do grupo se desfazer. Agora, com uma nova formação - Billy nos vocais, Stephen Reid na guitarra, Ian Mackintosh na segunda guitarra, L. Howard Hughes (nem um parentesco com o lendário bilionário) nos teclados e Robert Soave no baixo - retornam com dez faixas, incluindo momentos harmoniosos como "Those First Impressions", "Waiting For The Loverboat", "Thirteen Feelings" e "Helicopter Helicopter".
SIMPLY RED é outra banda, esta inglesa, que conseguiu desenvolver um som moderno e pessoal, que apesar de ter raízes na soul music, não ficou restrito à esse estilo. Embora influências de New Orleans, Memphis, Detroit e Filadélfia tenham se infiltrado na cultura pop britânica, desde Cliff Richards, "na verdade somos um produto de nossas próprias raízes culturais", explica Mike ("Red") Hucknall, compositor e vocalista da banda. O Simply Red veio de Manchester, cuja situação econômica difícil influenciou na escolha da música para o primeiro compacto "Money's Too Tight (to Mention)".
A banda é formada além de Mick por Tony Bowers (baixo) e Chris Joyce (bateria), ambos egressos da "Durutii Column"; Fritz McIntyre (teclados), Sylvan Richardson (guitarra) e Tim Kellet (trumpete/teclados).
Uma das preocupações do Simply Red é válida: combinar letras inteligentes com melodias influenciadas pelo Soul. Um exemplo é "Come To My Aid" ou "Heaven".
LEGENDA FOTO 1 - Duo harmonioso.
LEGENDA FOTO 2 - Simply Red: letras inteligentes no Soul.
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