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Aramis

Homenagem aos veteranos trouxe emoções à festa

O profundo respeito aos veteranos no cinema, traduzido em múltiplas e belíssimas homenagens que marcaram, com emoção, as três horas da 58ª edição da festa do Oscar, na noite de segunda-feira, 24, não chegaram, entretanto, a influir no resultado final. Favoritos em termos emocionais, John Huston, 79 anos, e Akira Kurosawa, 76 anos, acabaram sem o Oscar de melhor direção - chamados ao palco, no final para ao lado de outro veteraníssimo, o austríaco-americano Billy Wilder, 80 anos, anunciar o vencedor: Sidney Pollack, 52 anos, apenas 20 de cinema, que levou o prêmio de melhor diretor - um dos 7 conquistados por "Entre Dois Amores", também o melhor filme, afinal o grande vencedor deste ano - já que "A Cor Púrpura" de Steven Spielberg que também havia tido 11 indicações, acabou sem nenhuma estatueta. Se um lado a Academia de Artes e Ciências Cinematrográficas de Hollywood abre a fabulosa audiência de um bilhão de espectadores em mais de 50 países para que novas caras do cinema americano apareçam com destaque, este ano o presidente da instituição, Robert Wise, 72 anos, cujos filmes já tiveram 61 indicações (e obtiveram 19 Oscars, inclusive dois de melhor direção: "Amor Sublime Amor", 61; "A Noviça Rebelde", 1965) deve ter preocupado-se para que a festa tratasse com destaque aos veteranos. Das homenagens previamente planejadas - como a outorga do Jean Hersholt Humanitarian Award a Charles "Buddy" Rogers, 81 anos (ator nos anos 20, mais famoso como marido de Mary Pickford, "a namorada da América") - até a premiação a Don Ameche, 77 anos, como melhor coadjuvante por "Cocoon", os velhinhos tiveram sua merecida hora na festa maior do cinema americano. Por exemplo, fascinante foi o revival aos musicais da MGM, numa espécie de "That's Entertainment", com a seqüência de clássicos filmusicais dos anos 40/50, seguindo-se ao desfile das próprias atrizes, mostrando que ainda estão em razoável forma, dançando e cantando no palco, ao lado de Howard Keel, 69 anos, Paul Newman, 61 anos, 4 vezes indicado (e preterido) na escolha dos Oscars, desta vez não se abalou a sequer comparecer ao Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles para receber o Oscar especial. Como está em Chicago, fazendo "The Colour of Money" (uma continuação de Desafio à Corrupção/The Hustler", que em 1961 já lhe havia valido a segunda indicação ao Oscar, quando perdeu para Maximilian Schell, por "Julgamento em Nuremberg") a presença de Newman foi discretamente através de uma transmissão via satélite. Outra homenagem especial foi ao compositor Alex North, 75 anos, autor de mais de 30 grandes trilhas para o cinema, 15 vezes indicado e nunca premiado - e que recebeu o troféu das mãos de Quincy Jones, que de laureado compositor se lançou agora também como produtor "The Color Purple". Aliás, a púrpura não deu sorte no Arco Íris do Oscar: Spielberg não conseguiu nenhuma estatueta (e nem sua indicação a direção), apesar das 11 nominations, e Woody Allen, rifado pela Academia desde que, há 8 anos, se recusou a ir na festa (quando foi premiado por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa") só ganhou uma indicação a roteiro original de seu excelente "A Rosa Púrpura do Cairo", mas o troféu acabou indo para Earl Wallace/William Kelley, de "A Testemunha" - filme que, no final, acabou tendo também a premiação de montagem (Thom Noble). Se na categoria de trilhas sonoras havia bonitas sound track concorrendo - (Georges Delerue, por "Agnes de Deus"; Bruce Broughton, que Silverado; Maurice Jarre, por "A Testemunha") e a premiação foi merecida a John Barry ("Entre Dois Amores"), na categoria de canção original repetiu-se o que vem se observando nos últimos anos: mediocridade total. A premiada "Say You, Say Me" de Lionel Richie (uma das duas indicações da trilha de "Sol da Meia Noite") foi a menos ruim, numa disputa em que entrou até um rock ("Power of Love", de "De Volta Para o Futuro"), indigno de figurar até numa competição de pseudo-roqueiros da Vila Hauer. A justiça maior foi feita com Geraldine Page, 62 anos, 33 de cinema, que já havia sido indicada 7 vezes ao Oscar (4 como atriz coadjuvante; 3 como principal) e que agora, finalmente, com "The Trip to Bountiful" (filme sem previsão de exibição no Brasil) finalmente levou o boneco. Por certo, os aplausos em pé, do público, foram o reconhecimento a uma grande atriz, reverenciada em seus méritos. Merryl Streep (2 Oscars), Anne Bancroft, Jessica Lange e a estreante Whoopi Goldberg, poderiam até merecer a premiação, mas Geraldine merecia muito mais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
26/03/1986

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