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Aramis

Humor de Henfil, na teoria e na prática

Os editores descobriram o óbvio : há uma imensa faixa de público que deseja ler mas não dispõe nem tempo, nem dinheiro, para efrentar volumes grossos e caros. Assim, a leitura macetosa, com temas de interesse - mas que cobrem os mais diversos campos - em livros de bolso preenchem um espaço natural. Portáteis, econômico, descartáveis, podem ser lidos no ônibus, na fila, numa folga no trabalho etc. A Brasiliense, astutamente, deita e rola neste markenting, com séries das mais bem sucedidas ( " Tudo é História " , " Encanto Radical", " Primeiros Passos", Qual É " etc. ) A Tchê, editora "Esses Gaúchos ", minibiografias que agora começarão a aparecerem nas livrarias de Curitiba graças a Ciar, de Roberto Gomes, que asumiu a sua distribuição. A vozes, editora que procura se atualmente, criou a coleção " Fazer ". que começou com o estudo do coordenador da série, Herbert José de Souza ( o famoso irmão de Henfil, ex-exilado politico citado por Aldir Blanc / João Bosco em "Bêbado e o Equilibrista"), falando sobre " Análise da Conjuntura " e nos títulos seguintes, deu as dicas para "sobreviver com um salário mínimo " ( Ana Lagôa ), fazer uma Comunidade Eclestal de Bases ( Dom Luís Fernandes ), cuidar de bebês de zero a um ano ( Maria Thereza Maldonado ), trabalhar com o povo ( Clodovis Boff ),fazer a luta dos bairros ( Jó Rezende ) e fazer humor politico - este, com Henfil falando ao jornalista Tark de Souza, não só o principal jornalista musical do Brasil, mas um grande entrevistador e amigo particularíssimo do criador dos trabalhos. A coleção prosseguirá com livros de Regina Festa sobre a montagem da informação; Sonia Guimarães a propósito da Indústria do Vestibular; Rubens de Azevedo Lima contando "como se faz um Presidente da República"; Herman Baeta ebsinando como defender os seus direitos; Renê Dreifuss alertando como se faz um golpe de Estado e Amélia Moreira lembrando como se faz a luta no campo. A vozes quer sugestões para novos títulos desta coleção, desenvolvida em colboração com i Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicos. A quem deverão serem encaminhadas as cartas ( Rua Vicente de Souza,29, CEP 2225 - Botafogo-RJ ). xxx " Como se faz Humor Politico " são 89 páginas deliciosas com depoimento de Henfil a Tárik de Souza. Nada melhor do que trancrever o próprio texto de Tárik para sentir-se a gostosura que é este livro, de leitura mais do que recomendável. Diferente de hiena, homem é o animal que ri ( tirante as cócegas ) por um processo intelectual de analogia ou discrepância com a situação apresentada. A partir dessas hípóteses básicas,o humor vai se solfisticando. Rindo castigam-se os costumes. Mas como separar desta prática,essencialmente anárquica, algo hierarquizado sob a demonstração de humor politico? Existe esse tal, ou todo humorista - como qualquer artista que se preze - faz politica até a revelia ? Pode um senhor do partido nazista produzir humor esquedizante ? E a Censura, trava mesmo, ou propulsiona a graça ? Uma piada é capaz de acabar com a Roberta Close ? Até que ponto o humorista controla sua criatura franksteiniana ? Essas e outras indagações perfunctórias ( ui! ) engrossam o caldo dessa receita de aprendiz de feiticeiro, repleta de contra-indicações. Henfil, que dá as cartas com 20 anos de experiência, adverte inclusive aos incantos : o feitiço geralmente volta-se contra o bruxo ( e não está citando o exemplo de Golbery e seu agigantado SNI).Mais: passarinho que come pedra, sabe o que lhe advém ( também não se refere ao homônimo ministro ), conforme lições que, de pai pra filho, desde o Barão de Itararé, humor vem passando a seus esgrimistas. Em guarda ( epa ! ), pois, Touchê, mon general ! ( Generais Foods e Motors também incluídos ) Todos juntos agora : Há! Há! Há! Há! Há! xxx De um lado temos Henfil falando de seu humor politico, no depoimento a Tárik de Souza. De outro, temos tríplice reedição deste humorista tão importânte : pela quinta vez volta com seus fradins, discultidos e irreverentes personagens. Ao mesmo tempo, temas a 15º edição ( uma médida de três por ano ) de "Heinfil na China", desta vez com nova capa ( do próprio Henfil ) e a 2º edição do "Diretas Já", que após esgotar os primeiros 25 mil exemplares, agora tem novo título : " Isto Era ". Os livros custam respectivamente, Cr$ 19.900 e Cr$ 7.900. Por quatro vezes os fradins se retiraram de cena no auge de suas carreiras, quando já se haviam tornado assunto obrigatório nas patotas intelectuais,de Nova Iguaçu ao Baixo Leblon, quando todos discutiam suas irrever6encias, suas atitudes chocantes e escandalosas, A explicação do próprio Henfil ! para esses sumiços é a de que Cumprido representa a ordem estabelecida enquanto o Baixim é o maior quebrado de tabus do mundo.Assim, acostumando-se a eles, ao sistema. Por isso, ele precisa desaparecer de vez em quando para que após um periodo de aceitação plácida e morna do que nos é imposta pelo sistema, as pessoas acordem sacudidas para a verdade das coisas. Henfil é sempre atual. E profundo em seu humor cáustico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Leitura
14/04/1985

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